Os músicos da Marmota Jazz acham graça quando o repórter comenta que eles parecem ter se tornado a banda de jazz mais cult de Porto Alegre. Em quatro anos de existência, estes jovens que têm entre 24 e 26 anos desafiaram a propalada falta de espaço para música instrumental na Capital cavando shows em lugares sem tradição no gênero, como bares de skatistas e de rock. Avaliam que conquistaram um público variado: em parte, são jovens como eles, que eram roqueiros antes de enveredar pelo jazz, e em outra parte são pessoas mais velhas que os convidam para tocar em casamentos, formaturas e eventos corporativos.
Assista a vídeo da música Distant Layers, composição própria do disco de estreia:
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Prova da popularidade conquistada por Pedro Moser (guitarra), Leonardo Bittencourt (teclado), André Mendonça (baixo) e Bruno Braga (bateria) foi o esgotamento, em poucos dias, dos ingressos para o show de lançamento de seu primeiro disco, Prospecto, nesta quinta-feira, às 20h30min, no Auditório do Instituto Goethe de Porto Alegre - divulgado apenas no Facebook. Uma sessão extra será realizada mais cedo, às 19h, e já restam poucos ingressos. Moser, o guitarrista, especula:
- Tem um movimento hipster que envolve um pouco de jazz, porque é uma coisa meio obscura, meio cult. A gente deu sorte com isso, de ter um Zeitgeist que favorece esse tipo de interesse. E apareceram muitos filmes que envolvem jazz nos últimos anos, como On the Road (Na Estrada), Whiplash e Birdman.
Gravado na casa de Bittencourt, Prospecto traz composições da banda e duas releituras de standards: Nardis (Miles Davis), que ficou conhecida pelas mãos de Bill Evans, e If I Should Lose You (Leo Robin/Ralph Rainger). A lavra própria faz justiça às influências da Marmota, que passa pela cena atual do jazz de Nova York. São inspirações Aaron Parks, Ari Hoenig e Tigran Hamasyan, além de leva de músicos israelenses integrada por figuras como Gilad Hekselman, Shai Maestro e os dois Avishai Cohen - o baixista e o trompetista de mesmo nome. Sim, eles também amam os clássicos do gênero, mas acreditam que essas referências aparecem mais discretamente, diluídas nos improvisos.
- Se surgisse outro John Coltrane hoje, não faria tanta diferença, porque já existiu um Coltrane. O som tem a ver com o contexto - observa Moser. - O que acho legal no jazz contemporâneo é que ele se abriu muito. Rolam quatro fórmulas de compasso diferentes ao longo do som. Ritmicamente, o jazz ganhou muito.
Um bom exemplo é a faixa Maraca#7, executada no compasso 7/8 e inspirada em sons do maracatu. A citação do ritmo nordestino apareceu em um exercício da graduação em Música Popular da UFRGS, onde estudam Bittencourt e Mendonça (a banda também frequentou um curso de cinco semanas na prestigiada escola Berklee, em Boston). Havoc é constituída por quatro partes, uma complexidade estrutural inspirada em nomes como Aaron Parks. A propósito, os títulos das músicas são criados a partir das paisagens sonoras que as composições evocam: Ogaden leva o nome de um deserto da Etiópia porque os músicos julgaram que a sonoridade é mais árida do que a do resto do álbum, e Distant Layers é uma sobreposição de camadas de ideias musicais. Mendonça explica:
- Foi um amadurecimento. Começamos a compor apenas depois de dois anos de existência da banda.
Se o lugar onde eles vivem influencia o som? Nem tanto: comentam que ouviram mais rock do que música popular brasileira. Adeptos de um globalismo musical, acreditam que, com a internet, ninguém é de lugar algum. Inquietos, já planejam o segundo disco, que pretendem colocar no mercado até a metade de 2016. A ideia é gravá-lo em estúdio, ainda neste ano, como adianta Bittencourt:
- A gravação é o registro do momento pelo qual passamos. Nosso som já mudou muito nos últimos três ou quatro meses. Daqui a pouco, vamos tocar muito melhor (risos).
PROSPECTO
De Marmota Jazz
Jazz, seis faixas, R$ 25 (à venda pelo e-mail marmotajazz@gmail.com).
Show de lançamento nesta quinta-feira (11/6), no Auditório do Instituto Goethe (Rua 24 de Outubro, 112), em Porto Alegre. Sessões às 19h e às 20h30min.
Ingressos: R$30 (disponíveis apenas para a sessão das 19h). Por R$ 50, leva-se um ingresso e um CD. Venda antecipada pelo e-mail marmotajazz@gmail.com.
Sensação instrumental
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Banda tocará repertório do álbum nesta quinta-feira no Auditório do Instituto Goethe, em Porto Alegre
Fábio Prikladnicki
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