Trabalhando com cinema, música e literatura, os convidados para o primeiro debate do Encontro de Escritores Gaúchos manifestaram um desejo comum: mais espaço para o diálogo entre as artes.
A atividade, conduzida pelo escritor Luís Augusto Fischer, reuniu o publicitário e diretor do programa de televisão "Mundo da Leitura", da UPF TV, Carlos Teston, o músico e apresentador do programa "Cantos do Sul da Terra", da FM Cultura, Demétrio Xavier, o diretor e roteirista de cinema Fabiano de Souza e o músico, escritor e jornalista Rodrigo dMart. Uma mesa de artistas "centopeias", como o próprio Xavier definiu, com um pé em cada arte, mas com um desejo único de unir linguagens.
Para Teston, trabalhar com produção de televisão é, em sua essência, um trabalho que une profissionais de formações distintas, com um propósito final. Em sua experiência como diretor do programa infantil, ele afirma que tudo é discutido em um grupo interdisciplinar, que conta com pessoas formadas em Artes Visuais, Produção Cênica, Jornalismo, Radialismo, Publicidade, Letras e, até, Matemática.
- É justamente isso que deixa o trabalho rico, essa troca de ideias. É claro que nem sempre concordamos, mas com as discussões acabamos encontrando o melhor caminho estético para seguir.
Na adaptação de obras literárias para o cinema, Souza afirma que é preciso saber transitar entre as duas artes sem preconceito. Contou também que, neste tipo de trabalho, a parte mais difícil é o início, que envolve o roteiro e a produção. Um dos desafios da carreira foi ter de enviar o roteiro que produziu para a adaptação de um livro para a própria autora: Lya Luft.
- Me falaram que ela queria fazer uma mudança e eu pensei que teria de reescrever tudo. Mas ela só queria que eu trocasse o tu por você, o que é uma vitória para um roteirista - relatou.
Misturar linguagens e sair do universo das produções pop é sempre um risco que Rodrigo dMart gosta de correr, mas que nem sempre é bem aceito pelo público. Ele contou que a banda que integra, a Doidivanas, que une o rock com a música gaúcha, foi classificada pelos "gaudérios" como "muito rock" e pelos "roqueiros" como "muito gaudéria". Segundo ele, ainda há um preconceito no Estado com a mistura de gêneros e linguagens, necessárias para o desenvolvimento da cultura, como foi durante os movimentos Modernista, Tropicália e Manguebeat.
Especializado em música uruguaia e argentina, Xavier também falou do preconceito que sofreu dos vizinhos, que estranhavam o fato de ele tocar canções destes países.
- Eu brigo com esta ideia de intercâmbio. De fazer algo daqui e mandar para a Argentina, ou o contrário. Faço música de uma região.
Para encerrar a manhã, ainda presenteou a plateia com a música de sua autoria "A sanga do Padro Lira", vencedora da última Califórnia da Canção Nativa.
Na quinta-feira, o tema do Encontro de Escritores Gaúchos é "O mundo lá fora: a presença do exterior na literatura recente, escritores gaúchos no exterior". A discussão reunirá Carol Bensimon, Eduardo Sterzi, Michel Laub e Paulo Scott.
Outras linguagens
Encontro de escritores gaúchos debate música, cinema e literatura
Discussão reuniu Carlos Teston, Demétrio Xavier, Fabiano de Souza e Rodrigo dMart
Fernanda da Costa
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