E não é que elas chegaram com o sol? No dia em que Passo Fundo registrou temperatura de 14º C (um dia depois de o termômetro bater no zero), chegaram alguns dos principais convidados da festa: as crianças das escolas da região, que se esbaldaram com o clima de recreio literário.
O 1º dia de fato do evento marcou o início da programação da 7ª Jornadinha, voltada para as escolas, com escritores apresentando-se nas lonas específicas em sistema de rodízio. Autores que de manhã estão na Lona Vermelha no início da tarde já passaram para a lona azul - a denominação das lonas "coloridas" é simbólica, herdada das jornadas anteriores, em que lonas de circo cobriam os espaços hoje transformados em pavilhões protegidos por uma uniforme cobertura branca. Se a lona muda, o que não muda é a surpresa das reações dos pequenos e suas perguntas de uma honestidade que não frequentaria o polido universo literário dos adultos.
- Dos livros que vocês escreveram, qual aquele que vocês não gostam? E por quê? - perguntou um dos alunos da lona azul a Marcelo Pires e à escritora portuguesa Margarida Botelho.
Ambos responderam com um uníssono "nenhum!".
Mais do que uma oportunidade de encontro com escritores, a presença na Jornadinha significa para boa parte das crianças um passeio que é pura curtição (embora nenhum delas use esta gíria que, sem dúvida, trai a idade provecta do autor deste texto). No intervalo entre lonas e contações de histórias, o que mais se via eram estudantes espalhados pelo gramado do campus, aproveitando um livro recém-comprado.
Era o caso da turma de 3ª série do ensino fundamental do Instituto Educacional Girassol, de Não-Me-Toque. A gurizada viajou uma hora inteira de ônibus e chegou logo depois do almoço. Por volta das 16h, lanchavam à frente do Centro de Eventos da universidade. Um grupo de meninas aproveitava para pôr a leitura em dia, como a concentrada Maria Luiza Dalla Vecchia, que lia Pretinha de Neve e os Sete Gigantes, história de Rubem Filho que transporta a conhecida fábula europeia da Branca de Neve para o norte da Tanzânia, na África.
- Também tem um rei e uma rainha, mas aqui ela foge de casa - comentava Maria Luiza, de nove anos.
Ela e a colega Elien Pietra compraram um exemplar cada uma da história.
- Achei bem legal esse jeito de contar a história - avaliou Elien, de oito.
Completavam a roda de leitura Bárbara Santana, 9 anos, e Pietra Batistelli Mandelli, 8 anos. Uma roda móvel, uma vez que Bárbara logo correu para se juntar a outro grupo de leitores, enquanto Pietra permanecia lendo Histórias de Avô, de Burleigh Muten, coletânea de mitos de várias culturas.
- Gosto de lendas, então comprei esse - justificou Pietra.
Pequenos leitores
Jornadinha traz o sol a Passo Fundo
Evento voltado para o público infantil atrai crianças das escolas da região
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