Às vezes, quando estou arrancando as ervas daninhas do jardim, ouço a vibração das asas do beija-flor antes mesmo de vê-lo mergulhar o bico na sálvia-azul (Salvia guaranitica), que ganhou o nome da cor forte de suas pétalas. As flores se desenvolvem em ramos altos que se mesclam à paisagem, contribuindo para o senso de movimento do jardim.
Outro dia desfrutei de um daqueles momentos raros que nenhum jardineiro pode planejar: as flores de sálvia, azuis e negras, perfeitamente misturadas aos botões brancos da vagem. Elas são as parceiras de dança perfeitas, pois fazem com que todas as outras plantas se destaquem.
Autoridade Allen Lacy cultiva mais de 100 espécies de sálvia
Foto: ROB CARDILLO, THE NEW YORK TIMES
Tenho outra espécie mais discreta, a sálvia-dos-jardins, que se ergue em meio aos pés de coentro, erva que, em um mês, chega a quase um metro de altura e abre pequenos tufos de florzinhas brancas. Em meio a essa nuvem branca, a sálvia vermelho-cereja se abre, à espera dos beija-flores.
O gênero sálvia pertence à família das lamiáceas, que inclui a hortelã, e é caracterizada por caule quadrado, folhagem perfumada e texturizada. Há mais de 900 espécies ao redor do mundo. Elas crescem nas mais variadas formas, tanto como plantas de jardins de pedras, com folhas finas, e versões de 1m80cm, com folhas texturizadas nos mais variados tons, desde o verde-limão até o oliva, e com flores azuis, roxas, vermelhas e até amarelas.
As flores se desenvolvem em ramos altos que se mesclam à paisagem, contribuindo para o senso de movimento do jardim
Foto: ROB CARDILLO, THE NEW YORK TIMES
VARIAÇÕES DA PLANTA
Tenho um pé de Salvia officinalis que sobreviveu a invernos rigorosos e às gavinhas da madressilva só para fazer brotar suas folhas meio grosseiras, verde-acinzentadas, dos galhos lenhosos. Ele virou um arbusto com talos de um metro de altura lotados de botões que exibem um branco arroxeado e se abrem em flores roxas. Outra espécie de que gosto muito é a sálvia-do-México, ou Salvia leucantha, que muita gente chama de bicolor por ter flores brancas combinando com cálices levemente arroxeados.
É possível tirar mudas dessas plantas no finzinho do verão, plantá-las em vasos e deixá-las em uma estufa ou solário durante o inverno. Você pode também desenterrá-la com a raiz e mantê-la no sótão ou na garagem.
No jardim, esta espécie faz as outras plantas se destacarem
Nós, jardineiros malucos, quando nos apaixonamos por uma planta, queremos todas as versões dela. Por isso não fiquei surpresa quando Allen Lacy, cujos livros de jardinagem enchem minha estante, me enviou um e-mail para falar das 100 variedades de sálvia que plantou em Nova Jersey. É o que ele chama de "o menor arboreto do mundo". Lacy, como eu, detesta ver pés mirradinhos de sálvia. Essas flores são um bom exemplo do que acontece quando cultivadores pegam uma espécie maravilhosa - no caso, a brasileira alegria-dos-jardins - e a transformam em uma "planta de shopping". Na natureza, ela é um arbusto vigoroso que chega a 2m70cm, com folhas brilhantes e talos floridos de quase um metro.
Suas flores vermelho-berrante são dramáticas. Mas, reduzidas a talos de 25cm, ficam ridículas. No entanto, Lacy descobriu que muitas versões da sálvia foram poupadas desta desgraça. O destaque do seu jardim é a Faye Chapel, uma variação magnífica da alegria-dosjardins, com folhas escuras acetinadas. Lacy a plantou em um vaso imenso em uma trilha iluminada - só para mostrar do que ela é capaz quando os enxertadores não tentam transformá-la em uma sálvia anã.
No jardim, esta espécie faz as outras plantas se destacarem
Foto: ROB CARDILLO, THE NEW YORK TIMES
Paisagismo
As peculiaridades das flores de sálvia
Conhecida como alegria-dos-jardins, espécie é valorizada por cultivadores
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