Mais até do que as intrigas em um universo medieval ou a atmosfera fantástica de feitiçaria, dragões, zumbis de gelo e gigantes, um dos pontos mais característicos de Game of Thrones, tanto a série de TV como os livros da coleção As Crônicas de Gelo e Fogo de George R.R. Martin, é a riqueza de seu universo de personagens.
Com um elenco gigantesco, ao longo de sete temporadas, a adaptação televisiva da saga (que estreia neste domingo na HBO) apresentou uma ampla seleção de criaturas que cativaram o público pela sua complexidade moral, pela sua aberta vilania ou pelo carisma heroico – e nos três casos, muitas vezes essas marcantes qualidades não foram o bastante para que os personagens sobrevivessem até esta sétima temporada.
Abaixo, confira uma seleção de 20 desses personagens: vilões psicóticos cujo fim foi saudado com hurras pela maltratada plateia, fanáticos embriagados pelas próprias certezas, líderes esmagados pelo peso de suas responsabilidades, especialistas em sobrevivência que não previram um passo em falso. E, finalmente, os pranteados heróis que, por um momento, poderiam ter redimido a crueldade de um mundo em que ninguém está seguro.
Lysa Arryn
Irmã mais nova de Catelyn Stark, a desequilibrada Lysa foi referência de bizarrice a cada nova aparição. Mãe superprotetora, instável e obcecada pelo seu amor de juventude, o esquivo Mindinho, pareceu que seria um novo entrave no caminho de Sansa, até ser empurrada pelo amante (e cúmplice desde o início nos atos que deram movimento à série) para voar Ninho da Águia abaixo.
Jojen Reed
Quando tudo parecia perdido para os Starks mais jovens, Jojen e sua irmã Meera apareceram para guiar o jovem Bran, fisica e espiritualmente. Com um dom extrassensorial chamado de "A Visão Verde", Jojen ajudou Bran e seu protetor Hodor a passarem além da Muralha e a chegarem até a caverna do "Corvo de Três Olhos". Morreu em um ataque do exército dos mortos.
Viserys Targaryen
Irmão mais velho de Daenerys, filho do rei louco Aerys, casou a irmã com Khal Drogo na esperança de usar o exército de seu cunhado para retomar o Trono de Ferro. Arrogante, fraco, dominador e mantendo com a irmã um relacionamento vagamente incestuoso, finalmente tirou Khal Drogo do sério – e o líder bárbaro matou Viserys derramando sobre ele um caldeirão de ouro derretido.
Ygritte
Infiltrado como um agente duplo entre os selvagens que se preparavam para atacar a muralha, Jon (e parte da audiência) se apaixonou pela indomável Ygritte, a arqueira do "povo livre" vivida por Rose Leslie. A coragem e o espírito livre da guerreira foram em parte responsáveis pela forma como o "jovem Corvo" mudou de perspectiva com relação aos selvagens.
Khal Drogo
O senhor da guerra dos Dothraki vivido por Jason Momoa ainda ecoa na memória dos espectadores, mesmo que sua participação efetiva tenha se dado apenas na primeira temporada. Embora tenha praticamente comprado Daenerys de seu irmão, a relação entre ela e Drogo floresceu como afeto genuíno. Invencível no campo de batalha, foi derrotado pela infecção de uma ferida e pelas artes de uma bruxa cativa.
Mance Rayder
Ex-integrante da Patrulha da Noite que se tornou líder dos selvagens além da Muralha, Mance provou-se um líder carismático e um refinado estrategista (só não tomou a Muralha devido à chegada da cavalaria de Stannis). A interpretação nuançada de Ciarán Hinds combinava crueldade e nobreza: o pragmático Mance quer atravessar a muralha a qualquer custo, para salvar seu povo do terror que vem com os exércitos da noite.
Robert Baratheon
Sua primeira aparição é sob uma luz favorável: o rei de Westeros chega propondo a um homem decente, seu antigo melhor amigo Ned Stark, que seja seu ministro de Estado. Robert, entretanto, era um personagem complexo: homem de bravura e coragem, mas também um bêbado arrogante com parcos talentos administrativos. Sua morte num acidente de caçada, orquestrado por Cersei, precipita o caos em Westeros.
O Alto Pardal
Elevado por Cersei ao mais alto cargo da fé em Porto Real, convence-a a aumentar gradativamente seu poder até que sua visão rígida das escrituras começa a determinar as normas no Reino, sem ligar para conveniências aristocráticas. Até ser mandado pelos ares em mais uma tramoia bem sucedida de Cersei, o Alto Pardal vivido com ricas nuances por Jonathan Pryce, foi uma das figuras mais interessantes da série.
Shae
Trazida para a capital do Reino, desafiando as ordens do austero Tywin, a prostituta Shae foi concubina de Tyrion e dama de honra de Sansa. Foi também uma esperança de afeto verdadeiro para o cínico Lannister mais novo. Seu depoimento no júri que buscava a condenação de Tyrion pela morte de Joffrey e a descoberta de que ela agora era amante do mesmo austero Tywin representaram um baque que Tyrion exorcizou matando a ambos e fugindo para o ponto mais distante do mundo.
Stannis Baratheon
Por um momento, pareceu que Stannis talvez fosse o herói não que a série precisava, mas que merecia. Rígido ao ponto do fanatismo, o irmão de Robert se via como o escolhido para combater o exército dos mortos e o legítimo herdeiro do Trono de Ferro. Seu apoio a Jon Snow também garantiu uma certa simpatia, até o momento em que, aliciado por Melilsandre, queimou a própria filha. Sua morte (ao menos aparente) nas mãos de Brienne não foi lamentada.
Shireen Baratheon
Em uma história repleta de canalhas, a menina Shireen, filha de Stannis Baratheon, representava uma parca fagulha de inocência no mundo brutal de Game of Thrones. Doce e gentil, seus esforços bem-sucedidos para ensinar Sor Davos a ler podem ter mudado a história do continente. Sua morte, queimada em sacrifício pelos próprios pais sob orientação de Melisandre, foi um dos momentos mais traumáticos de toda a série.
Margaery Tyrell
Margaery foi, brevemente, uma rival à altura de Cersei. Bela e insinuante, mas também hábil politicamente, a jovem Tyrell flertou três vezes com o trono: como noiva do rebelde Remly e do perigoso Joffrey e, enfim, como esposa do cordato Tommem. Construiu uma imagem de "princesa do povo" fazendo doações e visitas aos pobres, fingiu uma conversão religiosa para escapar do Alto Pardal mas pereceu na explosão do Septo de Baelor urdida por Cersei.
Hodor
O gigante gentil vivido por Kristian Nairn cresceu como cavalariço em Winterfell, lar dos Stark. Prejudicado intelectualmente mas com uma força descomunal, tornou-se o protetor fiel e "as pernas" do jovem Bran. Sua morte, na sexta temporada, servindo como última defesa para um fugitivo Bran contra os Caminhantes Brancos, também foi marcante por revelar a história por trás do "Hodor", quase a única palavra dita pelo personagem em toda a série.
Oberyn Martell
Sensual e arrojado, Martell foi uma breve esperança solar (até na exuberância de seus figurinos) na quarta temporada. Imbuído do propósito de vingar a morte de sua irmã, aceitou enfrentar Gregor Clegane, a Montanha, como campeão de Tyrion (acusado pela morte de Joffrey). As esperanças do anão e da audiência foram literalmente esmagadas quando, traído pelo excesso de confiança, Martell permitiu que o adversário virasse o jogo.
Joffrey Baratheon
Herdeiro do trono por supostamente ser filho do rei Robert, Joffrey, na verdade fruto do relacionamento incestuoso entre Cersei e Jaime, passou logo a um dos personagens mais odiados da primeira metade da série. Mimado e covarde, mas muito cruel, torturou psicologicamente Tyrion, Sansa e qualquer um que atravessasse seu caminho. Até ser envenenado no próprio casamento.
Ramsay Bolton
Em uma série com personagens cheios de contradições, Ramsay foi um dos mais planos e caricatamente odiosos: castrou e quebrou a mente de Theon, estuprou Sansa na noite de núpcias, matou o próprio pai, fez a madrasta e o meio-irmão serem devorados por cães. Sua morte, estraçalhado pelos próprios animais, foi uma catarse e uma vingança para a agora bem menos ingênua Sansa.
Catelyn Stark
Poucos habitantes de Westeros tomaram ações de repercussões tão drásticas quanto a mãe dos Stark. Sua insistência em se ver livre do bastardo do marido levou Jon Snow à Patrulha da Noite. Ao capturar Tyrion por um atentado contra seu filho Bran, ela precipitou o conflito entre os Stark e os Lannister. Mais tarde, libertou Jaime, prisioneiro de guerra de seu filho Robb. Sua última aparição na série se dá pouco antes de ser assassinada com Robb, sua nora e seus aliados.
Robb Stark
Robb, filho mais velho de Ned e Catelyn, foi por algum tempo o avatar do público que torcia por um troco aos Lannister. Impetuoso, valente e um promissor estrategista, liderou uma rebelião dos reinos ao Norte que foi bem-sucedida até ele se apaixonar pela forasteira Talisa e quebrar uma promessa de casamento feita ao vingativo Walder Frey – o que levou à traição orquestrada entre Frey, Roose Bolton e os Lannister no Casamento Vermelho.
Tywin Lannister
Ninguém soube dominar um ambiente com a fria autoridade de sua presença como o patriarca dos Lannister vivido por Charles Dance. Calculista e disposto a tudo pelo sucesso de sua família, foi um estrategista que não se furtou a golpes sujos, como orquestrar o massacre à traição de seus adversários. Um homem tão cioso de sua própria autoridade não foi poupado da ironia de morrer sentado na latrina, alvejado por Tyrion com as flechas de uma besta.
Eddard Stark
Nobre, corajoso, decente e o mais próximo que a série teve de um herói, Ned Stark caiu em desgraça por confiar em excesso na justeza de seus princípios, confessou uma traição que não cometeu e, para choque da audiência, foi decapitado. Sua morte enviou um recado aos espectadores, ao menos àquela maioria que ainda não conhecia a narrativa dos livros: não se apegue aos personagens e não espere que um "protagonista" sobreviva.