A atriz Soraya Ravenle tornou-se parte da polêmica em torno do desentendimento ocorrido entre o ator Cláudio Botelho e o publico doTeatro Sesc Paladium, em Belo Horizonte, depois que o ator improvisou críticas a Lula e Dilma Rousseff durante a peça Todos Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos.
Logo após o espetáculo ser cancelado, um arquivo de áudio contendo uma discussão entre Soraya e Botelho no camarim do teatro foi disponibilizado na internet. O material revelou um debate acalorado no qual o ator chegou a chamar os membros do público de "neofascistas" e "o pior que há para a democracia".
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Para Soraya, que trabalha com Botelho há mais de 15 anos, o ator não soube lidar com as consequências do próprio caco – forma como os profissionais do teatro se referem às improvisações. Segundo ela, um artista que se propõe a inserir novos elementos ao texto de um espetáculo deve estar ciente das reações que podem ser despertadas no público.
– Discordei por inúmeras razões [do improviso de Botelho]. Ele não fazia um monólogo, não era uma peça que falava de política, apesar de que o teatro que se escolhe fazer já é um gesto, por si só, político. Ele provocou a plateia num momento ímpar, em que estamos todos em carne viva. Essa provocação foi partidária e fez do nosso palco seu palanque particular – analisa Soraya.
– Não sei sobre meus colegas, mas me senti muito mal, tentando continuar a qualquer preço, cantando em cima das vaias, como se meu canto pudesse acalmar os ânimos. Claro que não foi possível, estávamos de repente num ato politico partidário – completa a atriz.
Em relação ao momento da gravação em que Botelho usa o termo “nêgo”, o que gerou discussão em volta de um possível ato de racismo por parte do diretor, Soraya não acredita se tratar de um ato de racismo.
– Nunca presenciei nenhum gesto racista por parte dele. Muito pelo contrário, sempre atencioso com as pessoas que ele contrata – afirma.
A atriz também não vê nenhuma semelhança entre o caso ocorrido em Belo Horizonte e o episódio no qual Chico Buarque teria sido impedido pelos militares de tocar Roda Viva em 1967, comparação feita por Botelho durante a discussão gravada.
– Não há nenhuma semelhança, a não ser talvez a dificuldade, por todos os lados, das pessoas se ouvirem com calma e compaixão. Não estamos vivendo numa ditadura, e exatamente por isso o público sentiu liberdade de responder às provocações.
Logo após a polêmica ser divulgada pelos meios de comunicação, a assessoria de Chico Buarque afirmou que o cantor não iria autorizar Botelho de seguir usando suas composições. Porém, o cantor aceitou um pedido de desculpas feito pelo ator em sua página pessoal no Facebook, tornando o fim definitivo do espetáculo incerto.
– Estávamos no último espetáculo de uma série de 6, viemos de duas semanas em Portugal. Não havia nada marcado [para o futuro do espetáculo], mas é o tipo de trabalho que poderia voltar a qualquer momento.
Apesar de não concordar com o discurso proferido pelo ator durante o improviso, a atriz hesita em tomar uma posição definitiva sobre atual situação política do Brasil. Soraya afirma manter-se aberta a conversas e leituras para tentar entender o que acontece no país, mas espera que os autores de “falcatruas” sejam punidos por tal.
– Sou apartidária nesse momento. Acho todos os grandes partidos altamente contaminados pela corrupção, ambição desmedida. Sou um poço de dúvidas – conta.