Os próximos dias prometem.
No rastro das manifestações populares e dos seus cartazes criativos, vem aí a Jornada Mundial da Juventude, que atrai ao Rio de Janeiro milhares de jovens católicos de todo o mundo e centenas de grupos das mais diversas tendências, todos sequiosos por vitrine. Já li que uma organização de ateus e agnósticos vai aproveitar a presença do Papa para promover uma cerimônia de desbatismo, coisa que eu nem imaginava existir. Mas existe. Inclui o uso de secadores de cabelos para que "os ventos do secularismo varram a água do batismo de uma religião imposta", segundo explicou um dos líderes do movimento. De outra parte, li também que o Papa vai perdoar pecados pelo Twitter, para aproveitar uma forma de comunicação ao gosto da garotada. Absolvição em 140 caracteres, outra novidade para este jurássico observador.
Apesar dessas singularidades, acredito que o evento religioso da próxima semana será uma festa de boa vontade e congraçamento muito acima das crenças e das diferenças. Tenho visto, pela televisão, algumas reportagens sobre a chegada de jovens de todo o mundo nos aeroportos e rodoviárias do país. A impressão que passa é a de que aqueles meninos e meninas sorridentes só trazem ternura nas suas mochilas. Eles andam sempre em grupos, são alegres e comunicativos, cantam e dançam à menor provocação e parecem ansiosos para saborear a vida que têm pela frente.
Dão esperança esses jovens. Eles formam um exército do bem, unidos pela mesma crença, que não é religiosa, mas sim humana. Acreditam, acima de tudo, na própria capacidade de construir um mundo à imagem e semelhança deles próprios - com alegria, vitalidade, companheirismo e irreverência. Não deixa de ser um contraponto para o vandalismo que assusta o país e lança uma sombra de dúvida sobre o próprio evento programado para a mais bela cidade do país.
O que leva alguns jovens a serem tão dóceis e outros a serem tão agressivos? Não vamos cair na explicação fácil da fé, pois não se pode ignorar que em nome dela - e das diversas religiões que seus crentes consideram as únicas e verdadeiras - já foram cometidas incontáveis atrocidades neste planeta solitário. Mas é impossível não pensar nos fatores psicológicos e ambientais que formam a personalidade de um indivíduo, entre os quais o ambiente familiar, a formação cultural e a experiência de vida.
E há também o imponderável. Sempre que penso nisso, me lembro daquela história contada por Luis Fernando Verissimo sobre a mãe que obrigava os três filhos a rezar todos os dias diante do mesmo santo. Um ficou devoto de São Jorge, outro do cavalo e o terceiro do dragão.
Espero que o Papa tuíte uma indulgência para ele por ter inventado isso.
Coluna
Nilson Souza: Perdão online
"Absolvição em 140 caracteres, outra novidade para este jurássico observador"
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