
O grupo teatral "Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta Favela" compareceu nesta terça-feira à Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) da Câmara de Vereadores de Porto Alegre para denunciar a Brigada Militar por uma autuação durante um ensaio do grupo, acontecido em março. Segundo o ator Robson Reinoso, de 28 anos, o Levanta Favela estava ensaiando no pier da Usina do Gasômetro, quando dois membros da BM os autuaram, com armas em punho:
- Entraram mandando colocar a mão na cabeça, sem qualquer espaço para diálogo. Perguntei se eu podia falar, para explicar que nós tínhamos autorização da Prefeitura para ensaiar ali, mas eles disseram para a gente falar logo onde estavam as drogas. Nos revistaram, e é lógico que não encontraram nada - lembra Reinoso.
O grupo Levanta Favela é um dos contemplados no edital Usina das Artes, que permite a grupos culturais a ocupação de espaços na Usina do Gasômetro. Reinoso explica que o grupo utiliza aquele espaço para ensaiar e apresentar seus espetáculos. Em março, quando houve a abordagem da BM, o grupo ensaiava a peça A Trilogia Tebana, adaptação de textos de Sófocles.
O ator conta que, depois da revista, os policiais reviraram o cenário do ensaio a chutes, ainda procurando por drogas.
- A única droga que tinha ali era o L&M azul (marca de cigarro) que uma das nossas atrizes estava fumando - ironiza o ator.
A denúncia ao Cedecondh não aconteceu antes porque o grupo discutia internamente como levar o episódio a alguma autoridade. Reinoso diz que dois boletins de ocorrência já haviam sido feitos por conta de situações semelhantes. "Optamos por, dessa vez, não registrar BO", ele diz.
A vereadora Fernanda Melchionna, presidente da Comissão, conta que solicitou a presença de um representante da Secretaria de Segurança Pública (SSP), mas não foi atendida. Por telefone, um representante foi contatado e uma nova reunião ficou definida para o dia 17 de junho, na própria SSP.
- São vários casos, esse não foi o primeiro. Mostra uma tentativa clara de cercear a liberdade de expressão. É uma postura que a ditadura usou muito, de coibir o teatro público crítico - dispara a vereadora.
O Major André Luiz Córdova, do 9º Batalhão da Brigada Militar, responsável pela abordagem ao Levanta Favela, diz não recebeu formalmente nenhum convite para participar de "qualquer ato".
- Não teria por que não participar. Sempre que o policial promove uma autuação, ele registra um boletim. Agora, começamos a procurar (o boletim da autuação ao grupo de teatro). Nos casos em que existe denúncia, se abre um processo investigativo interno. Os procedimentos são remetidos ao Ministério Público Militar para que haja uma lisura completa - explica.