Com a indústria fonográfica perdendo força, a internet soterrando conteúdo sobre conteúdo e os ouvintes cada vez mais dispersos, músicos gaúchos vêm recorrendo a uma antiga solução para superar as novas dificuldades: os selos independentes. Honey Bomb, Lezma e Umbaduba – todos criados há no máximo três anos – vêm fomentando a cena local, fornecendo infraestrutura para gravações e organizando festivais para artistas dos mais variados gêneros. Agora, começam a ser responsáveis por alguns dos lançamentos de mais barulho da música produzida no Rio Grande do Sul.
O caso da Umbaduba Records, criada em 2014 por amigos que tinham bandas
e viram nos selos uma forma de trabalhar em conjunto, é um dos mais significativos. Inspirados em projetos de outros Estados e do Exterior, os guris, com idade média de 25 anos, criaram um site para veicular o trabalho de bandas como deathbycolt, Enchente e Não ao Futebol Moderno – todas com membros em comum. Menos de dois anos depois, acabam de voltar de uma turnê por quatro Estados brasileiros, com 10 shows em 11 dias e mais de 4 mil quilômetros rodados em dois carros – atrolhados com quatro pessoas cada um.
Tudo feito a partir da rede de contatos que se estabeleceu no entorno do selo.
Com a criação da Umbaduba Records, as coisas aconteceram.
– Está rolando uma conexão maior entre a gurizada. Um olha no olho do outro
e entende que todo mundo está nessa e pode fazer algo junto – avalia Kilary Burtet, membro da Não ao Futebol Moderno e um dos responsáveis pelo selo.
– Agora, com todos bombando ao mesmo tempo, dá a sensação de haver uma cena estabelecida, o que não havia antes. É bem mais fácil fazer junto do que cada um trabalhar por si.
Iniciativas como essas podem ser consideradas uma tradição do Estado – basta lembrar da Vórtex, dos Replicantes, e da Krakatoa, de Plato Divorak, projetos independentes que serviram de plataforma para alguns dos lançamentos mais importantes que o rock gaúcho já registrou. Figura de referência da música feita por aqui, Frank Jorge vê no boom recente de selos independentes um caminho para a música autoral. Ele afirma que, ao lançar seu mais recente disco, Escorrega mil vai três sobra sete(2016), pela 180 Selo Fonográfico, sentiu-se novamente parte de um movimento importante:
– Eu, que sou um cara velho, saí emocionado da reunião que fiz com os guris do selo. "Tenho uma gravadora de novo!", pensei. É legal saber que há alguém correndo pelo teu trabalho, saber que o teu disco não está sozinho, mas ao lado de trabalhos de outros artistas. Foi a melhor coisa que eu podia fazer.
CINCO SELOS CRIADOS DESDE 2013
180 Selo Fonográfico
Criação: 2013.
Cidade: Passo Fundo.
Principais artistas: Frank Jorge, Suco Elétrico, Gross, Edgard Scandurra, Cachorro Grande, O Terno, Mustachee os Apaches.
Site: selo180.com.
Últimos lançamentos: Escorrega mil vai três sobra sete (2016), de Frank Jorge, EST (2016), de Tape e Scandurra, além de versões em k7 e vinil de álbuns de artistas como Cachorro Grande, O Terno e Gross.
Lezma Records
Criação: 2013.
Cidade: São Leopoldo.
Principais artistas: Supervão, Moldragon, The Gentrificators,
Chimi Churris e Siléste.
Site: lezmarecords.com.br.
Últimos lançamentos: Lua degradê (2016), de Supervão, Natural drive (2016), de Moldragon, ALIEN/IANSÃ (2015), de Siléste, State: Province (2015),
de The Gentrificators.
Ué Discos
Criação: 2014.
Cidade: Santiago.
Principais artistas: Fantomaticos, Marcus Manzoni e Beto Stone.
Site: uediscos.net.
Últimos lançamentos: Quando o mundo te provoca (2016), de Beto Stone, Acoustic sundays, volume 2 (2016), de Marcus Manzoni, e Dispersão (2015),
de Fantomaticos.
Umbaduba Records
Criação: 2014.
Cidade: Porto Alegre.
Principais artistas: Não ao Futebol Moderno, deathbycolt e Enchente.
Site: umbadubarecords.bandcamp.com.
Últimos lançamentos: Vida que segue (2016), de Não ao Futebol Moderno, Myths (2016), de deathbycolt, e Errare humanum est (2015), de Enchente.
Honey Bomb Records
Criação: 2013.
Cidade: Caxias do Sul.
Principais artistas: Catavento, Cuscobayo e Bike.
Site: honeybombrecords.com.br.
Últimos lançamentos: Cuscobayo (2016), de Cuscobayo, Cha (2016), de Catavento, Ensaio (2015), de Descartes, e 1943 (2015), de Bike.