O incansável Caco Barcellos e sua equipe do Profissão Repórter mostraram nesta semana como vivem alguns dos 13 milhões de analfabetos brasileiros, homens e mulheres que enfrentam com dificuldade e constrangimento o cotidiano de uma sociedade organizada em torno das letras. Ninguém deveria se sentir envergonhado por não saber ler, até mesmo porque as pessoas que cresceram sem decifrar os códigos da leitura e da escrita, em sua maioria, esbarraram na falta de oportunidades e de estímulos. Mas a verdade é que o analfabetismo exclui. Na prática, iletrados viram cidadãos de segunda classe, ficam mais tempo desempregados, são menos valorizados no trabalho, têm dificuldade para se comunicar e até mesmo para fazer compras ou se deslocar sozinhos pela cidade.
Tenho ouvido o nosso hino nos estádios de futebol e em algumas cerimônias públicas. Ninguém canta esse verso. Acho até que ninguém mais quer ser grego neste momento em que, paradoxalmente, os endividados helênicos mais se parecem conosco - nas dificuldades econômicas, nos entreveros políticos e na mania de grenalizar qualquer debate. A propósito, o último jogo entre o Panathinaikos e o Olympiacos, que é realmente o Gre-Nal deles, terminou em tanta pancadaria, que o governo se viu obrigado a suspender todos os campeonatos de futebol do país.
Bem, mas voltemos ao nosso nada modesto hino. Por que o autor da letra, o célebre Chiquinho da Vovó, recorreu à comparação com gregos e romanos? Ora, porque Atenas sempre foi o símbolo da democracia. Os gregos antigos, além de amantes da liberdade, eram reconhecidos como atletas, artistas, filósofos e poetas. Já os romanos eram guerreiros imbatíveis. Como o hino surgiu durante a Revolução Farroupilha, o letrista julgou apropriado enaltecer a bravura dos farrapos, comparando-os com os pais da mitologia: gregos na glória, romanos na virtude. E sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra.
A atual crise grega tem sido também uma oportunidade para a revisão dos mitos e lendas da Antiguidade, pois as comparações se tornam irresistíveis para cientistas políticos e jornalistas que analisam o episódio. Tem até uma brincadeira de internet que mistura deuses e heróis mitológicos com os problemas reais, A Crise Grega para Iniciantes. Vale conferir, é bem engraçada.
Mas melhor seria que alguém fechasse logo esta caixa de Pandora. Lá e aqui.