Luiz Paulo Vasconcellos*
A ideia da construção de um teatro sempre esteve ligada ao processo de transformação política e enriquecimento econômico dos povos. O teatro era o espaço em que as oligarquias se encontravam para celebrar a prosperidade e conspirar contra as formas de governo que não lhes conviessem.
No Brasil, a construção das primeiras casas de espetáculo coincide com os ciclos de enriquecimento localizados em diversas regiões do país. O ciclo do ouro, em Minas Gerais, quando foram construídos os teatros de Ouro Preto e Sabará, em 1770 e 1819; o ciclo da borracha, na Amazônia, quando foi construído o Teatro da Paz, em Belém, em 1878, e o Teatro Amazonas, em Manaus, em 1896; e o ciclo do charque, no Rio Grande do Sul, quando foi construído o Teatro Sete de Abril, em Pelotas, em 1831. Mas nenhum outro período da história do país foi tão pródigo na construção de teatros quanto na época das campanhas abolicionista e republicana, no final do século 19 e início do século 20.
Saindo de uma monarquia hereditária, o Brasil precisava se preparar para enfrentar as consequências das urnas. Nunca antes um local de encontro das elites havia sido tão necessário. Um espaço de reconhecimento dos iguais, de reafirmação do poder, de ostentação da riqueza, de propaganda das novas ideias e – por que não? – de convivência de ideologias, já que o novo sistema favorecia a pluralidade de pensamento.
No Rio Grande do Sul foram construídos, entre 1831 e 1897, nada menos do que sete casas de espetáculos: o Teatro Sete de Abril, em Pelotas, em 1831; o Teatro Municipal, em Triunfo, em 1848; o Theatro São Pedro, em Porto Alegre, em 1858; o Teatro Prezewodowski, em Itaqui, em 1883; o Teatro Treze de Maio, em Santa Maria, em 1890; o Teatro da Sociedade Rio Branco, em Cachoeira do Sul, em 1896; e o Teatro Esperança, em Jaguarão, em 1897. Os motivos para a construção desses teatros são vários: a sempre renovada presença de um pensamento separatista, o risco de uma provável guerra civil, o temor que representavam as fronteiras e as influências do processo imigratório europeu. Esses fatores reforçavam, por um lado, a ideia de domínio e posse e, por outro, a de celebração.
Foi provavelmente o maior número de teatros construídos em todo o país. A programação desses teatros era composta de comédias, melodramas, tragédias românticas, recitais e óperas. O São Pedro foi inaugurado com o espetáculo Recordações da Mocidade, pela Companhia Ginásio Dramático Rio-Grandense. Mesmo assim, por mais inócua que a programação possa ter sido, é provável que os palcos gaúchos de alguma forma ecoassem as ideias que fervilhavam na plateia, reforçando o pensamento de uma comunidade que fazia sua história construindo teatros e com isso afirmando-se econômica, política e culturalmente.
Não esqueçamos que a oligarquia gaúcha vivia afastada entre si, cada família nas suas terras, nas suas fazendas, e que nas cidades as Igrejas não possibilitavam a prática da discussão e do debate político. Assim, foram os teatros as soluções encontradas para que os poderosos se conhecessem e reconhecessem o poder e a riqueza um do outro, estampados nas roupas e nas joias usadas pelas mulheres. Outro detalhe importante no papel dos teatros nas relações sociais é que não havia luz elétrica, portanto as plateias permaneciam iluminadas durante todo o espetáculo, permitindo assim que uma parte do público conversasse enquanto no palco alguma coisa acontecia.
* Ator, professor e diretor