
A exposição que Marilice Corona apresenta na galeria Bolsa de Arte é um convite a um jogo visual sem fim. Está lá uma série de pinturas que a artista realizou nos últimos anos em um processo cujos desdobramentos já são conhecidos: ela representa cenas que contêm outras cenas em seu interior e, assim, sucessivamente.
Esse modo circular de espelhar imagens que tende ao infinito se dá não só pelo conteúdo interno de cada tela, mas também pelo modo como essas imagens se rebatem e se completam no espaço expositivo a partir da posição intencional que cada uma ocupa nas paredes.
- É um trabalho dentro do outro - diz Marilice. - Por isso, digo que é um tipo de trabalho autofágico, que se alimenta dele mesmo.
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Professora de pintura no Instituto de Artes da UFRGS e artista gaúcha de destaque desde os anos 1990, Marilice não apresentava uma individual em Porto Alegre desde 2013, quando mostrou pinturas em pequenos formatos no Studio Clio. No ano passado, ganhou uma mostra em Cascais, Portugal. E, agora, mostra na Capital uma série de trabalhos em grande parte realizados nos últimos dois anos. São telas nas quais ela aprofunda a pesquisa em que examina os mecanismos de representação da imagem na pintura a partir dos códigos fotográficos.
Júlio Cordeiro, Agência RBS

Marilice fotografa seu ambiente de trabalho e se fotografa trabalhando nele, usando, a seguir, essas imagens em um exercício de autorrepresentação na pintura. Faz o mesmo com cenas de ambientes de exposição e seus espectadores. Em ambos os casos, gera um entrecruzamento de imagens cujo resultado é um jogo de metalinguagem que, como diz a artista, oferece uma "circularidade infinita". Ou seja: ao mesmo tempo em que se transporta com o ambiente do ateliê para dentro da exposição, também leva o espectador e a exposição que este observa para dentro da própria exposição, como uma proposição de autoconsciência.
Bolsa de Arte, Divulgação

Daí o sugestivo título da mostra na Bolsa de Arte, Autoscopia, que remete a noções de autocopia, autoexame, autorreflexão e, assim, por diante. A referência para o trabalho vem do conceito de "Mise en abyme" ("narrativa em abismo"), desenvolvido pelo escritor francês André Gide (1869 - 1951) em narrativas que trazem dentro de si outras narrativas.
- Esse procedimento evidencia a presença da fotografia no processo da minha pintura, criando uma espécie de território - diz Marilice. - É a presença da câmera dentro do ateliê registrando o processo e permitindo que seja pintado novamente. E também a presença de determinados códigos da linguagem fotográfica que vão perpassando a imagem pictórica.
Contudo, Marilice não parte da fotografia para realizar uma pintura dita hiperrealista a exemplo de um Gerhard Richter, até porque a pincelada e a mancha não se escondem, permanecem lá, informando que se trata, sim, de pincel e tinta. Ao invés, a artista busca no fotográfico um modo de ultrapassar o registro do real de modo a ficcionalizar o documental, convidando-nos a se perder nas profundezas dos jogos visuais que ela estabelece com sua pintura.
AUTOSCOPIAS
Visitação de segunda a sexta, das 10h30min às 19h, e sábado, das 10h às 13h30min. Até 16 de dezembro. Entrada gratuita.
Bolsa de Arte (Visconde do Rio Branco, 365), em Porto Alegre, fone (51) 3332-6799.
A exposição: a artista Marilice Corona apresenta uma série de trabalhos produzidos nos últimos anos, com destaque para as pinturas em que explora procedimentos de metalinguagem e os mecanismos de representação.
Bolsa de Arte, Divulgação
