É uma manhã cinza em São Paulo. Após longa noite de insônia, acordo com o peito doendo. Quase todos estão doentes em São Paulo. Meus amigos tomam antibióticos. A poluição nunca foi tanta. Nunca tantos carros. Acordo disposto a escrever sobre a ideia de "acontecimento", o instante quando o presente se torna inesquecível, mas, antes de começar a coluna, abro o Facebook e leio que o Centro de Cultura Libertária da Azenha, em Porto Alegre, é invadido pela Polícia Civil. Contam os gaúchos terem sido acordados por portas arrombadas, não tendo o direito de abri-las. Recentemente o livro Mate-Me Por Favor (Uma História sem Censura do Punk), editado pela L&PM, foi apreendido e enquadrado como material subversivo pela polícia. O que seria um texto filosófico é contaminado pela realidade de um país em guerra, e eu não sei como escrever.
Coluna
Ismael Caneppele: Um jazz sobre a cidade
O dia chove sobre a cidade. Do outro lado da linha, direto de Berlim, ela me pergunta o quanto é arte e o quanto é política nos textos que escrevo