A morte de uma segunda transexual em menos de um mês no centro de São Paulo impulsiona os primeiros minutos de Toda Forma de Amor, nova minissérie do Canal Brasil. Quem dirige a produção é Bruno Barreto, um dos mais importantes realizadores do cinema brasileiro (é autor de, entre outros títulos, Dona Flor e Seus Dois Maridos, de 1976). Abordando essa realidade criminal, Toda Forma de Amor trata de relações amorosas entre pessoas de todos os gêneros e orientações sexuais.
— A cidade de São Paulo é uma metrópole onde as pessoas são muito sozinhas e por isso precisam muito de algum afeto. Falamos sobre a condição humana — explica Barreto, em entrevista por e-mail a GaúchaZH.
Em cinco episódios, a minissérie destaca diferentes pontos de vista. Um deles é o da drag Milinho (Daniel Infantini), que está prestes a se casar com o coordenador de políticas LGBT+ da capital paulista, Claudio (Otavio Martins). Este lidera as investigações em busca do autor dos crimes, insatisfeito com a apuração da polícia. Outro é do pastor Roberto Alvim (Juan Alba), que deseja se lançar como deputado e se opõe ao trabalho de Claudio.
Ao mesmo tempo, Toda Forma de Amor retrata a descoberta da sexualidade de Marcela (Gabrielle Joie), em conflito com a mãe que não aceita a filha como trans. Marcela ingressa no grupo de terapia da psicóloga Hannah (Guta Ruiz). Milinho, o crossdresser heterossexual Paulo (Eucir de Souza) e a transexual Bianca (interpretada pela atriz trans Wallie Ruy) também fazem parte das sessões.
Continuidade
Para completar os dilemas tratados por Hannah, o casal hétero Clara (Christiana Ubach) e Pedro (Alexandre Cioletti) atravessa um período conturbado no casamento. Nesse turbilhão de personagens, a primeira temporada de Toda Forma de Amor cria a expectativa para uma continuidade.
— Acho sim que a história rende várias outras temporadas, sobretudo por causa da empatia deles (os personagens). Você fica com vontade de encontrá-los pelo menos uma vez por semana — aposta Barreto.
O roteiro da série é de Marcelo Pedreira, que começou a desenvolver o texto na década de 1990, e foi retirado da gaveta agora com o convite feito por ele mesmo a Barreto, que aceitou a direção e desejava uma obra verossímil. Segundo o cineasta, poucas mudanças foram necessárias no texto original, já que Pedreira “estava bem à frente do seu tempo”.
Representatividade
Uma das surpresas para Barreto na pré-produção de Toda Forma de Amor foi a entrada de Gabrielle Joie para o elenco. O diretor destaca que, durante a seleção do elenco, não queria seguir à risca “a camisa de força do politicamente correto” ao ter que escalar uma transexual para interpretar uma personagem trans. O Canal Brasil pediu para ele realizar o teste com Gabrielle, que também atua como Michelly em Bom Sucesso, atual novela das sete da Globo.
– A Gabrielle foi a primeira a ser testada… e a única. Ela é uma atriz nata, na essência da palavra, sem nenhum exagero – garante Barreto. – Além do talento e disciplina para atuar, é muito inteligente, por isso acabou trazendo muitos elementos para a personagem, inclusive cenas adicionais.
Toda Forma de Amor
Sextas-feiras, 22h30min, Canal Brasil.
Reprises: segundas, 0h15min; e domingo, 2h