
Este ano, três museus da Instituição Smithsonian, em Washington, utilizaram meia dúzia de robôs humanoides de 1,2 metro de altura, apelidados de Pepper, para responder às perguntas dos visitantes e contar histórias usando voz, gestos e uma tela de toque interativa. Eles também dançam, jogam e posam para selfies.
Rachel Goslins, diretora do Prédio de Indústrias e Artes do Smithsonian, supervisora do projeto, se diz muito surpresa com a reação do público.
— O Pepper está totalmente alinhado com a missão do museu. Estamos convidando as pessoas para se fazerem presentes, ativas, investirem em uma experiência comunitária. Nossa intenção não é fazer o público passar ainda mais tempo de olho no telefone; estamos criando uma situação humana, divertida e alegre — afirma.
Segundo ela, com o tempo, outros 80 robôs serão utilizados para ajudar a guiar o trabalho de educadores e docentes da instituição.
Pepper está sendo usado no Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americanas, no Museu & Jardim de Esculturas Hirshhorn, no Museu Nacional de Arte Africana, e também no Castelo do Smithsonian, onde há oito robôs, quatro dos quais podem ser transportados para outros locais. O equipamento foi criado pela SoftBank Robotics.
O uso que o Smithsonian está fazendo da IA com o objetivo de envolver o visitante é apenas um exemplo da tendência que vem se desenvolvendo rapidamente — a de fundir arte e tecnologia.
Ela está sendo cada vez mais usada por museus do mundo inteiro como meio de desenvolvimento de tudo, desde robôs, chatbots e sites até ferramentas que ajudam a analisar dados dos visitantes e suas coleções, além de definir as políticas de admissão e conteúdo a ser exibido.
O Museu de Arte Akron já encoraja os visitantes a usar o telefone para interagir com o Dot, que faz as vezes de guia digital, com direito a óculos escuros e cabelo cor-de-rosa cortado em estilo tigelinha. Lançado em agosto, o chatbot é acessível através do Messenger do Facebook; quando a pessoa entra no museu, é direcionada a um quiosque que explica como o sistema funciona.
O Dot guia o visitante em um tour de seis paradas no estilo "escolha sua própria aventura" pela coleção permanente do museu, discutindo 60 obras de arte e fazendo perguntas. Em frente ao mural de Sol LeWitt que fica no saguão, por exemplo, ele explica que não foi o artista que pintou o trabalho pessoalmente, mas sim um de seus assistentes, chama o processo de delegação e quer saber:
— Que parte do seu trabalho você gostaria de transferir para outra pessoa?

Mark Masuoka, diretor do museu, diz:
— O Dot é um meio excelente de conectar as pessoas umas às outras e à arte, além de não exigir um conhecimento prévio das obras. A ideia é analisar os dados de uso como auxílio para o desenvolvimento de projetos e exposições.
Em parceria com a IBM, o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, criou o IRIS+, que foi lançado em 2017 e usa a tecnologia de IA da empresa.
Na entrada, o visitante recebe um cartão com chip que lhe dá direito a usar o chatbot; ao terminar a ronda pelo acervo permanente, o IRIS+ pergunta, via iPad:
— Depois de tudo o que você aprendeu na mostra principal, quais são suas preocupações como o mundo de hoje?
Durante o diálogo que se segue, o aplicativo troca dados com a nuvem da IBM e sugere iniciativas adequadas à resposta recebida, baseando-as, em parte, nas informações pessoais que o visitante é estimulado a dar, como data de nascimento e local onde mora.
Cada pessoa também é convidada a tirar uma selfie para o mural que fica em uma das pontas da exposição, que contém as fotos de outros visitantes, com seus nomes de batismo e interesses pessoais, além de registros e gráficos das principais preocupações do público.
A Fundação Barnes usou IA quando lançou o novo site de sua coleção, em 2017, como parte das comemorações do quinto ano de sua mudança para o centro da Filadélfia.
Usando os critérios que o fundador do museu, Albert C. Barnes, usou para exibir sua coleção de arte, o novo recurso permite ao visitante fazer buscas por propriedades visuais, como luz, linhas, cor e espaço, filtrando imagens de acordo com as semelhanças estéticas. Contendo mais de duas mil das aproximadamente três mil obras do acervo, e assim, viu o número de visitantes triplicar desde o lançamento da nova coleção, segundo Shelley Bernstein, tecnóloga consultora de criação do museu.
A inteligência artificial também permitiu que o Instituto de Arte de Chicago registrasse quanto tempo o visitante permanece em suas galerias, levando a instituição a oferecer mais exibições pequenas, concentradas em seu acervo permanente.
E está ajudando nos esforços de conservação e atribuição de Robert Erdmann, do Rijksmuseum de Amsterdã. O cientista sênior vem desenvolvendo ferramentas que permitem ao visitante entrar no site do museu – com mais de 300 mil fotos dos objetos da coleção – para explorar e comparar obras segundo um critério específico, como por exemplo, a preparação de alimentos, que traz, entre os resultados, a famosa pintura de Vermeer, A Leiteira.
Outra possível aplicação da tecnologia, de acordo com Elizabeth Merritt, diretora do Centro para o Futuro dos Museus da Aliança Americana, pode ser na interação do público com figuras históricas dos museus especializados, com chatbots que utilizem os arquivos e escritos publicados de cada um, bem como histórias orais.
Entretanto, Robert Stein, vice-presidente executivo e diretor de programação da Aliança Americana de Museus, alerta para o cuidado que as instituições devem ter com a questão da privacidade, protegendo as informações pessoais dos visitantes.
— O museu tem um papel importante no emprego e no papel de qualquer tecnologia emergente. A inteligência artificial já é um instrumento incrivelmente importante na definição do mundo em que vivemos, e das formas mais profundas. Precisamos compreender bem a tecnologia e as questões que levanta — conclui Merritt.