(Theo Wargo/ Getty Images) Curtos ou compridos, de franja ou platinados, os cabelos da atriz são atração à parte a cada tapete vermelho - bonqeuinha de luxo moderna, acrescenta sempre um toque atual e singular aos looks de formas invariavelmente retas e clássicas (Bem Starsall/AFP) Sobre Robert De Niro, seu parceiro de elenco em "Um Senhor Estagiário", Anne é só elogios: "Fiquei surpresa com sua humildade. Não há ego. Ele tem orgulho do trabalho, mas não há ego. Sabia que era possível porque Meryl Streep também é assim, mas foi uma descoberta deliciosa"
Mariane Morisawa*
Especial, de Nova York
Anne Hathaway entra na suíte do luxuoso e moderninho Crosby Hotel, em Nova York, sua cidade natal, segurando um pratinho com um cupcake.
– Desculpe, não tenho como oferecer – ela diz.
Em seguida, tira a parte de cima, com a cobertura, e vira de ponta-cabeça, grudando no outro pedaço. Esperta: assim pode comer sem se lambuzar.
Depois de ganhar um Oscar pelo superdramático Os Miseráveis (2012), de Tom Hooper, e fazer uma astronauta em Interestelar (2014), de Christopher Nolan, a atriz de 32 anos está de volta às comédias - com uma pitada de drama - em Um Senhor Estagiário, dirigido por Nancy Meyers. No filme em cartaz nos cinemas, interpreta Jules, uma jovem empreendedora, dona de um e-commerce de moda, que contrata um estagiário septuagenário (Robert De Niro), que vai virar um grande amigo. Jules sente-se pressionada a cuidar do seu negócio, do marido, Matt (Anders Holm), e da filha, Paige (JoJo Kushner) - um dilema enfrentado por uma grande parte das mulheres.
Vestida com camisa branca e calças pretas, com um cinto largo, a atriz conversou com Donna sobre ser jovem em Hollywood, redes sociais e choro:
Donna - Identificou-se com o personagem?
Anne Hathaway - Sim, por ser uma jovem mulher numa posição de visibilidade, cometendo erros de maneira pública. E isso você precisa aprender a fazer. Porque, quando você é mais jovem, vai cometer erros. Talvez cometa quando for mais velha também, mas jovens cometem mais erros. E precisa aprender a se perdoar.
Donna - Que tipo de erros?
Anne - Deus! Tantos! Aprender a apreciar quem está trabalhando com você, por exemplo, a prestar atenção. São coisas do crescimento. Pensando em Jules, se ela faz alguma coisa errada, afeta a companhia inteira. Todo mundo sabe que errou, mas ela ainda precisa entrar, admitir o erro e ser a chefe. Vai ser estranho no começo, no dia seguinte vai ser melhor.
Donna - Inspirou-se em alguém para fazer Jules?
Anne - Por sorte, há muitos exemplos de jovens empreendedoras. Não baseei Jules nelas, mas elas me deixaram segura sobre a personagem que eu estava criando. Gente como Sophia Amoruso (Nasty Gal), Leandra Medine (The Man Repeller), Lauren Santo Domingo (Moda Operandi), Taylor Tomasi Hill (TTH Blooms). Eu me encontrei com algumas delas, fiz muitas perguntas sobre suas vidas e como conseguiram fazer tantas coisas incríveis.
Donna - Costuma comprar coisas online? Qual foi sua última compra na internet?
Anne - Um biquíni! Tinha folhas, que não são de maconha, mas parecem! (risos)
Donna - Você fez uma assistente numa revista de moda em O Diabo Veste Prada (2006) e agora a dona de um e-commerce de moda. Qual sua visão sobre a indústria da moda?
Anne - Não sei se tenho um ponto de vista sobre a indústria de moda. Tenho amigos que trabalham nela. Não sei como fazem. Tenho amigos designers e não sei como conseguem, porque é tudo rápido, precisam fazer seis coleções num ano. É muito trabalho e criatividade.
Donna - O filme fala do choque entre duas gerações. Acha que hoje em dia isso acontece em Hollywood também?
Anne - Há prós e contras. Não é só uma questão de geração ou de Hollywood, o mundo está completamente diferente. Privacidade não existe mais. Existia antes. E, num mundo sem privacidade, ser uma pessoa privada não é algo que as pessoas entendam ou respeitem necessariamente. Se você é alguém como Robert De Niro, uma lenda, todo mundo sabe quem você é, não precisa fazer propaganda. Se é alguém começando, pode ser benéfico para sua carreira mostrar que é engraçado, bom fotógrafo, compartilhar sua voz, deixar as pessoas te conhecerem. É outro mundo.
Donna - Gosta de cavalheiros à moda antiga, como o personagem de Robert De Niro?
Anne - Sim, eu gosto. Mas não de quem faz só para aparecer. Gosto de quem trata os outros com respeito, que ouve, tem compaixão. Não tem nada melhor que isso, seja homem ou mulher.
Donna - Como se sente em relação às redes sociais? É preciso participar delas, sendo um ator?
Anne - Não é obrigatório. Mas é uma ferramenta, que alguns usam, outros, não. Eu uso Instagram. Comecei porque tinha um filme independente minúsculo, sem nenhum orçamento para divulgação, chamado Song One (2014). Achei que seria bobo não usar tudo o que podia para ajudar. Acabei me divertindo. Muitas vezes a mídia me entende mal, não compreende meu senso de humor, tira coisas do contexto, então é ótimo poder escrever: quis dizer isso, na verdade, é assim que me sinto. Tendo dito isso, se todas as redes sociais desaparecessem, não haveria pessoa mais feliz que eu. Me lembro do mundo sem tudo isso. Tem muita coisa positiva, mas perdemos muito também.
Donna - Já conhecia Robert De Niro?
Anne - Sim. Sempre ficava a seu lado, me sentindo esquisita, sem coragem de falar com ele. Até que sua mulher vinha me salvar. Aí acabava conversando com Grace. Ele é uma lenda. Presumi que isso podia ter influenciado um pouco seu comportamento. Fiquei surpresa com sua humildade. Não há ego. Ele tem orgulho do trabalho, mas não há ego. Sabia que era possível porque Meryl Streep também é assim, mas foi uma descoberta deliciosa.
Donna - Depois de ganhar o Oscar, é preciso que o papel seja muito especial para você aceitá-lo?
Anne - Não sei, deveria? Estou perdendo alguma coisa? Não. O Oscar é uma indicação de que fiz um trabalho uma vez que as pessoas acharam que era digno de um Oscar. Não torna você uma atriz melhor. E também não significa que você precisa fazer só um tipo de papel. Meu objetivo sempre foi fazer os melhores trabalhos, com os melhores diretores disponíveis. Não quero fazer uma carreira de vencedora do Oscar. Só quero ser feliz.
Donna - Você chora um bocado no filme. É corajoso da sua parte, muitas atrizes não gostam de estragar a maquiagem.
Anne - Você está dizendo que fico feia chorando? (risos) Tudo bem, fico mesmo. Conheço atrizes que colocam maquiagem completa logo que acordam. Que ótimo para elas, eu fico incomodada. Cresci nos anos 1990, gosto de estar mais básica, fazer escolhas que me fazem me sentir mais autêntica. Quando choro, realmente choro. É o que parece certo para mim.