Sei que deveria estar escrevendo sobre o Natal. É o que todo mundo espera nesta época. Mas resolvi que quero falar sobre arroz! Arroz branco, soltinho e cheiroso. Não sei se tem na vida sensação melhor do que comer um arroz que acabou de ser preparado. Será que tem?
Minha Vó Iracema preparava um arroz branco com uma maestria de me fazer inveja. Vira e mexe ela dizia: mas você, chef premiada, conhecida no mundo inteiro, agora vai ficar impressionada com um simples arrozinho? Pois é, Vó, mas a mágica que a gente persegue, e muitas vezes não encontra, está justamente aí.
Cozinha é conexão, é raiz, é gesto, é lembrança, é técnica, mas também é afeto. Por mais que eu tenha viajado quase o mundo inteiro falando sobre comida brasileira, e comendo coisas incríveis, a sensação de saborear o arroz branco soltinho preparado pela minha Vó não tem comparação. Não há dicionário gastronômico que defina esse sentimento.
Começava pelo gesto, a panelinha tinha que ser aquela que ela gostava. Pequena, na medida. Ainda que fosse fazer uma quantidade maior, aquela era a panela escolhida. Mas, Vó, não vai caber! Te escapa guria, vai cuidar da sua cozinha premiada, de arroz branco entendo eu!
E como entendia. O gesto se prolongava e se ajeitava na destreza. Movimentos firmes, mas tão delicados ao mesmo tempo. Uma cozinha simples é muito complexa, saibam disso. Não há nada a esconder, está ali, de peito aberto!
Água na medida, sempre fria, por mais que a cozinha afetiva teime em contrariar certas regras, no final ela prova que estava certa. O resultado está sempre ligado a algo que se conecta fortemente com algum sentimento que está lá guardadinho. E, por isso mesmo, pouco importa se está certo ou errado no manual, importante mesmo é o resultado!
O arroz de Vó Iracema não tinha e não tem igual. A lembrança me conforta.
E por falar em lembranças, aí sim me vem à mente o Natal. E lá vamos nós contrariar novamente todas as regras! Minha Vó era libertária, gostava de uma transgressão! Natal lá em casa tinha que ter salada de batata com maçã verde, sarrabulho e... arroz branco!
Agora, me perdoem os puristas, mas vou confessar: não tem nada mais gostoso do que misturar a salada de batatas, o arroz e o sarrabulho no prato!
Um feliz Natal para todos, recheado de lembranças boas, sejam elas ortodoxas ou não. Num ano como esse, chegar até aqui e poder misturar farofa com arroz e salada de batata é uma grande vitória!