As piadas inusitadas e a disposição para dançar, cair no chão e pagar alguns micos pelas manhãs na televisão marcaram a participação de Fernando Rocha na Globo. Sua saída do Bem Estar, anunciada na quarta-feira (27) após 10 anos à frente do programa, pegou o jornalista de surpresa: longe das câmeras de uma hora para outra, ele acabou se despedindo do público pelas redes sociais.
Em entrevista na manhã desta quinta-feira (28) ao Timeline, da Rádio Gaúcha, Rocha falou sobre a sensação de estar fora do programa que ajudou a construir. O Bem Estar surgiu em 2009 como um projeto para falar sobre saúde e formas saudáveis de viver, e Rocha, que já era conhecido na emissora pelo perfil carismático, foi chamado para ajudar a pensar no conceito do programa, que teria sua estreia em 2011.
— É quase um velório. Um clima de luto. Quando fiquei uma semana cobrindo a tragédia de Brumadinho, dava para ver que alguma coisa estava mudando. O rumo do programa estava mudando. Quando a gente ficou com tempo reduzido de 20 minutos, depois de ter tido 45 minutos no ar, foi perdendo a relevância, a alegria. (O programa) Passou a privilegiar a doença, a tragédia. Quando a notícia era a doença, e não mais a saúde, o rumo foi mudando. Olhando para trás, a gente percebe que a mudança estava ali — disse o jornalista, cujo contrato com a Globo será encerrado apenas em agosto.
A respeito da mudança editorial do programa, que, em sua visão, passou a dar mais espaço para notícias em vez de orientar mudanças de comportamento, Rocha disse que acredita ser possível que a TV trate de temas sérios ao mesmo tempo em que abre espaço para a descontração. Citou o próprio exemplo: no Bem Estar, assumiu o desafio, em 2015, de emagrecer 20 quilos, missão que o público pôde acompanhar.
— Eu, particularmente, acho que as duas coisas combinam. Você pode estar ao vivo e ter alegria nisso. Tenho orgulho de ter transformado a vida de milhões de brasileiros. Uma mudança na qualidade de vida. Eu fui o próprio exemplo. Emagreci, corri, dancei. Fui dançando tanto que no final quem dançou fui eu — brincou.
Foi provocado a falar sobre a piada mais popular feita no programa, a da clara com o ovo. Seu colega no estúdio, o médico Roberto Kalil Filho, convidado a dar opiniões especializadas sobre saúde e comportamento, demonstrou não ter achado graça na história, o que contribuiu para que o momento entre os dois viralizasse e se tornasse "meme".
O doutor Kalil tava com um mau humor... ele ficou brabo e não gostou da piada. Ali, o programa começou a mudar
FERNANDO ROCHA, EX-APRESENTADOR DO "BEM ESTAR"
— Era uma historinha bonitinha que diz o seguinte: a clara, no momento em que quebra e se separa da gema, melancólica e chorosa, fala para a gema: "A gente se encontra dentro do bolo". Mas nunca ninguém conseguiu filmar esse encontro. Nesse dia, a gente estava fazendo um programa sobre a tecnologia de imagem, as novas tecnologias que existem hoje para antecipar cirurgias. O doutor Kalil tava com um mau humor... ele ficou brabo e não gostou da piada. Ele não gostou da história. Isso foi fundamental para que eu parasse de contar piadinhas e historinhas. Ali, o programa começou a mudar. A direção do programa gostou muito menos e eu parei de contar histórias. Mas o público gostou muito e as pessoas ficaram querendo que eu contasse mais. Hoje posso contar, já que não faço mais parte do programa: encerrou o ciclo aí — declarou.
O humor ressabiado do colega de Bem Estar tinha uma razão: horas antes, ele havia recebido a notícia de que um paciente estava em estado grave. Rocha explicou:
— Depois, ele (Dr. Kalil) riu. "Foi muito engraçado, mas eu tava com um paciente esperando." O paciente chegou a falecer. Ele não podia rir. A última coisa que ele queria era achar graça de uma piada. Ele não podia me contar isso. Se tivesse me avisado, eu não falaria isso (a piada). Depois me vinguei dele: ele me conta uma piada e eu falando "não achei graça nenhuma". Essa eu achei bem pior: "quero te contar uma história do camarãozinho que tava bem triste".
Nos próximos meses em que estiver vinculado à Globo, o jornalista pretende aceitar convites que não conseguia por conta do compromisso de gravar diariamente o programa.
— Estou livre para projetos dentro ou fora da Globo. A prioridade são os projetos dentro da Globo, onde estou há 30 anos. Estou no entretenimento e tenho essa prerrogativa. Fazer uma programa diário é um desgaste muito grande. Tenho convites para palestras que não conseguia dar conta. Espero ter tempo para isso. Vou fazer coisas que gosto. Estou aberto a esses novos desafios que vão aparecer.