Fotos: Renato Rocha Miranda, TV Globo "A vida inteira fui muito horrível nos esportes, nunca consegui jogar nada. Agora, chamei todos os atletas do time de ouro de comentaristas da Globo para me dar aula. Flávio do Canto (foto acima) me ensinou judô, Hortência me deu aula de basquete, gravo com a Daiane (dos Santos) uma aula de ginástica, depois aula de tênis. As pessoas gostam de me ver de novo na rua.” Fátima em apresentação de dança - Foto: Agnews Beatriz e Laura em registros no Instagram com a mãe Registro da família em 2012 no shopping - Foto: Agnews TV Globo, divulgação
É da sala de espera da dermatologista que Fátima Bernardes atende à reportagem de Donna pelo telefone no fim de uma sexta-feira. A entrevista, marcada para o meio daquela tarde, havia sido adiada em algumas horas por um motivo corriqueiro na vida de qualquer mãe: a jornalista precisava comprar roupas para o filho. Dali a alguns dias, pela primeira vez desde que os trigêmeos nasceram, há 18 anos, a família Bernardes-Bonner ficaria por mais de duas semanas distante. Desde o último 30 de abril, Beatriz, Laura e Vinícius embarcaram para um intercâmbio no Canadá para ficar 40 dias. Passarão até o
Dia das Mães longe. Mas Fátima contemporiza:
– Eles só vão ir ali e voltar logo. Ainda bem, né?
Desde a mudança do Jornal Nacional, quando dividia a bancada com o marido, William, para o comando do Encontro com Fátima Bernardes, em 2012, a apresentadora viu como efeito colateral do novo trabalho justamente a oportunidade de ter mais tempo com os filhos. Agora, Fátima celebra a chance de fazer aulas de dança com as garotas ou mesmo de acompanhar o telejornal em casa e jantar com o trio. Parecem fatos banais? Pois é, e são mesmo.
– Tem gente que imagina que quem trabalha na televisão não passa por tudo isso, que está sempre tudo pronto e resolvido, mas é igual. Eu faço de tudo. Como todo mundo faz, né? Eu e o William temos a vida tão igual à de todo mundo. A médico, sempre fui eu que levei as crianças; material escolar, sempre fui eu que comprei; reunião de escola, nós sempre fomos.... Mas entendo que as pessoas não imaginem isso. É natural que fantasiem com a minha vida de sonhos.
Na opinião de Fátima, 52 anos, esta imagem de glamour vem do fato de que, há quase três décadas, ela entra nos lares brasileiros “sempre maquiada, com roupa linda”, desde a época do Jornal da Globo (1989 a 1993), passando pelo Fantástico (1993 a 1996) e pelo Jornal Hoje (1996 a 1997) até a bancada do JN (de 1998 a 2011). Tanto convívio dá aos telespectadores muita intimidade com a apresentadora. Não há vez em que ela chegue sozinha a um evento sem que desconhecidos venham lhe perguntar onde está o marido ou, ainda, ofereçam em lojas terninhos que são “a cara dela”.
Comemorando mil programas Encontro exibidos, no fim de abril, Fátima revela que esta imagem informal, sim, a representa, tanto no estilo quanto na personalidade. Se no início do talk show a jornalista ainda precisava de mais tempo para se soltar – “Sair de um telejornal e ir fazer direto o que estou hoje fazendo não seria natural nem para mim nem para o público” –, agora está tão à vontade que se sente confortável para fazer qualquer coisa no palco, até acompanhar a coreografia de Anitta e virar assunto em toda a internet por conta disso.
– Em termos de repercussão, cada vez que eu danço é muito engraçado. (Com a Anitta) Aquilo foi um auê.
Nas páginas a seguir, Fátima avalia sua trajetória no programa matutino que leva seu nome, declara sua paixão pela dança, conta que tipo de mãe gosta de ser e revela seus cuidados de beleza.
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MIL ENCONTROS NA TV
“Uma coisa que o programa manteve (nas 1.000 edições) foi a essência de ter convidados famosos misturados a anônimos falando basicamente de assuntos que são comuns aos dois, independentemente da profissão que cada um tem. Era um conceito meu desde o início. Isso mudou quando passei a usar mais a plateia, que ficou mais ativa, mais participante. Há uma interação com o público tão grande que, hoje em dia, uns 40% das pautas vêm do próprio público, que escreve e nos sugere. E teve a minha mudança também. Não tinha como eu sair de um telejornal e ir fazer direto o que estou fazendo hoje. Seria superestranho para mim e para o público, não seria natural. Um passinho de cada vez, o público foi se acostumando a uma nova Fátima e eu fui me acostumando a um novo cenário. Era muito diferente estar em um palco. Talvez eu precisasse no início daquela proteção da arena, ter o público todo em volta de mim. Hoje já me sinto mais confortável no palco, com a plateia toda em frente.”
CONEXÃO COM O PÚBLICO
“Contamos muitas histórias e (defendemos) muitas causas também. É um programa que a gente procura falar muito de inclusão, de igualdade. Temas ligados a racismo e autismo, a gente trata bastante. Semana passada (em abril), a gente fez um programa sobre gêmeos, irmãos, relacionamentos de famílias grandes. Nossa, as pessoas adoraram falar disso. O que nos motivou foi a barriga solidária de uma mulher que engravidou porque a irmã dela tinha tido um câncer aos 25 anos e não poderia engravidar. Foi um dos nossos programas mais comentados na Central de Atendimento ao Telespectador. As pessoas, quando escrevem para comentar o que viram, falam das histórias delas. E, às vezes, ali você pega um gancho para uma outra pauta, contar aquilo de outo jeito, em outro momento. Essa troca é muito interessante.”
O PROGRAMA MAIS DIFÍCIL
“Sempre que se fala no programa da morte de algum filho, para mim, é muito difícil. Tratar disso, com alguém da família, mesmo que tenha acontecido há muito tempo, é algo bem delicado. Desde o jornalismo, é o que mais me pegava. É muito contra a ordem natural falar da morte de um filho, entende? Uma vez, bem no início, conversei com um senhor que me marcou muito. Ele cuidava da mulher com Alzheimer. Ela gostava muito do abraço dele. Mesmo que ela não entendesse mais o que estava acontecendo, ele continuava abraçando a esposa. Me emocionou tanto que eu fui lá e pedi um abraço para ele.”
BOM HUMOR ATÉ NA QUEDA
“Uma vez eu estava jogando capoeira com o Rodrigo Simas. Esqueci completamente que estava de salto alto e entrei na brincadeira. Quando eu vi, pronto, já tinha dado uma girada. Quando tentei dar a segunda... Para que aquilo? Caí no chão. De salto, sentada. Você tem que ver. Olha. Se você botar em câmera lenta, vai ver que ele ficou mais assustado do que eu. Pode procurar na internet para você se divertir. Eu levantei rápido, mas foi bem engraçado.”
ENCONTROS COM O PÚBLICO
“Se eu não me divertir durante o programa, as pessoas não vão se divertir. Isso a gente vai aprendendo. Antes, eu queria muito proporcionar diversão ao convidado, ficava pensando muito nisso. Hoje, faço parte da brincadeira. É muito mais fácil para quem está em casa rir não de mim, mas rir comigo. É muito mais legal. Já consegui relaxar completamente em relação ao que alguém podia pensar ou não. Se eu estou achando bacana, divertido ou legal, preciso ser a primeira a acreditar naquilo, né?”
ENCONTROS COM A DANÇA
“Nunca imaginei que conciliaria jornalismo e dança. Acho que foi um facilitador. Lembro até hoje do primeiro dia que dancei no Encontro. Foi aquela música da Avenida Brasil em 2012, Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha, sabe? Fiquei lá atrás, pois eu achava que os convidados tinham que ficar na frente, e aquilo foi um auê. A dança para mim é muito natural, danço desde os sete anos. Percebi que quando eu dançava, eu também ficava relaxava. Então, dançar me ajudou a encontrar um lado que eu nunca tinha mostrado na TV. Hoje, tiro todo mundo para dançar, todo mundo me tira para dançar, é muito natural. Eu achava que isso me ajudava só na improvisação, mesmo quando era em relação a texto no telejornal, porque influenciava no autocontrole: você é obrigado a improvisar muito quando acontece alguma coisa no palco.”
"Em termos de repercussão, cada vez que eu danço é muito engraçado. É o lado leve do programa. Para a música da Anitta (Bang), realmente fiz a coreografia, ensaiei na véspera, correndo, olhei o clipe dela fazendo tutorial. Aquilo ali foi um auê.”
ENCONTRO COM A VIDA REAL
“Faço aula de dança segundas e quartas, das 19h às 21h. Terça e quinta, treino com personal trainer das 17h30min às 18h30min. Além disso, eu tenho o programa de manhã, depois que acaba fazemos as reuniões. Saio no meio da tarde do Projac. Tem que achar tempo para tudo, tem que dar. Agora mesmo estou conversando com você e chegando na dermatologista porque fui levar meu filho de tarde para comprar umas coisas, ele vai viajar para fazer um curso de um mês no Canadá, então estava precisando de roupa. Eu faço de tudo. É como todo mundo, né? Mas eu entendo que as pessoas imaginem isso. Essa vida maravilhosa, estar sempre maquiada, com uma roupa linda, as coisas estão sempre prontas, dá a impressão de que tudo está sempre resolvido, tudo chega sempre pronto pra mim. Fica uma coisa meio fantasiosa. É natural que fantasiem com a minha vida de sonhos.”
ENCONTRO COM A MATERNIDADE
“É a maior missão que se tem na vida. É uma sensação de plenitude e de alegria. Mas, no meu caso, pelo meu perfil, é de muita responsabilidade também. Nunca levei na flauta, sempre aproveitei o máximo que pude, mas sempre fui muito preocupada com tudo que eu estava fazendo, se estava no caminho certo, se eu estava realmente ajudando a criar três cidadãos de bem. É a missão mais difícil e meu maior compromisso na vida. (...) Eu nunca tive um filho só, então não sei ser mãe de um jeito diferente, só sei ser mãe desse jeito. Fui e sou o melhor que pude ser e sou desse jeito, não conheço outra maneira de exercer a maternidade. E também não teria outro jeito, pois eu precisava de um tratamento, então sempre soube dessa possibilidade de ser mãe de mais de um. Fazia parte do jogo.” (Fátima recorreu à reprodução assistida para engravidar; Laura, Vinicius e Beatriz nasceram prematuros, com 7 meses, no dia 21 de outubro de 1997)
ENCONTROS COM A FAMA
“Aqui no Rio, tem muito paparazzi, especialmente em shoppings. Isso, de certa forma, tira um pouco da liberdade, mas não tem como evitar. Desde cedo, tentei explicar para nossos filhos essa curiosidade, por mais que a gente achasse que nada do que a gente estava fazendo ali fosse de interesse de mais ninguém a não ser nosso. Isso é diferente do assédio do público, é muito mais gostoso quando alguém se aproxima, pede uma foto. Faço tranquilamente. Já o outro tipo (dos paparazzi), você está passeando com a sua filha, nem está bem vestida ou tão arrumada, tem que estar preocupada se sua imagem está de acordo. Mas acho que incomoda mais a eles (os filhos) do que a mim. Desde pequeninhos eles não entendem isso, porque nunca fizeram nada para serem famosos, para aparecer numa revista. Perguntavam muito: ‘Por que eles querem mostrar a gente?’. Tinha que tentar ir explicando aos poucos. Eu dizia assim: ‘O papai e a mamãe trabalham na televisão. Quando alguém aparece na TV, as outras pessoas gostam de dizer que os encontraram’. Talvez por isso nenhum deles vá seguir a nossa profissão, sempre viram como é o trabalho mesmo, ficou muito pouco do glamour. O público acha que é tudo muito glamouroso, mas, na verdade, é tudo muito trabalhoso. O glamour é aquele momento do ar. Mas tem muita ralação por trás. É duro o dia a dia. Eles perceberam isso muito claramente. Admiram e acham bacana, mas não é o que esperam da vida deles. Nenhum vai seguir o jornalismo. Vinícius quer Engenharia Mecânica, Laura vai fazer Psicologia e a Beatriz, Design. Cada um com seu perfil, completamente diferente.”
A FAMÍLIA
“Neste ano, os filhos queriam viajar, fazer um curso fora. Nossa rotina, fora isso, depende muito do horário de cada um: uma faz dança, outro faz violão, outro faz ginástica, cada um tem os seus compromissos. Chego em casa mais cedo, consigo me organizar pra ficar curtindo eles. Acabo aproveitando mais. Se vou sozinha a algum lugar porque o William não chegou, e eu saio cedo do Projac, mas ele só se libera depois do Jornal Nacional, sempre tem alguém que vem e pergunta: “Então, cadê o William?’. Tenho que responder: “Já tá vindo....’, ‘Daqui a pouco tá aí’. Há uma intimidade natural do público, ele tem 30 anos na TV. As pessoas nos acompanham há muito tempo, só de casados a gente fez 26. É compreensível que haja essa intimidade.”
ENCONTRO COM A MODA
“Meu estilo é muito do que está no ar atualmente. Antigamente, era até engraçado, porque, sempre que eu ia a uma loja, as pessoas diziam assim: ‘Chegou um paletó que é a sua cara’. Como elas me viam toda noite daquele jeito (na TV), achavam que era só aquilo que eu vestia. Eu tinha que explicar que aquilo ali era minha roupa de trabalho. Agora, tenho uma dobradinha muito boa com a figurinista do programa, Rosa Pierantoni. Muitas das coisas que uso no programa, tenho como pessoa física. Se ela me vê com determinado tipo de roupa e diz que caiu superbem, usamos algum dia no programa. Ou, às vezes, ela traz alguma coisa para eu experimentar. Por exemplo: eu tinha parado de usar cintura alta, aí a moda voltou, mas não estava animada para experimentar. Mas a figurinista me trouxe uma peça e eu amei, achei que tinha ficado mais alongada, ótima. Também tem a história das pulseiras misturadas com relógio: recebo foto até de criança pequeninha usando do mesmo jeito que eu. Adoro enfeite, bijuterias. Prefiro até usar roupa mais sóbria para que eu possa usar acessórios. Gosto também de variar bastante nos sapatos. Sempre salto alto, exceto com longo ou longuete – gosto mais de rasteirinha, sapatilha uso muito também.”
ENCONTRO COM A VAIDADE
“Faço visitas regulares à dermatologista, estou inclusive aqui na porta da consulta agora, ela está me esperando. Sempre fui uma pessoa que se cuidou muito com o sol. Também não fico de make, tiro muito bem a maquiagem. Fui uma adolescente muito privilegiada, não tive marcas de espinha, nada. Agora, faço um laserzinho que promove uma estimulação facial para o que tem de colágeno, e não deixa você vermelha nem nada. É só um estímulo, ou seja, a gente vai protelando enquanto der. Botox, faço desde os 42 anos, de seis em seis meses, sempre no meio da sobrancelha, para não ficar com aspecto de preocupação, mas boto muito pouco. Se eu não contasse, ninguém iria saber, mas também não tem por que esconder esse tipo de coisa. Não sou atriz, não vou ficar com a testa paralisada, esse tipo de coisa, dá para fazer de uma forma suave, que não seja agressivo e que eu fique me sentindo bem. Uso filtro solar, produtos que são legais, hidrato bem a pele, faço atividade física. Não fumo, não bebo, procuro dormir cedo, para poder acordar cedo, sem estar com aspecto cansado. Eu me alimento bem, não tenho variação de peso grande, aquela coisa de toda mulher, dois quilos pra mais, dois quilos pra menos, acho que isso acaba ajudando.”
ENCONTROS COM O TEMPO
“Sempre digo que a hora em que eu fizer uma plástica não vai ter nenhum segredo, vou ser a primeira a falar. Está aí para ser feita. A medicina está evoluindo para isso. Não sinto muito as pessoas me cobrando, nenhuma necessidade profissional de estar com um aspecto mais jovem do que estou hoje. Farei (plástica) no dia em que eu olhar no espelho e estiver triste comigo mesma. Confesso que me sinto um pouco medrosa para enfrentar uma cirurgia que não seja por questão de saúde. Mas isso eu estou dizendo hoje, porque ainda não me olhei no espelho e me senti assim: ‘Nossa, não estou feliz’. Não me sinto muito cobrada, até porque o público é muito generoso comigo. Acham sempre que estou bem, que está tudo ótimo, é muito fofo. E também tem a questão de que estou no ar todo dia. Quando você fica fora e volta, aí é um choque. É que nem isso do filho crescendo e você não nota. Mas aí vem aquele parente de longe e diz: ‘Nossa, como essa criança cresceu’. Como estou todo dia na TV, as pessoas vão se acostumando com uma ruguinha que vai aparecendo aqui, outra ali. E isso passa a ser secundário diante da relação que elas já estabeleceram comigo.”