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A imagem de uma morena de ombros nus e sorriso aberto, girando uma estampa de pavão sobre papel celofane picado, não deixa dúvidas: é samba. Mas duvide disso: Alana Moraes é mais do que a capa do seu primeiro disco entrega.
Gravada em esquema independente ao longo dos últimos anos, a estreia homônima de Alana (que terá show de lançamento hoje em Porto Alegre) é uma coleção de pontes que começaram a ser construídas em Palmeira das Missões. Primeiramente, nas matinês de Carnaval, à frente da versão mirim do bloco do pai, o também músico Aurélio Moraes. Depois, em festivais de música nativista. Aos 13 anos, gravou o primeiro disco, Diálogo.
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Poderia ter ficado na música regional, mas, adolescente, interessou-se pelo rock - Black Sabbath e Guns N Roses não saíam da vitrola - e formou uma banda só de garotas. Cansou e fugiu para a praia de Itapema, em Santa Catarina, onde passou um mês vivendo de tocar bongô em um bar até ser descoberta por uma banda de baile, que a "resgatou".
- Daí decidi que queria mesmo viver de música e, como era maior de idade, fui para São Paulo estudar - diz.
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Na capital paulista, não demorou para entrar no circuito de bares e casas noturnas, emprestando seu vozeirão para repertórios que iam do pop rock à MPB. Mas foi o segundo gênero que a fisgou e indicou o caminho para o primeiro disco solo - e também ter conhecido o violonista Gabriel Selvage, parceiro de vida e de música com quem já havia gravado Amor e Som, em 2012.
Com a orientação musical definida pela dupla, Alana foi à cata de compositores. Uma parte das 11 canções veio de amigos que fez em São Paulo, enquanto a outra, de músicos do meio nativista que a cantora conheceu por intermédio de Selvage.
- Eu senti essa necessidade de resgatar algo que eu havia deixado aqui quando fui para São Paulo, sabe? Precisava dizer, de alguma forma, que eu sou gaúcha, que sei de onde vim. E essa foi a maneira que encontrei - explica.
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De repente, Alana tinha um disco com sambas compostos por nomes consagrados da música gaudéria, como Decisão de Brasileiro, de Angelo Franco, e Meio Muito Louca, de Érlon Péricles, ambos do grupo Buenas e Mespalho. Mas essa é apenas a primeira - e mais visível - ponte construída no disco.
Em Batuque de Exu e Caminho, ela liga sua voz potente e afinada às religiões de matrizes africanas, enquanto Não Quero Ser Só (também composta por Péricles) é um baião delicioso. Os pontos continuam sendo ligados em Secreto, balada de corpo e alma latinas de autoria de Péricles que o uruguaio Daniel Drexler verteu para o espanhol - e dividiu os microfones com Alana.
O disco, que já havia levado Alana à Europa (casa cheia em Portugal, Espanha, Inglaterra e França), impressionou a crítica e está indicado ao Prêmio Açorianos de Música na categoria revelação. Nada, no entanto, que desvie a cantora de seu talento em construir pontes:
- Estou aberta a tudo e vou sempre cantar o que eu achar que é bom e que combina comigo, seja samba, jazz, rock, o quer for. Sou meio exploradora.
Péricles foi, então, certeiro quando a definiu em Meio Muito Louca: "Meio bossa nova / meio rocknroll / filha da palmeira que se revelou".
ALANA MORAES
Nesta sexta-feira, às 20h.
Teatro do Sesc (Alberto Bins, 665).
O show: a cantora irá apresentar as faixas de seu disco de estreia.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada) à venda na bilheteria do local, uma hora antes do show.