(Divulgação) Dupla confirmada: Cissa dividiu a bancada do "Vídeo Show" com Miguel Falabella (Márcio Nunes/Divulgação) (Cristiano Granato/Agência Globo) Na companhia do filho Rafael Mascarenhas; o jovem foi atropelado no túnel da Gávea, na zona sul do Rio, em 2010. No início deste ano, a Justiça do Rio condenou à prisão o pai e o filho acusados pelo assassinato. Um habeas corpus, porém, colocou os dois em liberdade Com o ator Paulo César Peréio (E), com quem foi casada por 14 anos (Vinícius Roratoo/Especial) (Claudia Ribeiro/Divulgação) Interpretando a psicanalista Beatriz, ao lado de Oscar Magrini e Josie Antello, na peça "Doidas e Santas" (Gianne Carvalho/TV Globo) Em cena da novela "O Clone", na qual viveu a mãe de um adolescente drogado (GNT/Divulgação) Com Gilberto Gil, em um dos episódios do programa "Viver com Fé", do canal GNT (Blad Meneghel/ TV Globo) Em 2009, Cissa encarnou Mamãe Noel para o especial de Natal de Xuxa na Globo, gravado em Gramado (João Miguel Jr. / TV Globo) Em cena da novela "América", com Werner Schünemann (Renato Miranda/TV Globo) Em Malhação, Cissa foi Beatriz por uma temporada
Enviada especial, Rio de Janeiro
Quem assiste televisão há pelo menos 30 anos já tem intimidade com os olhos azuis e o largo sorriso de uma mulher que é daquelas figuras com quem a gente tem identificação natural. Puxando pela memória em exercício de pouco esforço, podemos até não lembrar de como ela começou ou quais foram seus principais papéis. Mas sabemos instintivamente que ela sempre esteve ali, nas novelas, no Video Show, nos programas especiais, enfim, na nossa vida, toda vez que ligamos a TV. Assim é Cissa Guimarães, 58 anos, atriz e apresentadora da Globo. Mas que também poderia ser Cissa Guimarães, 58 anos, nossa vizinha, colega, prima, simplesmente amiga. Apenas uma mulher cheia de sonhos, tragédias, perdas, conquistas e fé, muita fé. Uma das nossas, para resumir.
Como tantas de nós, Cissa, na verdade, não é Cissa. É Beatriz Gentil Pinheiro Guimarães, que ganhou ainda na infância o apelido que se tornou o seu nome. Carioca da Zona Sul, iniciou a carreira artística no teatro, aos 20 anos. Antes disso, já havia tentado cursar Química na Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas o destino a levou para outros rumos. Depois de abandonar a faculdade, ingressou no famoso curso de teatro no Tablado. Em 1980, aos 22 anos, entrou na Globo para uma pequena participação no seriado Malu Mulher - no mesmo ano, fez a primeira novela, Coração Alado. Em 1986, em paralelo à atuação como atriz, começou a apresentar o Vídeo Show. Ocupou a bancada da atração por 15 anos e, depois de outros quase 15 anos afastada, retornou ao programa que a consagrou. Estreou em março o quadro Gente Como a Gente, em que percorre lugares diversos do Rio na companhia de artistas para conversas descontraídas. Na vasta carreira, já são mais de 25 novelas e seriados e sete filmes.
Um dos trabalhos recentes mais aclamados foi a série Viver com Fé, exibida pelo canal por assinatura GNT, em que Cissa apresentou histórias de fé e religiosidade de gente famosa e anônima. Na atração, ela própria mostrou um pouco da espiritualidade que a acompanha e a sustenta nos momentos mais difíceis.
Mãe de três filhos e separada de três maridos, Cissa é uma mulher de amores, segundo ela própria. Busca paz, mas adora estar apaixonada, vivendo o turbilhão de sentimentos. E espera, na maturidade, apaixonar-se mais uma vez.
- Quero me apaixonar de novo. Mas também quero paz, tranquilidade. Sei que esses dois sentimentos não combinam, mas estar aberta para o amor é isso - diz, ao comentar o momento que vive.
Desde 2010, um assunto é recorrente em qualquer conversa com Cissa. Rafael Mascarenhas, de 18 anos, filho da atriz com o músico Raul Mascarenhas, morreu atropelado por um carro que transitava em alta velocidade em um túnel fechado da Gávea. Após duas semanas recolhida em sua dor, Cissa voltou a trabalhar, surpreendendo público e amigos:
- Precisava voltar para me sentir viva.
O trabalho que a resgatou da escuridão daqueles dias foi a peça Doidas e Santas, adaptação do livro de crônicas homônimo escrito por Martha Medeiros que tem sessões nos próximos dias 5, 6 e 7 no Theatro São Pedro. Produzido e estrelado por Cissa, Doidas e Santas foi acompanhado de perto e incentivado por Rafael, entusiasta da primeira investida da mãe como produtora teatral. Durante a primeira temporada, Rafa e os amigos eram figuras fáceis na plateia. Poucos meses depois da estreia, a tragédia tirou do teatro o espectador mais querido. Por ser seu projeto pessoal mais ambicioso, pelo reconhecimento crescente do público e, principalmente, pelo incentivo que recebeu do filho, Cissa não hesitou em retornar aos palcos, apesar da imensa dor.
- Era uma necessidade voltar a fazer meu trabalho. Era como perceber que eu ainda estava viva e que eu poderia continuar vivendo - afirma.
A prova de que Cissa estava mais do que certa em voltar é a longevidade do espetáculo. Em cartaz há cinco anos, já foi assistido por mais de 200 mil pessoas em praticamente todas as capitais brasileiras. Nesta temporada gaúcha, Cissa já esteve em Pelotas e Novo Hamburgo antes de encerrar a turnê em Porto Alegre.
- Estou muito feliz e ansiosa para pisar no palco do São Pedro, aquele teatro maravilhoso. E tem a dona Eva Sopher, menina, é muita emoção!
Apesar de ser uma figura dominante no palco, Cissa soma seu talento a outras qualidades para garantir o sucesso de Doidas. "O texto tem humor próprio, resultando em um espetáculo divertido e ágil. Cissa expressa bem simplicidade e complexidade, alegria e tristeza, ingenuidade e sabedoria", disse Bárbara Heliodora, principal crítica de teatro do país, falecida em abril deste ano.
Além de ajudá-la no sofrido processo de luto e de garantir alegrias há cinco anos, Doidas e Santas também deu a Cissa uma amiga inesperada. O que começou com um e-mail despretensioso, enviado para elogiar uma coluna, tornou-se uma amizade sincera e duradora com a escritora Martha Medeiros.
- Hoje em dia, uma das coisas que mais admiro numa pessoa é o entusiasmo. Cissa transpira entusiasmo, e isso independe da sua biografia, do que passou ou deixou de passar. É uma energia que não tem como a gente ficar indiferente. Ao conhecê-la mais intimamente, descobri que esse entusiasmo se une a algo ainda mais cativante: Cissa é uma mulher absolutamente autêntica, aberta, transparente. Fora do palco, não existe personagem, ela é o que é, transborda emoção. Minha admiração por ela ultrapassa seu trabalho, eu gosto dela pelo ser humano que é, e agradeço por a peça Doidas e Santas ter me trazido, antes de tudo, uma amiga - diz Martha.
- Tenho orgulho de dizer que Martha é minha amiga - confidencia Cissa.
Em uma tarde ensolarada e quente, Cissa recebeu a reportagem de Donna no café da Livraria Argumento, no Leblon. Em função do trânsito carioca e da consulta estendida no terapeuta, chegou atrasada ao encontro marcado para as 16h, pelo que pediu insistentes desculpas. Vestida com simplicidade e quase sem maquiagem, trazia, entre os acessórios, o bracelete com a oração do Arcanjo Rafael, do qual nunca se separa. Durante a conversa, que durou pouco mais de uma hora, não houve assunto proibido: falou sobre temas duros, como a morte do filho, e não deixou pergunta sem resposta. Simpática, foi abordada algumas vezes por conhecidos, sempre com carinho. Para eles, o sorrisão de sempre. Na chegada, antes da entrevista, passara pelo autor Manoel Carlos, que também tomava um café em uma das mesas. Depois de abraçar e reverenciar o senhor de cabelos brancos, brincou que ainda aguarda dele um papel, uma Helena, quem sabe. Sem afetação e com humildade rara em celebridades, agradeceu por Donna ter ido até o Rio de Janeiro para ter com ela a conversa a seguir.
Donna - A peça que será apresentada em Porto Alegre está em cartaz há cinco anos. Como é sustentar um projeto como este por tanto tempo?
Cissa Guimarães - Sim, faz cinco anos que está em cartaz! E mais uns dois anos de pré-produção. E mais uns três em que vivi o processo de constatar que precisava virar gente grande profissionalmente. Me lembro exatamente de quando isso começou, foi quando eu fiz 50 anos - não na data precisa, 18 de abril, mas no "around". Tive a clareza da necessidade de me produzir. Pensei: tenho uma carreira legal, graças a Deus, mas estou sempre indo na ideia dos outros, na dependência de alguém me chamar. E também comecei a viver, na mesma época, uma emoção comigo mesma. Já tinha feito tanta coisa... Profissionalmente, vivi muito, comecei cedo, aos 17 anos, e na vida também, nos amores, todos os fracassos, sucessos, conquistas. Quando percebi isso, fiquei emocionada. Lembrei da minha mãe, que fez a passagem muito moça, aos 62 anos. Ao mesmo tempo, senti um desejo, uma pulsação de vida muito grande em mim. Me emocionava por estar chegando a esta maturidade. E também tinha uma certa vergonha por nunca ter produzido nada, enquanto minhas amigas faziam um monte de coisas. Daí, quis fazer alguma coisa que falasse dessa mulher que há 20 anos já era uma senhorinha e agora já estava com a pá virada (risos), no caso eu. Comecei a procurar um texto que falasse sobre a maturidade da mulher e os seus conflitos, menopausa, filhos, essas coisas. Mas de um jeito real. Uma mulher que enfrentasse a responsabilidade de criar filhos, mas ao mesmo tempo quisesse sair com as amigas, encher a cara, que ficasse com vontade de dar, sei lá (risos). Foi quando li uma coluna da Martha Medeiros que falava exatamente dessa mulher. Pensei: ela escutou o que eu ando pensando! Peguei o e-mail da revista e escrevi para ela, dizendo que era fã e que havia me identificado muito com o texto. Não demorou cinco minutos e ela me respondeu perguntando se a Cissa que assinava era a Cissa Guimarães. E disse que era minha fã. Trocamos telefones e combinamos de nos encontrar. Hoje, tenho orgulho de dizer que Martha é minha amiga.
Donna - E foi aí que começou o processo de adaptação?
Cissa - Então, não liguei na hora em que ela passou o telefone. Fiquei com vergonha, sei lá. Um dia, estava fazendo umas coisas aqui no Leblon e me deu a louca. Resolvi ligar naquela hora. Coisa de ariano, né. Liguei. E ela atendeu! Perguntei se ela não queria fazer alguma coisa sobre este tema e ela foi direta: "Não, querida, não escrevo para teatro". Daí fiquei insistindo, mais ariana ainda. Mas combinamos de nos encontrar no Rio na outra semana, ela estava vindo para lançar o Doidas e Santas. Aliás, quando ela me disse o nome do livro eu tive um arrepio. Olha esse título! Era o highlight desse momento todo, para você ser doida tem que ser santa, enfim. Devorei o livro, olha aqui, fico até arrepiada (mostra os pelinhos do braço eriçados pela emoção da lembrança). Falei pra Martha: posso? E ela disse: é teu. Foi assim. Essa história é linda e me emociona até hoje.
Donna - Foi tão marcante que a peça é um sucesso até hoje.
Cissa - Sim, foi incrível. Como a Martha não adaptava, chamei a Regiana (Regiana Antonini, roteirista que adaptou as crônicas de Martha Medeiros para o teatro), que já estava procurando textos junto comigo. Ela comprou a ideia no ato. Nos encontrávamos toda semana, líamos os textos com atenção e trocávamos ideias. Vimos que precisávamos de uma personagem para dar unidade ao texto no palco, já que o livro é composto de crônicas independentes. Então falei que queria que fosse Beatriz, já que eu sou Beatriz. Esse é o meu nome, apesar de ninguém me chamar assim. A partir das crônicas, nasceu a história da Beatriz, uma psicanalista com uma filha adolescente e que mora com uma mãe maluca, é casada há mais de 20 anos, mas o relacionamento já se tornou uma coisa simbólica, com beijo na testa. Já passei por isso e disse para a Regiana: bota um beijo na testa, que isso é a coisa mais nojenta que tem em um casamento!
Donna - O Rafael foi um dos grandes apoiadores deste seu projeto no teatro, não é?
Cissa - Mesmo antes, nos momentos em que fraquejei no périplo da pré-produção, ele me deu muita força. Muitas vezes disse pro Rafa: ah, vou desistir, não sei fazer isso mesmo, nunca fiz, vou deixar pra lá. E ele me incentivava a continuar. Ele tinha 16 anos na época. Quando estreou, ele ia direto, toda semana. E o barato que acontecia quando ele ainda estava nessa dimensão, e que acontece até hoje, é a galera dele, que ia sempre, em peso. Eu dizia: gente, vocês têm 17, 18 anos, o que vocês veem na separação de um casal de 50? Mas eles amavam a peça. Quando temos temporada aqui no Rio, eu libero a entrada dos "Rafas" na bilheteria, sempre dou ingresso para toda a turma. Um dia ensinei a eles que é muito chique, é cult levar a namorada ao teatro. Não é só balada e Baixo Gávea (um dos bairros cariocas em que a noite é mais badalada). Eles aprenderam. O Rafa levou a namorada, o sogro e a sogra. E todos adoravam. É um projeto que tem um anjo incrível. Ele orquestrou tudo e este projeto é dele.
Donna - Nesse sentido, Doidas e Santas ajudou você a lidar com a morte do Rafael?
Cissa - Não sei se teria conseguido me manter de pé sem a peça. Não digo superar, porque nunca superei nada. Detesto essa palavra. Odeio. Odeio mais ainda quando me chamam de exemplo de superação, me irrita profundamente. Primeiro, porque eu não sou exemplo. Segundo, porque eu nunca vou superar. Nenhuma mãe supera não estar com o seu filho aqui, do lado. Acho isso de uma insensibilidade absurda. Eu sei que ninguém faz por mal, mas como podem achar que alguém supera isso? Nunca. Eu acho que me mantive em pé por causa da peça. Voltei 15 dias depois. Era uma necessidade gigantesca de voltar a fazer o meu trabalho. Estar no palco era um prazer tão grande. Era como perceber que eu ainda estava viva e que eu poderia continuar vivendo, apesar do que aconteceu. Eu posso respirar. Eu não sei como eu teria reagido se eu não tivesse o Doidas.
Donna - A tragédia ocorreu bem no começo da primeira temporada do Doidas, certo?
Cissa - Sim, a peça estava bombando. O teatro lotava. E a gente não esperava por isso, não imaginava. Eu estava preparada para ficar dois, três meses (em cartaz), no máximo. A gente nem entendia o que estava acontecendo. E o Doidas me sustenta até hoje. Eu ando exausta, pois voltei a gravar o Vídeo Show e voltamos a fazer a turnê com a peça, vamos percorrer o Rio Grande do Sul, é muita expectativa, muita correria. Mas eu fico numa felicidade que você não imagina, pareço um pinto no lixo. Uma saudade dos colegas de palco, de ficar com eles, da função de viajar, ficar todo mundo em hotel, ai, que delícia. Eu encontrei na peça uma energia para continuar vivendo.
Donna - De que outras formas você lidou com o luto?
Cissa - Isso é muito delicado, pois cada um é diferente. Se a pessoa quiser ficar trancada por anos no seu quarto, definhando, é direito dela. Cada um tem uma maneira de lidar com a sua dor. Esta foi a minha maneira. Eu fui abençoada naquele momento por estar fazendo um trabalho que eu amava, que era uma espécie de filho que eu estava parindo. Então, me agarrei àquilo. E tive todos os cuidados dos amigos, fiz terapia do luto. E também sou uma pessoa que tem um pacto com a vida, com a alegria, preciso dar uma gargalhada. Não vou ficar igual à Beatriz (protagonista de Doidas e Santas), que não lembrava da última vez que deu uma gargalhada. Não é nem uma coisa racional, é que eu não sou essa pessoa.
Donna - Em muitos momentos você comentou que nunca mais poderia sorrir da mesma forma, depois do que aconteceu com o Rafael.
Cissa - Não. Nunca mais vou ser feliz 100%, nunca mais vou rir do mesmo jeito. Nunca mais. Sou uma aleijada. Mas posso ser feliz. Minha gargalhada não vai ser mais aquela inteira, com tudo bem. Mas vou gargalhar, com a parte que me cabe neste latifúndio. E vou me agarrar a essa parte com todas as forças, porque estou aqui para isso. E também para dignificar a vida do meu filho, pois foi esse o amor que ele me ensinou. Não importa se foram 18 anos ou 60. A busca pela minha felicidade dignifica a vida do meu filho. E a minha.
Donna - Você já declarou em muitas ocasiões que é uma pessoa de fé. Como isso funciona na sua vida?
Cissa - Tenho muita pena de quem não tem fé, porque deve dar um trabalho... Acho que a fé é muito maior do que as religiões. Penso que as religiões nasceram a partir de grandes ensinamentos, de grandes avatares de Deus. Jesus Cristo, Maomé, Buda... Os livros têm todos esses ensinamentos e levam a caminhos. Alguns desses caminhos nos batem de forma mais profunda. A questão da morte, por exemplo, é vista de forma muito interessante pelo budismo, que me ajudou muito a lidar com a passagem do Rafa. Olhar para a morte de forma negativa é algo ocidental. A fé é muito maior do que as religiões. O que existe são caminhos. Não tenho uma religião que eu siga cegamente.
Donna - Onde está a sua maior devoção?
Cissa - Em muitos lugares. Posso simplesmente ficar no sítio, meditando, ou ir ao centro espírita tomar um passe. Depende do momento. Acho que tudo é válido. Hoje, por exemplo, é dia de Nossa Senhora de Fátima, e desde que acordei eu penso nela (a entrevista ocorreu na tarde do dia 13 de maio). Ela é linda, é a mãe, intercessora, é irmã. Amo os anjos, eles são tão incríveis! Meu anjo da guarda, como agradeço a ele. As instituições, porém, me incomodam um pouco. Então, eu vou do meu jeito, tenho a minha fé. E esta é inabalável.
Donna - Como é, aos 58 anos, lidar com esta maturidade sobre a qual trata a peça? Você tem medo de envelhecer?
Cissa - Essa pergunta eu ouço desde que estava chegando aos 40. Como eu lido? Isso é uma questão para todas nós, né. Houve uma quebra retumbante de paradigmas. Uma mulher de 58 anos, há 20, era uma senhorinha. A minha mãe fez a passagem com 62, doente, me lembro que era uma senhora. Agora estou eu aqui. Para os nossos filhos mudou também. Eu saí de casa com 18 e fui mãe aos 21. Achava um mico morar na casa dos pais aos 18 anos. Hoje, os próprios pais dizem que com 23, 24 eles ainda são muito crianças. É estranhíssimo, mas estamos durando 100 anos. Houve um delay - e essa realidade ocorre para todos. Mas não é fácil. Em toda a minha vida, nunca vi em filme, li em literatura ou em qualquer outro lugar alguma personagem ligando para uma amiga e dizendo: "Ai, gente, estou tão feliz, acordei com três rugas novas, minha bunda está caindo, olha que maravilha". É claro que é chato envelhecer. Você fica mais dependente de uma porção de coisas. E justo você, que levou tanto tempo para se tornar independente. A questão da vaidade, para a mulher, também é cruel.
Donna - Como você se cuida para manter a saúde e a beleza?
Cissa - Me cuido pra caramba. Sou filha de médico, sempre tive uma vida muito saudável. Malho, cuido muito da alimentação e adoro cremes. Ponho muito pouco botox na testa, nunca fiz plástica no rosto, mas pretendo fazer. Só botei peito. E pinto o cabelo. Mas não sou obcecada, não sou daquelas que chega ao hotel e sai correndo para a academia. Se der, malho; se não der, paciência. Gosto de me alimentar de forma bastante saudável, mas como minha batata frita, sim, tomo meu vinho, sim. Adoro vinho. E acho que o tempo é soberano e é parceiro. É ele que alivia suas dores, suas feridas. A minha bunda vai cair, mas eu vou ficar uma velha esperta. E vou gargalhar muito. E se eu puder fazer com que outras pessoas gargalhem e riam comigo, vou ficar muito feliz.