Se no passado essa peça foi um dos símbolos máximos de submissão feminina, castrando movimentos e atitudes, hoje ganha o status oposto. Virou um elemento de moda que representa a autonomia sobre o nosso corpo, uma tradução no vestir para os desejos de sensualidade que só dizem respeito a cada uma de nós. O corset, também chamado de corselete ou espartilho, é item-chave das tendências de inverno, em combinações singulares que traduzem a mescla entre glamour e despojamento, luxo e esportivo, sexy e andrógino, que tem tudo a ver com o espírito do agora.
O corset foi criado em meados do século 14 com a finalidade de manter a postura da mulher ereta, afinar a cintura, valorizar o busto. O modelo foi se transformando com o passar dos séculos, se tornando mais ou menos rígido, usado sobre ou sob a roupa, mas sempre com o intuito de modelar o corpo, principalmente a região da cintura, valorizando os seios, de forma dura e dolorosa, e limitando movimentos e autonomia. Com estruturas rígidas, os corsets apertavam o corpo feminino a ponto de provocar falta de ar e até mesmo a perfuração de órgãos quando alguma das peças usadas na construção se deslocava do lugar. Pois é. Se a mocinha desmaiava, quase nunca era de amor, viu? Era de aperto.
No final do século 19, para se ter uma ideia, os espartilhos eram tão apertados que as mulheres não conseguiam mais se abaixar. Foi somente no início do século 20, com estilistas como Paul Poiret traduzindo os anseios femininos de sua época, de mulheres trabalhando e da popularização das práticas esportivas, que os espartilhos começaram a se tornar mais leves, liberando os movimentos.
Versão renovada
A morte do espartilho está intimamente ligada à Primeira Guerra Mundial. Com os homens lutando na frente de batalha, as mulheres foram convocadas a assumir os trabalhos nos campos, nas cidades e nas fábricas. O trabalho operário exigia espartilhos menores, mais confortáveis e simples. Além disso, as classes altas não contavam mais com grande criadagem, o que fez com que as damas optassem por modelos de corpetes mais simples e fáceis de vestir.
Se antes era símbolo de opressão feminina, um incômodo que enrijece a liberdade da mulher, o corset ganha novos significados em cada retorno. Nos anos 1970 e 1980, por exemplo, surgiu como símbolo de transgressão hippie e punk. Afinal, a vestimenta que antes machucava e oprimia as mulheres passou a ser usada para o empoderamento feminino. Com tecidos leves e românticos para o estilo hippie e versões sensuais e ousadas para o estilo punk, a peça virou desejo em cada época.
Hoje, o corset surge repaginado, mantendo o visual que contorna o corpo, mas sem rigidez, apenas em efeito. Tem os mais diferentes materiais, das sedas e cetins, que remetem à roupa intima, ao couro e às lãs, que aproxima a peça da alfaiataria e da elegância. As versões cropped, mais curtinhas, são as favoritas - e, como no passado, também pode ser usado sobre ou sob outras peças. Encontre o seu e o seu jeito de usar.