Como muitos atores de sucesso, Iwan Rheon, mais conhecido como o odioso vilão Ramsay Bolton de Game of Thrones, sem dúvida o homem mais execrado da TV no momento, admite se preocupar com o fato de estar sendo definido por um personagem só. Porém, ao responder a pergunta seguinte – “Em que mais você está trabalhando?” – fica claro o tamanho do desafio enfrentado.
– Estou fazendo uma versão jovem de Hitler – responde, referindo-se ao filme para a TV britânica Adolf the Artist. – Já virei um ator estereotipado.
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Essa é a vida do homem por trás do personagem que, em três temporadas de Game of Thrones, se tornou o símbolo dos impulsos mais sombrios e perturbadores da série. Desde que chegou, na pele de um sádico, na terceira temporada, esse ex-bastardo ambicioso cresceu para não só representar a obsessão dinástica da história como infligir algumas de suas piores violências. A lista inclui esfolar e castrar os inimigos, caçar uma garota só por diversão e, a mais controversa, estuprar sua noiva/refém, Sansa Stark (Sophie Turner), na noite de núpcias. E o fato de fazer tudo isso com um sorriso infantil no rosto o torna muito mais desgraçado.
Rheon explica que criou Ramsay como a mistura do Coringa alucinado de Heath Ledger e Denis, o Pimentinha, com um toque de Liam Gallagher, o ex-vocalista mal-humorado do Oasis. O resultado lhe garantiu o topo de muitas listas dos “mais odiados” da internet. Em dezembro passado, os leitores do The Atlantic elegeram Ramsay como “o pior personagem da televisão”, batendo Hannibal Lecter e Walter White (de Breaking Bad), além de Joffrey Baratheon, o desprezível rei-menino que Ramsay substituiu como o vilão-símbolo de Game of Thrones.
– Depois que perdemos Joffrey, ficou um buraco no “espaço psicopata” do mundo de Thrones, mas Iwan acrescenta um toque de horror, uma insanidade que Joffrey nunca teve. Precisávamos ter alguém a quem odiar. E adoramos odiá-lo – diz Sophie Turner.
Na sexta e nova temporada, Rheon dá a entender que Ramsay irá além, chegando até a sentir algo próximo à emoção humana ao lamentar a morte de uma namorada, ocorrida no final da fase anterior. É claro que ele também está louco de ódio com a fuga de seus prisioneiros, Sansa e Theon (Alfie Allen), o jovem que ele castrou, forçou a viver como escravo e rebatizou de Reek (“Fedor”).
Ator fez teste para ser Jon Snow
Rheon, 30 anos, assume a posição de mais odiado com facilidade. O galês que hoje vive em Londres se diverte com a fama e garante que é “uma honra”. No geral, os fãs não o culpam pelas atitudes de Ramsay, e a realidade técnica da produção impede que as más ações de seu personagem pesem em sua alma. As castrações, por exemplo, envolvem um pedaço de borracha e uma faca falsa, que ele tem só que segurar para que a luz registre os ângulos mais malévolos, deixando pouco espaço para a preocupação excessiva com a dimensão moral do ato. Uma exceção foi o estupro de Sansa, na temporada passada.
– Foi muito complicado. Não consegui dormir – confessa.
Em Game of Thrones, Rheon fez teste para disputar o papel do heroico Jon Snow, que, como se sabe, foi para Kit Harington. Acabou entrando para a série na terceira temporada. A tortura que Ramsay infligiu a Theon, durante todo aquele ano, testou a paciência do público, mas sua profundidade se revelou quando ficou óbvia a motivação, uma mistura tóxica de adoração e ressentimento pelo pai, Roose Bolton (Michael McElhatton).
– A combinação de garotinho e psicopata faz de Ramsay muito mais que um vilão caricato – afirma McElhatton.
E também o coloca como parte do ciclo multigeracional brutal de legado e vingança que move Game of Thrones, mesmo que o ator ainda não saiba direito por que se adequou tão bem.
– Fico tentando descobrir o motivo, mas é difícil analisar objetivamente por que acabo sendo escalado para dar vida a tantos tipos estranhos. Os olhos grandes, será? – arrisca Rheon. – Bom, não estou reclamando, não – conclui.
* Jeremy Egner, The New York Times