Esqueça a personagem da televisão, a possível namorada do galã do momento ou a beldade embalada para a capa da revista. Maria Casadevall, a atriz paulistana que roubou a cena em Amor à Vida como a estilosa Patrícia, carrega em sua essência quase nada do que vimos no horário nobre. Ela estreou na minissérie Lara com Z, em 2011. Na noite em que nos encontramos em um loja no Centro de Floripa, vestia uma minissaia verde-pastel, um camisetão branco com a sugestiva estampa de uma tangerina cortada ao meio, o inseparável All Star e óculos pretos enormes de aro grosso, que a deixam meio adolescente no auge dos 27 anos. No rosto, apenas rímel. Uma beleza natural, saudável, pele de quem está de bem com a vida.
Começo nosso papo falando do Instagram, da poesia que complementa as imagens vistas por mais de 440 mil seguidores do @mariacasadevall. Há ali uma versão pouco explorada pelos meus colegas dos sites de celebridades:
- Muito legal você começar por aí. Ah, e posso te chamar de Cris, né? - pergunta com uma intimidade nada forçada.
- Eu tenho o perfil há pouco tempo, foi uma amiga que criou. Acabou que ele se revelou o único espaço que consigo conservar a despeito dos outros lugares que acabam comercializando minha imagem. É um lugar sagrado, porque eu gosto de fotografia, de cinema, de poesia, de escrever - vai contando, os olhos às vezes cruzando com os meus, às vezes viajando, distantes, livres.
A relação com as letras vem de longa data. Em casa, a mãe advogada e o pai corretor de imóveis nunca a impediram de colocar no papel suas vontades e desejos. Na família, habitam outros artistas como o tio músico Edgard Poças e a prima e cantora Céu.
- Sempre vivi em um mundo muito particular desde cedo. A primeira forma que encontrei de me trazer para o mundo objetivo e real foi a escrita, o desenho também, que eu não tenho nenhum domínio, mas me arrisco de vez em quando - conta enquanto senta sobre as próprias pernas, jogada em um sofá.
Falamos de internet, de novos tempos para expressões literárias. Ela revela que, em 2007, criou o blog Cachola da Maria. Mesmo deixado de lado "temporariamente", é uma interessante mostra de sua visão de mundo.
Relembrando como as artes cênicas surgiram na biografia, levanta e canta uma música que, aos sete, ensaiava com as amigas do prédio onde morava. Era a trilha sonora do grupo de teatro Garotas Papillon. Entre as aspirantes, estava uma das filhas do diretor Ricardo Waddington e da ex-atriz Lídia Brondi, uma espécie de Maria Casadevall dos anos 1980. Rimos das lembranças e conto que também fui ator de peças na escola e nas reuniões familiares. Coincidentemente, ao fundo, um clássico da infância da atriz, My Girl, dos The Temptations, embala o papo:
- Nossa, eu amo esse filme (Meu Primeiro Amor). Vi umas 50 vezes, era alucinada. Também gostava muito de Super Xuxa Contra o Baixo Astral. Eu fazia a Xuxa e uma prima fazia todos os outros personagens.
Damos um pulo em sua história pessoal. Com um biótipo perfeito para os comerciais de tevê foi aos 15 anos que se viu na frente das câmeras meio que por acaso, distraída. Já estava morando no Centro de São Paulo com a mãe e o irmão. A energia era outra. Não lembra ao certo, mas deve ter sido abordada na rua para estrelar a primeira campanha. Das telas, foi parar em um workshop para atores com o diretor Fernando Leal, seu amigo até hoje.
- Cheguei lá com o intuito de entender melhor a linguagem das câmeras e nunca mais saí. Eu era horrorosa, ele (o diretor) era superespartano, dizia: "Isso pra ser ruim ainda falta muito" (risos). Conheci muita gente do meio, o movimento teatral da Praça Roosevelt.
Havia um sentimento de que o teatro era sua casa, mas na hora do vestibular titubeou e assinalou Jornalismo. Frequentou as aulas por quase dois anos e trabalhava em uma loja de roupas esportivas. Mas precisou decidir diante daquelas esquinas que a vida nos oferece. Antes dos palcos, quis aprimorar o inglês em um intercâmbio na Austrália e os três meses iniciais se transformaram em 12. Dando expediente como garçonete, conheceu uma companhia teatral. Retornou ao Brasil disposta a entrar para um grupo.
- Voltei em julho e em setembro já estava no Satyros. Esse processo foi penoso, mas muito gratificante, uma semana de testes. Era uma montagem muito grande.
Satyros, para quem não sabe, é uma companhia de teatro fundada em 1989, em São Paulo, por Ivam Cabral e o Rodolfo García Vázquez. São essencialmente experimentais e trazem no currículo os principais prêmios da área no Brasil.
"Minha vida não é a exposta"
Antes de falarmos da exposição da vida nas manchetes e do amor que não ousa dizer o nome, se é que vocês me entendem, relembro que escrevo para uma revista feminina. E conto que as mulheres da Redação ficaram ouriçadas quando nossa entrevista foi confirmada. Há uma nítida confusão entre a atriz e a personagem que se tornou ícone de estilo. Se pudesse, Maria andaria de All Star vermelho para sempre.
- Não dialogo nenhum pouco com o universo dela (a personagem Patricia, de Amor à Vida). Entra aí muito meu lado atriz, aprendi muito com ela, me encantava muito. Eu brincava com as meninas do figurino que a Patrícia sabia usar meu corpo e minha beleza de uma maneira completamente diferente do que eu sou. Tinha a ver com o universo dela - reforça, enquanto tira da orelha um dos brincos vermelhos, me entrega e fala:
- Nem brinco eu usava, comprei este numa feirinha perto de casa, acho que custou uns R$ 15. Minha mãe, inclusive, deu um grito e me perguntou o que era isso - gargalha.
Sigo com a lista de perguntas encomendadas sobre beleza e estilo.
Usa cremes?
- Não. "Um mínimo de produtos farmacêuticos", como diria Vinicius.
Como define seu estilo?
- Absolutamente indefinível.
E o cabelo, que se transformou em um dos mais procurados pelas telespectadoras?
- Ih, Cris, essa é boa. Um dia antes de fazer o teste para a novela, fui em um amigo cabeleireiro e pedi pra cortar bem curto. Cheguei em casa e não gostei. Peguei uma tesoura, coloquei Beatles na vitrola e fiz minha própria franja. Minha assessora ficou louca, mas foi a primeira coisa que a produção, quando fui aprovada, pediu para manter.
Nosso tempo está quase esgotado. Quero saber se o assédio é grande, se os homens a abordam, o que as mulheres falam.
- Acho que esse frisson das mulheres, não sei, tem a ver com o Caio, elas veem um pouco dele em mim - comenta, pensativa.
Bingo. Ao citar Caio Castro pela primeira vez me sinto à vontade para fazer a pergunta que já tem resposta em um simples clique no Google. Na verdade, pouco importa se o romance ultrapassou os limites da dramaturgia.
E como é ter a vida exposta da maneira como temos visto a sua?
- Aquela não é a minha vida. A minha vida não está exposta - encerra, serena, para logo depois fazer caretas para uma foto que tiro com o celular.
Agradecimentos
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