Passa um tempo engolindo o café e olhando para o outro lado da janela. O jornal, dobrado sobre a mesa, não traz absolutamente nada do que precisa ler. Está cansada dos fatos. De analisá-los. Já faz tempo que remói fatos antigos. Analisados. Na tela do celular, surge a mensagem inesperada de um alguém, um homem, que conhece uma outra ela. Uma ela que já não é mais. No céu, o sol entra em Peixes. A lua esvazia. A mensagem, escrita em letras maiúsculas no visor do aparelho, confessa saudade, admite a falta e exige um reencontro. Pensa em responder apenas com perguntas escritas em letras também garrafais: QUANDO? ONDE? - mas desiste. O reflexo do próprio corpo no vidro da janela deixa claro: já não é mais a mesma.
Coluna
Ismael Caneppele: Sobre um eu que não é mais
"Não está contente em encontrar-se consigo mesma. Não com aquela que a mensagem ecoa"