Como motivar adolescentes a ler um livro como Cem anos de solidão, que tem quase 500 páginas? A professora chilena de língua e comunicação Jacqueline Bustamante descobriu uma maneira original de fazer com que seus alunos lessem a obra monumental do colombiano García Márquez: criou um concurso de memes sobre passagens do livro. Meme, o termo grego que significa imitação, é a definição do mundo digital para qualquer desenho, vídeo, imagem, frase, ideia ou paródia musical que se espalhe rapidamente entre muitos usuários da internet, tornando-se popular.
Já li que o termo foi criado pelo célebre físico britânico Richard Dawkins, autor de O gene egoísta. Tal como o gene, o meme é uma unidade de informação capaz dese multiplicar, passando de indivíduo para indivíduo. Na prática das redes sociais, é uma maneira divertida de compartilhar brincadeiras e sátiras sobre temas da realidade, da política ao futebol. Como rir é o melhor remédio desde que o bicho homem evoluiu do grunhido para a garatuja na parede da caverna, os memes cumprem bem o seu papel no mundo sem papel.
Voltando à proposta da professora chilena, que também viralizou e passou a ser seguida por outros educadores, é importante observar a sua motivação para pedir os memes em vez de exigir uma ficha de leitura. “As crianças e adolescentes não querem mais apenas ficar sentados na frente da lousa, ouvindo explicações" – alerta a mestra.
Não querem mesmo. Os celulares fazem cócegas nos bolsos e nas bolsas, reclamam atenção e oferecem um universo de possibilidades que os livros e os professores não conseguem superar. Então, como recomenda até o pica-pau do desenho animado, se você não pode vencê-los, junte-se a eles. Foi o que fez a professora dos memes, e é o que fazem educadores de mente mais aberta, que investem em contratos sociais com os alunos em vez de proibir o uso da tecnologia.
O gelo chegou a Macondo. Não há mais como ignorar as novidades. Creio, inclusive, que já estamos vivendo os cem anos de conexão do título desta crônica.