Animes, mangás, cosplays, jogos de tabuleiros e tudo mais que envolve o universo da cultura geek podem ser novidade para muita gente, mas ganham cada vez mais espaço e atraem milhares de pessoas. O AnimeExtreme, criado em 2001 em Canoas, está na sua 32ª edição e atraiu mais de 30 mil participantes neste sábado (14) e domingo (15) no Centro de Eventos da Fiergs.
Tudo começou com dois adolescentes que, na casa dos seus 17 anos, decidiram reunir os amigos que eram fãs de animes como Cavaleiros do Zodíaco e trocavam fitas de videocassete. Na época, a internet ainda engatinhava: ainda assim, atraíram mais de 500 pessoas.
— Eu acho que eu sempre tive um tino mais empresarial, mais empreendedor e vi a oportunidade de unir aquilo que eu gostava com algo que pudesse realmente se transformar na minha profissão. Então, nós batalhamos bastante ao longo dos anos para construir a marca até que lá em 2006, 2008, realmente começou a dar um lucrinho, começou a realmente se transformar num negócio de verdade — relembra Márcio Sironi, 41 anos, dono da marca junto do sócio Darcy da Silva.
Aos poucos, eles foram conectando tribos que, no início dos anos 2000, não se comunicavam muito entre si. O evento se tornou conhecido como um local seguro para as pessoas expressarem os seus gostos por animes, RPG, board games, card games, mangás, cosplays, entre outras formatos de entretenimento.
— Comecei a curtir anime pelo meu filho, pelas minhas netas e aí eu me encontrei. Eu achei um espaço bacana. Tem todas as tribos reunidas. É muito legal isso — comenta Dina Lopes, que aos 60 anos foi pela segunda vez ao evento, junto da família. Através do incentivo do filho, nessa edição ela foi caracterizada de camponesa medieval.
Dina é fã de doramas, produções audiovisuais asiáticas que vêm ganhando espaço no Brasil, assim como o k-pop, gênero musical coreano que ganhou espaço dedicado.
— O Animextreme é um evento muito camaleão. A gente une essa galera toda o que acaba ajudando muito porque conforme a onda vai passando, a gente vai se remodelando também. Há tempos atrás, a moda era os dubladores. Todo mundo queria conhecer quem faz a voz do seu personagem preferido. Depois de um tempo, isso foi caindo um pouco e aí entraram os Youtubers. E assim a coisa vai passando, né? Hoje, talvez, o grande boom é o K-Pop. A gente tem um palco direcionado ao K-Pop, à cultura coreana, que vem muito forte — revela Sironi.
Espaço para negócios
Além dos fãs, o evento também atrai diversos empreendedores. Neste final de semana, havia mais de 80 expositores espalhados pelo pavilhão. Era possível encontrar produtos artesanais e de grandes marcas.
Conforme o diretor comercial da Lojanime, de São Paulo, Paulo Brito, os empreendimentos na área surgem depois de consumidores encontrarem algum problema de atendimento ou de qualidade. É a frustração na hora de comprar produtos do nicho que percebem a possibilidade de negócio.
— Um fator que faz você abrir um negócio como esse é a qualidade. Você compra em lojas, você vê um parâmetro de qualidade péssima e fala “e se eu melhorar isso?”. Percebemos que o mercado estava mudando e começamos a investir em licenciamento. Para conquistarmos o mercado, também investimos em um tecido novo, de qualidade, onde conseguimos oferecer garantia de seis meses nas nossas camisetas — comenta Brito.
De geração em geração
Como mais de 30 edições e 20 décadas de evento, o Animextreme também se tornou um local de encontro de gerações. Entre os corredores, era possível encontrar famílias inteiramente caracterizadas. Tinha desde pais que se vestiam para apoiar os filhos aos que já eram fãs e foram os responsáveis em introduzir a nova geração no universo dos animes, super-heróis entre outros.
— No início eles não tinham muita vontade de vir, porque achavam besteira. Mas quando coleguinhas dos meus filhos começaram a aparecer, eles começaram todo ano a pedir para vir e fazer algo diferente. Para o ano que vem eles já tem os personagens definidos que querem vir — conta Floriano Júnior, 47 anos, que é pai da Vivian, 13 anos, e do Vinícius, 8 anos, e estava caracterizado de jedi, personagem do universo de Star Wars.
O pai revela, orgulhoso, que a filha produziu pela primeira vez sozinha uma caracterização: Coringa, vilão do Batman. A direção do evento saúda o incentivo à criatividade.
— Nós sempre tentamos cultuar e proporcionar um lazer saudável. E o cosplay é uma parte muito forte. Ele te ensina a ter desenvoltura de palco, a perder a vergonha de estar em um grande público, te ensina a trabalhar com materiais para construir a sua própria fantasia. Isso a gente vê como algo benéfico, algo que constrói a pessoa, que traz um valor, algo que tu vai levar pra tua vida — explica Sironi.
Geizon Campos, 40 anos, aproveitou a fantasia de carnaval de He-Man para, junto de Janete Taborda, 46 anos, acompanhar o filho do casal no evento. Rafael Aquiles, 11 anos. Ele conheceu o seu primeiro anime, Naruto, por meio do pai. Começou, então, a mergulhar no universo e a explorar novos títulos. Moradores de Porto Alegre, adiaram o início do veraneio no litoral gaúcho para poder participar pela primeira vez do evento.
Quem também participou pela primeira vez do Animextreme foi a pequena Ellie e os seus pais, Lucas da Rosa, 25 anos, e Mariana Costa, 24 anos, de Nova Prata. O casal já havia comprado os ingressos do evento quando descobriram que seriam pais e, para entrar no clima, decidiram por irem todos caracterizados.
— Essa cultura de anime, o pessoal fala que é só desenho, coisa e tal. Mas a questão da história, do enredo, a gente pega pra si. De motivação, de superação. A gente leva para vida e nos torna pessoas melhores também. Então, a gente quer que ela escolha o anime que ela queira e vamos sempre apoiar — revela Lucas.