Se Carolina Herrera tivesse uma marca registrada, como pessoa física e jurídica, seria a camisa branca: corte impecável, gola “v” e um rigor incomparável. Uma peça tradicionalmente masculina que tornou-se imponente e feminina nas mãos da designer venezuelana. Acompanhada de calça de alfaiataria em cor vibrante e tecido suntuoso como cetim, saia lápis e colar de pérolas ou com saia longa e diamantes em um baile de gala, a peça é sua mais fiel companheira e maior símbolo de seu legado como artista. Pense em criações atemporais, estampas florais, cores fortes e feminilidade permeando cada peça com um toque de glamour vintage.
Sem dúvidas esses elementos se encontram e resultam na obra de Carolina Herrera.
Capaz de reinventar e emprestar um olhar apurado a itens mais comuns, sua sensibilidade é notória.
Favorita de nomes como Jackie O e Michelle Obama, não é por acaso que suas criações carregam esse ar poderoso, mas igualmente gracioso – a própria Carolina é a personificação dessa mulher com personalidade e sofisticação, mas sempre com um quê de inesperado. “Não trabalho na indústria da moda, trabalho na indústria da beleza”, dizia.
E essa frase resume bem sua forma de encarar a marca fundada por ela em Nova York, cidade que tem participação fundamental em sua evolução. Apesar das raízes sul-americanas, é lá que a estilista se sente em casa e ela considera Carolina Herrera uma marca norte-americana.
Quando percebeu que, em ambientes formais, a mulher passava a maior parte do tempo sentada, voltou sua atenção às mangas – afinal, elas servem como moldura para o rosto e não recebiam a devida deferência. Volumosas, com laços ou outros acabamentos especiais, as mangas tornaram-se protagonistas de muitas de suas criações nos anos 1980. Equilíbrio é palavra-chave: se a parte de cima é bordada ou com informação, a saia volumosa terá peso, mas nenhum detalhe, salvo por bolsos, dando vida à uma silhueta de princesa, mas imbuindo a personagem que a veste com muita confiança e emprestando aos looks uma atitude moderna. Testemunho de seu apelo que transcende tendências e segue imune aos ciclos da moda – até suas coleções iniciais oitentistas se mantêm firmes e parecem atuais nos dias de hoje.
Cintura marcada, formas limpas. O foco normalmente recai sobre o corte e a silhueta, ou nas estampas impossivelmente fortes. Também são famosos seus vestidos que parecem duas peças ou o uso de blusa e saias longas para festas, seus chemises com saia rodada e a presença frequente de listras, poás e florais marcantes – uma mistura perfeita do sangue latino com o refinamento da alta-costura, tudo envolto em uma praticidade nova-iorquina. Detalhes luxuosos e simplicidade caminham juntos: suas peças são feitas para fazer a mulher brilhar e trazer o que cada uma tem de mais interessante.
Dificilmente suas roupas chamam mais atenção do que a pessoa que a está usando, embora sejam muitas vezes extravagantes – quem as usa tem personalidade de sobra para predominar na equação. São roupas para viver e se divertir, que têm aparência de lady, mas com a dose certeira de individualidade e irreverência.
Hoje afastada do dia a dia da empresa, ela age como embaixadora de seu legado e sua melhor modelo, brindando a vida. Mas esqueça a taça de champanhe, porque ela prefere tequila.