Escrevo antes de dormir, intrigado com o que ouvi à tarde de um colega que acompanha muito de perto a revolução tecnológica. Disse ele que já está em teste um algoritmo capaz de prever com exatidão o que será notícia amanhã, a partir do zum-zum-zum das redes sociais. Depois que consultei o preço de uma camiseta do Japão no Google e o uniforme da seleção nipônica passou a me perseguir por todos os sites que consulto, já não duvido de mais nada.
Algoritmo, decifra-me ou te devoro.
Decifro, depois de consultar a enciclopédia digital. É uma sequência de instruções que podem levar, às vezes automaticamente, à solução de um problema. Como a gente sempre pensa em computador quando imagina coisas que se resolvem sozinhas, os autores do conceito apressam-se a explicar que não se trata apenas de informática. Algoritmo, esclarecem, pode ser uma receita de bolo.
Consulto, então, minha esposa sobre o algoritmo do meu bolo preferido:
- Duas xícaras de farinha, duas xícaras de açúcar, quatro ovos e meia xícara de leite - me responde, sonolenta.
O resto eu sei, de tanto assistir à alquimia culinária, sempre com água na boca. Mistura-se tudo e leva-se ao forno pelo tempo necessário para criar aquela casquinha gostosa na cobertura. O cheiro que escapa durante o cozimento é uma verdadeira tortura, mas vale a pena acompanhar.
Esses ingredientes olfativos e emocionais, evidentemente, não fazem parte dos algoritmos utilizados na programação de computadores. Mas a definição serve: um algoritmo é uma sequência lógica de passos e instruções que devem ser seguidos para resolver um problema ou executar uma tarefa.
Não passa dia sem que um jovem pesquisador anuncie um algoritmo de futurologia, a partir da imensidão de dados existentes no multiverso das redes sociais. Tem até um que recolhe informações do Face e diz quando um namoro ou romance deve acabar. Ou seja: a coleta e a operação das informações obedecem à automaticidade da computação, mas o resultado interfere nas emoções.
Assustador isso, não?
Minha vacina contra essa tecnologia que ameaça namoros e profissões é um ceticismo adesista. Tomara que não vingue, mas, se vingar, a gente se adapta. Enquanto isso, prefiro seguir os meus instintos e prever a minha própria manchete para a manhã seguinte, no café da manhã:
- Vai dar bolo!