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Autor do livro Feliz 1958 – O Ano que Não Devia Terminar (Record, R$ 42), o jornalista Joaquim Ferreira dos Santos afirma que “foi o ano em que tudo deu certo para o Brasil”. Do futebol à música, da política à economia, vários fatores fazem deste um ano marcante. E é neste período que se passa Garota do Momento, trama das 18h escrita por Alessandra Poggi. Quem acompanha a novela se sente imerso em um clima de muito rock and roll, saias rodadas e heroínas românticas. Embarque conosco nesse bonde rumo a 1958!
A taça é nossa!
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Foi em 1958 que a Seleção Brasileira conquistou sua primeira Copa do Mundo de futebol. No mundial realizado na Suécia, o elenco imbatível formado por Bellini (1930-2014), Didi (1928-2001), Garrincha (1933-1983) e Zagallo (1931-2024) trouxe o caneco pra casa o primeiro de cinco títulos que conquistaram ao todo. A Copa de 1958 também apresentou ao mundo um jovem de 17 anos que se tornaria o Rei do Futebol: Pelé (1940-2022). De Norte a Sul, o povo cantava, emocionado: “A taça do mundo é nossa, com brasileiro não há quem possa...”
Nasce uma Capital
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Sob o governo de Juscelino Kubitschek (1902-1976), Brasília começava a tomar forma. A ideia de construir a Capital Federal no centro do país finalmente sai do papel e, com Oscar Niemeyer liderando o projeto, são inaugurados os primeiros prédios, como o Palácio da Alvorada. Brasília só ficaria pronta dois anos depois, em 1960.
Publicidade
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As propagandas refletem muito do espírito de cada época. Na década de 1950, as mulheres eram retratadas como rainhas do lar, os homens como provedores, e alguns produtos bem peculiares eram anunciados em jornais e revistas. Era comum encontrar anúncios de vermífugo (“o mais moderno e poderoso medicamento contra lombrigas”), vitaminas para mulheres grávidas (“Gravidina contribui para um parto feliz”), produto para ondular o cabelo das crianças (“encanto e graça à beleza de sua filhinha”) e até laxante (“toda a família feliz”).
Os reclames também anunciavam os televisores mais modernos do mercado, buscando popularizar o aparelho, que na época era uma enorme caixa que ocupava boa parte da sala. E sem controle remoto, é claro.
Na telona
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O cinema nacional foi marcado pela estreia de Rio, Zona Norte, de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018). O longa é considerado o marco inaugural do Cinema Novo, movimento que se destacou por mostrar as desigualdades sociais e raciais do país. Entre as produções internacionais, o grande sucesso era Um Corpo que Cai, um dos filmes mais aclamados do mestre do suspense, Alfred Hitchcock (1899-1980).
Na telinha
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Nesta época, existiam apenas duas emissoras de TV: a pioneira Tupi e a Record. A Globo só entraria no ar em 1965.
Estreou em 1958, Éramos Seis, a primeira de cinco versões da obra de Maria José Dupré (1898-1984). Exibida ao vivo – ainda não havia o videotape – pela Record, a novela tinha dois capítulos semanais e foi a trama mais assistida do ano. No elenco, estavam Gessy Fonseca (1924-2018) como Lola, e Gilberto Chagas, como Júlio.
Bem antes de Hebe Camargo e Ana Maria Braga fazerem história como apresentadoras de TV, Maria Thereza Gregori (1926-2013) apresentava o Revista Feminina, na extinta TV Tupi. Considerado o precursor das atrações voltadas para as mulheres, trazia temas como moda, culinária, medicina, saúde, arte e a divulgação de eventos.
Citado na novela das seis por Alfredo Honório (Eduardo Sterblitch), Flávio Cavalcanti (1923-1986) era o ícone da televisão na época, à frente do programa Um Instante, Maestro!, na TV Tupi.
Música
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A juventude dos anos 1950 dançava ao som de rock and roll, com canções de Elvis Presley (1935-1977) e Chuck Berry (1926-2017), que não à toa, dominam a trilha sonora de Garota do Momento. Para os mais românticos, a pedida eram as músicas “de fossa” na voz de Cauby Peixoto (1931-2016), Nelson Gonçalves (1919-1998), Angela Maria (1929-2018) e Emilinha Borba (1923-2005).
O ano de 1958 marcou o surgimento de um novo estilo musical: a bossa nova. Foi neste ano que João Gilberto (1931-2019) lançou Chega de Saudade, canção que marca o início do movimento que misturava samba e música erudita.
Miss Brasil
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Em Garota do Momento, Beatriz (Duda Santos) sonha com o dia em que uma negra receberia o título de Miss Brasil. Isso só foi acontecer em 1986, quando a gaúcha Deise Nunes recebeu a faixa. Em 1958, a mulher mais bela do Brasil foi a carioca Adalgisa Colombo (1940-2013).
Literatura
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Jorge Amado (1912-2001) já era um autor consagrado após a publicação de obras como Mar Morto e Capitães da Areia, mas foi em 1958 que ele criou uma das grandes personagens femininas da literatura brasileira: Gabriela, Cravo e Canela. Mesmo quem não leu o livro conhece bem a história, que ganhou versões para o cinema, em 1983, com Sônia Braga, e duas adaptações para a televisão: em 1975, também com Sônia Braga, e 2012, com Juliana Paes no papel principal. “Quando eu vim para este mundo, eu não atinava em nada, hoje eu sou Gabriela...”
Nos Estados Unidos, era lançado por Truman Capote (1924-1984) o livro Breakfast at Tiffany’s, que alguns anos depois foi adaptado para o cinema como Bonequinha de Luxo, com Audrey Hepburn (1929-1993).
Sociedade
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Quem acompanha a trama das seis deve ter estranhado quando Juliano (Fábio Assunção) disse a Clarice (Carol Castro) que era um ótimo marido por deixá-la trabalhar fora. Pois é, naquela época, as mulheres só exerciam ocupações fora de casa com autorização do pai ou do marido. A legislação só mudou em 1962, com o Estatuto da Mulher Casada, que possibilitava às mulheres também receber herança, comprar ou vender imóveis, assinar documentos e viajar.
Eram comuns também, como mostra a novela, escolas para moças, instituições que ensinavam às jovens regras de etiqueta e comportamento, tudo visando a arrumar um bom casamento.