Mesmo diante das dificuldades econômicas de um ano ruim, a festa continua. Encontro de escritores e leitores mais badalado do país, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) também sentiu os efeitos da crise financeira, que vem encolhendo - e, às vezes, até minando - eventos culturais, mas conseguiu montar uma programação com mais de 40 escritores, quase metade deles internacionais. O evento em Paraty, no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro, se inicia nesta quarta-feira e segue até domingo.
Para o show de abertura, foram escalados os músicos locais Luís Perequê e grupo Os Caiçaras e a cantora paulistana Dani Lasalvia. A falta de nomes musicais de peso chama atenção, já que o mesmo palco contou com Gal Costa no ano passado e Gilberto Gil e Lenine em edições anteriores. Curador da Flip, Paulo Werneck não relaciona a escolha das atrações com a queda do orçamento, que era de R$ 9,3 milhões em 2014 e encolheu para R$ 7,4 milhões nesta 13ª edição:
- A nossa opção foi por fazer um show com a cara do Mário de Andrade, que é o autor homenageado deste ano e que nos fez voltar os olhos aos artistas locais e à tradição folclórica.
Conheça os espectadores que estão sempre nos teatros de POA
Cafeterias dividem espaço com livros, filmes, bicicletas...
Werneck, no entanto, afirma que não ignorou o mau momento econômico ao fazer a curadoria:
- Atuo solidário ao contexto de crise. Procurei movimentar a programação para atrair o máximo de atenção do público, trazer diferentes perfis de leitores e estilos variados de literatura.
Entre os nomes internacionais mais conhecidos do público brasileiro, estão o italiano Roberto Saviano, o irlandês Colm Tóibín e o cubano Leonardo Padura. O australiano Richard Flanagan, o queniano Ngugi wa Thiongo, o bósnio Saa Staniic, o britânico David Hare e a argentina Beatriz Sarlo são outros destaques. Entre os autores brasileiros, estão nomes como Boris Fausto, José Miguel Wisnik, Eucanaã Ferraz, Arnaldo Antunes e Jorge Mautner.
Para ir:
Ainda há ingressos para algumas mesas da festa. Os bilhetes custam R$ 50 e podem ser adquiridos no site ticketsforfun.com.br.
As atrações:
Ngugi wa Thiongo (foto acima)
Na sexta-feira, o autor queniano de 77 anos participa de um bate-papo com o australiano Richard Flanagan. Apesar de ainda ser pouco conhecido no Brasil, Thiongo é um dos mais respeitados escritores da África. Também conhecido por seu ativismo político, ele já foi cotado para o Prêmio Nobel de Literatura em 2010, vencido pelo peruano Mario Vargas Llosa. As duas primeiras traduções do autor no Brasil serão lançadas na Flip: pela Objetiva, sai Um Grão de Trigo (1967), sobre a independência do Quênia, e pela Biblioteca Azul começa a circular Sonhos em Tempo de Guerra (2010), com memórias do escritor.
Saa Staniic
Considerado um dos renovadores da literatura sobre guerras, Staniic nasceu na Bósnia, mas se refugiou na Alemanha aos 14 anos, em 1992, durante conflito armado que assolava seu país de origem. No Brasil, o autor já publicou Como o Soldado Conserta o Gramofone (2008), livro de estreia no qual aborda o conflito que vivenciou na adolescência. Na Flip, ele lança Antes da Festa, pela editora Foz, em que volta a abordar a realidade de seus país, tratando de um festival de uma pequena cidade. O autor participa da festa nesta quinta-feira, em um bate-papo com Diego Vecchio, autor argentino que vem ao Brasil lançar a coletânea de contos Microbios pela Cosac Naify.
Richard Flanagan
O escritor australiano lança na Flip O Caminho Estreito para os Confins do Norte, livro vencedor do Man Booker Prize de 2014, principal prêmio da literatura britânica. O romance foi inspirado na experiência de seu pai como prisioneiro do exército japonês durante a II Guerra, quando foi forçado a trabalhar em uma estrada de ferro entre Tailândia e Birmânia, conhecida como "ferrovia da morte". Com 53 anos, Flanagan tem seis romances, publicados em 26 países - O Livro dos Peixes de Gould, de 2001, editado anteriormente no Brasil pela Companhia das Letras, está sendo relançado pela Biblioteca Azul. O autor conversa com o queniano Ngugi wa Thiongo na sexta-feira.
Roberto Saviano
O italiano de 35 anos ficou conhecido mundialmente por Gomorra, livro lançado em 2006 que documenta a ação das máfias italianas. Além de se tornar um best-seller traduzido em mais de 40 países, o volume fez de Saviano um dos autores mais perseguidos do mundo - o escritor vive com escolta policial permanente. No ano passado, o autor lançou Zero Zero Zero, no qual aborda o tráfico internacional de cocaína. "Facções de narcotraficantes saíram do Rio e foram para Paraty. Este é um dos maiores problemas da cidade e do país", afirma o curador Paulo Werneck, ao justificar a presença do escritor. Saviano conversa com o jornalista Caco Barcellos no sábado.
Outros nomes
O irlandês Colm Tóibín, autor de romances como O Mestre e Nora Webster, fala com o público na quinta-feira.
O historiador e cientista político paulista Boris Fausto será a atração que abre os trabalhos de sexta-feira.
Dramaturgo e roteirista já indicado ao Oscar com As Horas e O Leitor, o inglês David Hare conversa com o público no sábado.
O cubano Leonardo Padura, autor de O Homem que Amava os Cachorros, e a britânica Sophie Hannah, que recria o universo de Agatha Christie em seus romances, fazem bate-papo no domingo.
Um debate reúne cartunistas no sábado: os franceses Riad Sattouf e Plantu e o paulistano Rafa Campos.
A argentina Beatriz Sarlo e a portuguesa Alexandra Lucas Coelho falam sobre literatura de viagem no sábado.
Autoras de Brasil: uma Biografia, Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling conversam na sexta-feira.
A argentina Beatriz Sarlo e a portuguesa Alexandra Lucas Coelho falam sobre literatura de viagem no sábado, às 10h.