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Neste domingo, a cidade mais flamenca do Brasil vai receber uma legenda do gênero: o bailarino espanhol Farruquito, herdeiro de uma dinastia de artistas ciganos, apresenta-se pela primeira vez em Porto Alegre com o espetáculo Abolengo. O bailaor vem mostrar sua arte acompanhado de um grupo de músicos e da bailarina mexicana Karime Amaya - igualmente filha de uma estirpe de mestres do estilo.
Considerado por muitos especialistas como o maior bailarino flamenco da atualidade, Juan Manuel Fernández Montoya, o Farruquito, mostrará no Teatro do Bourbon Country amanhã, às 20h, a tradição de uma arte que passa de pai para filho há gerações. O solista é filho do cantaor Juan Fernández Flores, El Moreno, e da bailaora Rosario Montoya Manzano, La Farruca - todos herdeiros de um estilo de flamenco fundado pelo grande Farruco, avô do bailarino sevilhano.
Abolengo, nome do espetáculo, remete exatamente a esse reconhecimento às origens: a palavra é uma referência aos antepassados, em especial àqueles de uma linhagem ilustre, e vem do espanhol abuelo ("avô").
No palco convertido em tablao, Farruquito dividirá os taconeos com outra descendente de família flamenca: a bailaora convidada Karime Amaya é sobrinha neta de Carmen Amaya e filha de Mercedes Amaya, conhecida como La Winy e um dos pilares dessa arte no México. Completando essa homenagem às raízes, Farruquito, depois de um longo período mostrando apenas criações próprias, confiou o desenho coreográfico de Abolengo ao célebre Antonio Canales, nome consagrado internacionalmente, também filho e neto de artistas, que já se apresentou na capital gaúcha. Inspirados pela estética do flamenco dos anos 1950, cantaores, percussão, violões e violino acompanham o bailaor em uma hora e meia de espetáculo, estruturado em cinco episódios: A Origem, O Caminho, A Arte, A Imortalidade e Fim de Festa.
O flamenco de berço de Farruquito debutou em um palco internacional aos cinco anos em Nova York, na Broadway, com a montagem Flamenco Puro. Aos oito, apresentou sua primeira temporada em Madri, assumindo a liderança artística da família aos 15, com a morte de Farruco em 1997. Um dos astros do filme Flamenco (1995), do diretor Carlos Saura, Farruquito viveu um episódio trágico de grande repercussão em seu país: em 2005, foi condenado à prisão pelo atropelamento e morte de um homem em Sevilha, dois anos antes, quando conduzia um carro. Condenado a três anos de pena, foi libertado depois de 14 meses de prisão.