Hoje, os portões da Feira de Frankfurt finalmente se abriram ao público (no restante da semana, o acesso é restrito a escritores, editores e agentes literários). Com isso, os corredores lotaram, e os eventos tiveram plateias cheias (e impressionantemente atentas). No pavilhão do Brasil, a discussão foi sobre literatura e populações marginais, que reuniu autores tão diferentes quando Ferréz e Patricia Melo - que, por seu turno, recebeu, por Ladrões de Cadáveres o Literaturpreis, prêmio concedido ao melhor romance policial publicado durante o ano.
Em meio a intensa movimentação do público, duas mesas fizeram com que o dia fosse marcado por recordações de autores já falecidos. Um dos encontros da manhã foi dedicado ao lançamento em alemão da biografia de Clarice Lispector escrita por Benjamin Moser, devidamente acompanhada por traduções de obras como Perto do Coração Selvagem e O Lustre.
Outro evento marcado pela emoção por extrema (e sincera) saudade foi proporcionado pela editora e tradutora Marlen Eckl, da editor Hentrich & Hentrich, responsável pela publicação de cinco livros de Moacyr Scliar, marca que fez com que o gaúcho fosse o autor brasileiro com maior número de livros traduzidos nessa Feira.
Com a participação do escritor paulista Luis Kraus e dessa que vos escreve, a mesa atendeu a curiosidade dos leitores de Scliar em solo alemão: evocaram-se de reminiscências do Bom Fim, da comunidade judaica de Porto Alegre e dos tempos em que o autor cursava a faculdade de Medicina. Foi impressionante constatar como Scliar é lido e estimado também em alemão, e o quanto ainda é ativa e interessada a comunidade judaica em Frankfurt.
Logo depois da mesa sobre Scliar, foi a vez do gaúcho Tailor Diniz ler partes de seu Assassinato na Feira do Livro, também traduzido ao alemão, no estande da Não e Dublinense. A Feira se encerra com uma já longa tradição: a de todos os cantos dos pavilhões ficarem literalmente tomados por jovens fantasiados de heróis de mangás e quadrinhos, num dos maiores eventos de cosplay da Europa - e que acontece como divertida religião nos dois últimos dias de Frankfurt.
* Escritora, colunista de ZH e integrante da comitiva brasileira na Feira de Frankfurt