Casais, famílias e amigos. Jovens, adultos e idosos. Universitários, trabalhadores, aposentados. Foi um público diversificado que compareceu à 11ª Bienal do Mercosul no último sábado (8). Até o dia 3 de junho, obras de 70 artistas de diversas partes do mundo serão expostas no maior evento de artes visuais no Estado. Com curadoria de Alfons Hug e curadoria adjunta de Paula Borghi, a Bienal deste ano reuniu artistas africanos e afrodescendentes, que colaboram com obras relacionadas ao tema O Triângulo do Atlântico – referência às conexões históricas entre as Américas, África e Europa. O evento está concentrado, principalmente, em três edifícios na Praça da Alfândega: MARGS, Santander e Memorial do RS.
No Santander, há uma casa de barro, obra do artista Maxim Malhado. O trabalho emocionou a fotógrafa Dayane de Alencar, 26 anos.
– Toda a composição no Santander foi magnífica. Representatividade é o que me faz arrepiar. Eu, como nordestina, fiquei impressionada com a obra do Maxim. É uma coisa visceral, que toca, que me representa. Me senti emocionada com todo o conjunto da obra. Foi tudo pensado para comover. Fiquei sem palavras quando cheguei naquele lugar (Santander) – relatou a piauiense.
Por outro lado, Glaci Bordin não se emocionou com o Santander tampouco se empolgou com o que viu na Bienal.
– Me demorei mais ali no Margs, que achei mais interessante. Achei um pouco pobre o Memorial. Pelo menos nesses dois lugares a gente podia fotografar, aqui no Santander não deixaram fotografar nada – relatou a aposentada de 76 anos. – Já vi muitas Bienais, como a de Veneza, mas não sei se pela situação do país que está meio pobre este ano – completou.
Já Vitor Silva Rodrigues, 56 anos, acompanhado de sua mulher, Maria Luiza, 51, contou na saída do Memorial do RS que gostou bastante do que viu no museu.
– Achamos o que foi exposto ali bem cativante. Gostamos do que foi exposto no segundo andar, sobre a igreja e o candomblé também – disse o servidor público.
Uma performance no centro da Praça da Alfândega despertou a curiosidade do casal e os dois se direcionaram para lá. Era a Standard Time, do alemão Mark Formanek, uma espécie de "relógio humano" – a cada minuto, uma equipe de operários troca dígitos de 4 metros de altura, marcando a passagem do tempo com um esforço absurdo.
– Ele (Formanek) conta com o relógio no sentido de que realmente nós temos uma engrenagem humana. Estamos aqui desde as 9h, nos revezamos em grupos. A galera anda bem curiosa, querendo saber a concepção da obra. O público fica bem impressionado com o fato de a gente conseguir atualizar todos os minutos – explica Marco Chagas, um dos coordenadores da performance.
Bárbara Fortes, 17 anos, estava impressionada com o ambiente proporcionado pela Bienal.
– Traz muitas coisas diferentes do que a gente costuma ver no centro de Porto Alegre. Apesar de ter muita cultura aqui, mas a gente vê mais Tradicionalismo, e não tudo isso que está acontecendo agora (Bienal). É muito importante tudo isso – opina.
Acompanhada da mãe e de seu irmão menor, a estudante destacou outro ponto que lhe chamou atenção:
– Foi principalmente o pessoal desinibido, dançando na rua, porque geralmente tem vergonha. Não é sempre que se vê isso.
Bárbara se referia à performance Impróprio, de Vivian Caccuri, que ocorreu no sábado.
Dançar e destruir
Entre o Santander e o Memorial RS, na Praça da Alfândega, caixas de som começaram a ser enfileiradas no chão a partir das 17h30min. Por ali, uma discotecagem tocava do funk (como Glamurosa, do MC Marcinho) ao pop de Rihanna com Work, enquanto uma dezena do público dançava.
Porém, às 18h45min, uma retroescavadeira começou a esmagar as caixas de som enfileiradas no chão. Um rolo compressor completaria o serviço. Durante a destruição, o comunicador Sander Gogó declamaria:
– Funk? Impróprio! Escondidinho? Impróprio! Punk? Impróprio!
Após a detonação das caixas de som, os participantes recolheram os detritos e levaram pra dentro do Memorial do RS. Esses restos vão ficar expostos lá junto com uma trilha sonora composta pela artista Vivian Caccuri.
Carioca radicada em São Paulo, Vivian apresentou ano passado a obra Odebrecht Soundsystem na Fundação Iberê Camargo. Ela retorna ao Estado na Bienal com Impróprio, que é inspirada nas desapropriações de caixas de som realizadas por prefeituras no Brasil.
– É uma violência porque é um patrimônio de uma pessoa. E nós sabemos qual é o estrato social dessa pessoa. Considero essas desapropriações uma caça ao lazer do pobre. É uma forma de silenciamento. Mas é impossível parar essa cultura – reflete a artista.