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No último dia 12, ela fez a alegria dos fotógrafos no tapete vermelho do Festival de Cannes ao subir descalça a escadaria que leva ao cinema. Julia Roberts levantou a barra do elegante vestido preto Armani e deixou os pés à mostra para os flashes e holofotes. O despojamento da atriz americana parece que foi um recado à produção do mais importante festival cinematográfico do mundo: no ano passado, um grupo de mulheres foi impedido de entrar na première do filme Carol (2015) por não estar de salto alto.
O episódio sintetiza o discreto charme dessa estrela que mantém o fulgor aos 48 anos: cada vez mais criteriosa em suas escolhas, Julia vem construindo nos últimos anos uma carreira em que alterna produções comerciais com títulos artisticamente mais empenhados – emancipando-se do rótulo de “namoradinha da América” de uma maneira que contemporâneas suas como Meg Ryan não conseguiram.
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Julia Roberts foi ao sofisticado balneário francês acompanhar, com o ator George Clooney e a cineasta Jodie Foster, a exibição fora de concurso de Jogo do Dinheiro (2016). No thriller dramático que entrou em cartaz nesta semana na Capital, a intérprete encarna uma diretora de TV que ajuda um apresentador (Clooney) feito refém no ar por um sujeito com uma bomba.
Apesar de não ser a figura central da história, Julia – que chegou a estudar jornalismo na universidade – destaca-se em cena pelo carisma e ilumina a tela com duas de suas principais características físicas: o largo sorriso e a voz suave.
Às portas da quinta década de vida, Julia Fiona Roberts cristalizou uma persona cinematográfica distante em termos de caráter do papel que a revelou: o da Cinderela-prostituta de Uma Linda Mulher (1990), comédia romântica na qual contracenava com Richard Gere e que arrecadou mais de US$ 460 milhões em todo o planeta. Essa edulcorada visão sobre a mais antiga das profissões rendeu US$ 300 mil a Julia, colocando-a no seleto time dos maiores salários de Hollywood. Entre os anos 1990 e o começo dos 2000, a garota que começou no cinema fazendo ponta em um filme do irmão Eric Roberts foi a atriz mais bem paga do mundo, chegando a receber cachê de US$ 20 milhões por trabalho.
A diva de boca grande e cabeleira basta – cuja trajetória de sucesso foi traçada com comédias, romances e policiais – saiu de sua zona de conforto com Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento (2000), foto acima, drama baseado na história real de uma assistente de advogado que colocou sozinha no banco dos réus uma poluidora empresa de energia da Califórnia. Essa sacudida mostrou-se acertada: o filme dirigido por Steven Soderbergh valeu a Julia um Oscar e seu terceiro Globo de Ouro. A partir de então, a artista investiu cada vez mais em dramas densos como Closer: Perto Demais (2004) e Álbum de Família (2013). Recentemente, protagonizou o suspense policial Olhos da Justiça (2015), refilmagem do oscarizado longa argentino O Segredo dos Seus Olhos (2009).
Hoje, Julia Roberts não é mais sinônimo de êxito de bilheteria certo. Mãe de três filhos e casada desde 2002 com o operador de câmera Daniel Moder (foto acima) – a quem conheceu durante as filmagens de A Mexicana (2001) –, morando em um rancho no Novo México, ela evita o espalhafato e as fofocas do universo das celebridades. Seu fascínio, porém, permanece intacto: enquanto muitas colegas reclamam da falta de papéis femininos dignos, a atriz – e também produtora executiva de cinema e televisão – consegue tornar igualmente encantadores personagens tão distintos quanto a desiludida professora de oratória de Larry Crowne: O Amor Está de Volta (2011) e a rainha má de Espelho, Espelho Meu (2012). Julia Roberts, enfim, junta o melhor de dois mundos: é uma linda mulher de talento.
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