Autor das biografias de Ronaldo Bôscoli e Chacrinha, Denilson Monteiro tem em seu histórico de pesquisador colaborações em livros sobre artistas como Tim Maia, Erasmo Carlos e Bussunda. Seus mais recentes projetos envolvem Carlos Imperial. Monteiro acaba de lançar uma versão ampliada de sua biografia Dez, Nota Dez!, Eu Sou Carlos Imperial (2008) e está envolvido nos outros projetos que prestam tributo a Imperial no ano em que ele completaria 80 anos.
O que despertou seu interesse por Carlos Imperial, de quem pouco se falou após sua morte, em 1992?
Vem desde criança. E não vou ter a modéstia de dizer que o fato de o Imperial estar sendo lembrado agora foi justamente o interesse deste fã que achava que a história dele tinha de ser contada. O livro começou a nascer em 2002, graças a um amigo meu que era do arquivo do Jornal do Brasil e um dia me levou lá para ver a pasta do Imperial. Comecei a ir atrás de seus filmes e achei fitas de vídeo no porão da casa dele, o que ajudou muito a divulgar sua carreira na internet. O trabalho do (José) Marques Neto, da Mofo TV (portal dedicado à história da televisão), foi importantíssimo para popularizar o Imperial no YouTube.
Você assina a pesquisa e a consultoria do documentário Eu Sou Carlos Imperial, apresentado no mês passado no festival É Tudo Verdade. Como esse projeto teve início?
Quando os diretores Renato Terra e Ricardo Calil faziam o documentário Uma Noite em 1967 (2010), no qual o Imperial é muito citado, eles procuraram saber mais sobre ele e descobriram o meu livro. Como gostei do trabalho deles, entrei no projeto. O problema foi achar uma maneira de juntar tanto material. O Imperial é como um show dos Rolling Stones, o pessoal sempre vai reclamar: "Pô, mas não contou aquela história, não falou de tal assunto...".
Biografias são um trabalho delicado no Brasil, em razão dos entraves legais. Você teve algum problema com os herdeiros do Imperial?
Nenhum. A filha dele, Maria Luíza, brinca dizendo que eu sou a última descoberta de Carlos Imperial. Nunca tive problemas, mas a gente sempre corre o risco. Não tenho nada que desabone alguém nos meus livros. Mas as pessoas gostam de carniça. Trabalhei no livro do Nelson Motta sobre o Tim Maia e teve gente dizendo que foi chapa-branca. Pô, mas fala do uso de drogas, dos calotes. O Imperial tem os fatos engraçados e insólitos na vida dele, mas minha preocupação foi saber o que o motivava, como compunha, como dirigia.
Uma das mais famosas polêmicas do Imperial foi o chamado episódio da cenoura, em 1977, envolvendo o ator Mario Gomes. No seu livro fica claro que foi mesmo o Imperial o autor da fofoca. Você falou com o Mario Gomes?
Isso foi algo que fugiu ao controle do Imperial e de que se arrependeu. Ele não agredia as pessoas humildes, artistas em começo de carreira. Gostava de dar cacetada em cara famoso e poderoso. O Imperial nunca disse se foi ou não o autor, mas depoimentos de amigos e o texto publicado, muito semelhante ao seu estilo, o entregam. Falei com o Mario, mas ele não quis entrar em detalhes. Disse: "Vê lá o que você vai escrever".
Após iniciar como fã o mergulho no universo do Imperial, qual a imagem que você construiu dele?
Sinto falta de alguém que brigue por seus produtos e suas ideias, como ele fazia. As pessoas hoje criam algo e largam ao deus dará, seja um disco ou um livro, não correm atrás para dizer o quanto aquilo é bom. É aquela história do cara da rádio ir pedir jabá para ele, e o Imperial dar uma volta e fazer o sujeito ter de pagar para tocar seus artistas, porque ele dizia serem os melhores e que o privilégio era da rádio em contar com eles.
DEZ, NOTA DEZ! EU SOU CARLOS IMPERIAL
De Denilson Monteiro. Biografia, Editora Planeta, 408 páginas, R$ 54,90.
Cotação: 4 de 5
Ouça seis sucessos de Carlos Imperial em diferentes versões
1) O Bom, com Eduardo Araújo
2) O Carango (parceria com Nonato Buzar), com Erasmo Carlos
O Carango, com Wilson Simonal
3) Vem Quente que eu Estou Fervendo, com Eduardo Araújo
Vem Quente que Eu Estou Fervendo, com Erasmo Carlos
4) A Praça, com Ronnie Von, ao vivo e em disco
5) Mamãe Passou Açúcar em Mim, com Wilson Simonal
6) Nem Vem que não Tem, com Wilson Simonal