Mauricio de Sousa completa 80 anos nesta terça-feira (27/10). E, entre um deslocamento e outro na atribulada agenda que envolve seu aniversário, o quadrinista encontrou tempo para responder às perguntas da reportagem via e-mail e fazer um balanço da carreira, contar a história de alguns personagens e projetar o futuro da Turma da Mônica.
A carta de Mauricio de Sousa que mudou a vida de uma porto-alegrense
Leia a entrevista:
Qual o seu grande projeto pós 80 anos?
Mauricio de Sousa - Viver cada dia com um sonho para realizar, como tem sido sempre para mim.
Depois de livros para colecionador, parques temáticos, série adolescente, filmes, desenhos, o que Mônica e sua turma ainda devem aprontar?
Mauricio - Queremos ampliar o leque de produtos no Exterior. Nesses anos, já estivemos com alguns de nossos produtos em cerca de cem países. Mas os contratos não são duradouros, um pouco porque tínhamos poucos desenhos animados para sustentar o interesse dos fãs fora do país. No entanto, agora estamos em franca produção de animações para exportação. Nesse momento, estou recebendo uma comitiva do Japão interessada em nossos produtos para venda por lá. Estive, nesse ano, na Coreia do Sul para inaugurar uma grande exposição de nossa história com mais de mil metros quadrados no melhor museu de lá. Participamos de vários eventos internacionais também. Um dos produtos que preparamos com força para o mercado internacional é a turminha da Mônica Toy. É para um público jovem e está fazendo sucesso no CartoonNetwork e em nosso canal no YouTube.
Mauricio de Sousa: "A Turma da Mônica não deve levantar bandeiras"
O senhor tem planos de envelhecer ainda mais Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão? Qual é o futuro que o senhor imagina para a Turma da Mônica?
Mauricio - Tem um projeto que quero realizar daqui a uns 3, 4 anos que é a série da Turma da Mônica Adulta. os personagens começariam com seus 25 anos de idade e a cada ano fariam aniversário, envelhecendo juntamente com os leitores. Será uma espécie de folhetim onde os assuntos do dia estarão presentes.
Tem algum personagem ou alguma história que o senhor se arrepende de ter criado?
Mauricio - Nada que me lembre. Aliás, houve uma vez em que me arrependi de criar um personagem e o deixei uns meses na gaveta. Foi o Cascão. Tinha criado o Cebolinha e o Cascão com algumas características dos amigos de meu irmão Márcio. Mas, depois, pensei que o Cascão não teria uma boa aceitação pelos pais dos leitores. Resolvi não arriscar e deixei encostado numa gaveta. Minha esposa, na época, Marilene, olhou o desenho e me perguntou porque não tinha lançado aquele personagem. Eu disse que tinha receio de que haveriam críticas sobre ele não gostar de tomar banho. Mas ela rebateu dizendo que quase todas as crianças não gostam de tomar banho, que era normal e que deveria publicar, sim, o Cascão. Me convenceu e aí está o menino mais "cheirosinho" da turma!
Uma vez o senhor disse que Horácio era o personagem que mais espelha o que o senhor pensa. Tanto é que continuou escrevendo histórias dele. O que o dinossaurozinho verde tem de tão especial?
Mauricio - O Horácio tem um pensamento filosófico de vida que bate com o meu. Quando eu faço uma historinha do Bidu, tem que ser o Bibu o cachorrinho, quando faço a Mônica é uma menininha, não posso sair disto, das características que a gente já criou. Agora quando eu faço um animal como um elefante ou um dinossauro, principalmente o dinossauro, eu posso me espraiar mais, me abrir mais, colocar mais de mim. É como se fosse uma fábula.
Como vão os planos relacionados a parques e a levar os personagens para além do Brasil?
Mauricio - A volta do Parque da Mônica era um sonho. O novo, que fica no shopping SP Market, em São Paulo, é maior que o anterior, e os pais agora também podem entrar nos brinquedos junto com os filhos. Por isso, está lotado desde sua inauguração, em julho desse ano. Em Portugal, fui homenageado pela prefeitura da cidade de Amadora, ao lado de Lisboa, com um parque aberto gratuitamente às crianças. Também já tivemos outro parque em Angola dentro de um shopping. Mas o investimento para construir parques é alto e sua manutenção também. Portanto nessa área fica ainda difícil uma expansão maior. Ainda mais no exterior.
Quais a loucuras que os fãs já fizeram pelo senhor e por seus personagens nesses 80 anos?
Mauricio - Teve repercussão nacional o roubo da Mônica que fazia parte da exposição nas ruas comemorando os 50 anos da personagem, a Mônica Parade. Ela estava na Rua Oscar Freire, em São Paulo. Como todos os jornais noticiaram o roubo, a boneca de 1m80cm apareceu inteira em um terreno baldio em Guarulhos. Creio que foram fãs que queriam ficar com a escultura, pois não a quebraram. Mas, devido à exposição na mídia, acredito que parentes de quem roubou forçaram a devolverem o quanto antes. Afinal, com aquele tamanho, onde iriam esconder a estátua?