Imagens de filmes de Federico Fellini (1920 - 1993) são parte importante da peça Felinícias, que estreia em Porto Alegre nesta sexta-feira (6), no Teatro Renascença. Com direção de Jessé Oliveira, o novo espetáculo do Grupo Ueba aposta na interação cênica entre as cenas cinematográficas, projetadas em vídeo, e a ação dramática, baseada na técnica do clown. O enredo conta a história de um casal que se conhece na infância e vive uma sequência de desencontros, até finalmente se reencontrarem já na velhice.
A temporada vai até o próximo dia 15, com sessões de sexta a domingo (sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 20h). Os ingressos custam R$ 20 (R$ 15 para Clube do Assinante e R$ 10 para maiores de 60 anos e estudantes).
Leia abaixo entrevista concedida por e-mail pelo diretor Jessé Oliveira, que esteve com o Ueba esta semana na Venezuela, participando do festival internacional Arribando al Puerto de Maracaibo.
Zero Hora - Como surgiu a ideia para o espetáculo? Foi a partir dos próprios filmes de Fellini ou primeiro veio a história?
Jessé Oliveira - O grupo interessava-se por realizar um trabalho envolvendo a linguagem do clown. Contudo, percebia que esta tem uma gama muito ampla de alcance - e viu na obra do cineasta italiano Federico Fellini a possibilidade de explorar o que há de cômico no cotidiano burlesco e grotesco. O inusitado pelo efeito de estranhamento entre o belo e o feio. Inicialmente sabíamos que queríamos trabalhar com dois clowns que fossem, sob certo aspecto, uma complementação um do outro. A partir desta ideia central, propus um olhar para a cinebiografia felliniana. De pronto o grupo reconheceu nesta proposta a ideia motriz para uma obra rica plasticamente e fiel ao universo clown. Não queríamos fazer um trabalho de clown utilizando os recursos tradicionais - assim, percebemos na obra felliniana a inspiração para este trabalho e para a concepção de um espetáculo inspirado no cinema mudo, em ato sem palavras e no diálogo com linguagens contemporâneas, com a projeção como um instrumento para o dialógico.
ZH - Aliás, esse tema do romance desencontrado aparece forte em vários filmes - um que me ocorre é o espanhol Os Amantes do Círculo Polar, no qual os personagens acabam separados. Pela sinopse, Felinícias termina em outro tom - mas podemos falar em final feliz?
Oliveira - A expressão mais precisa não é a de final feliz no sentido estrito, mas a ideia de um ciclo que se completa. O desencontro e o mal entendido são dimensões do humano, e é nesta acepção que o espetáculo transita pelo desencontro. O desencontro é sempre uma possibilidade, uma potência de vida.
ZH - A combinação cênica entre cinema e teatro chega ao ponto de os atores interagirem com as ações ou diálogos que se desenvolvem na tela?
Oliveira - Sim. Há há uma interação contínua entre tela e palco, sendo que em diversos momentos há uma relação de interdependência entre as ações de vídeo e ao vivo. As filmagens ajudam a contar a narrativa do espetáculo, sendo parte fundamental ao trabalho dos atores e da peça. A duração do Espetáculo é de 55 minutos, onde o vídeo se faz presente em quase todo o espetáculo.
ZH - Qual a papel da linguagem do clown nessa narrativa? É uma forma de fazer com que os personagens, por exemplo, expressem constante surpresa com seus encontros e desencontros?
Oliveira - O papel do clown no espetáculo foi fundamental em parte da construção do corpo cênico, intenções, expressões e movimentações exageradas que ajudam a passar a intenção da cena pelo corpo. O foco e a clareza de movimentos do Clown ajudou a dar o tom nostálgico ao trabalho, lembrando as cenas vistas em cinemasmudo, onde o corpo é a principal ferramenta do espetáculo.
ZH - Qual é a importância de participar de eventos teatrais em outros países?
Oliveira - A participação do grupo em festivais internacionais é fundamental para o crescimento da obra e do grupo, pela possibilidade de intercâmbio e conhecimento de novas linguagens. A apresentação na Venezuela foi realizada na quarta-feira e foi aclamada pelo público. Também fizemos oficinas e trocamos informações sobre produção cultural na América Latina.
Notícia
Espetáculo "Felinícias" estreia na Capital
Combinação de cinema e teatro entra em cartaz no Teatro Renascença
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: