Eva Sopher dedicou a vida a recuperar e preservar um dos espaços mais fundamentais para a cultura em Porto Alegre.
Nesta segunda-feira (18), data em que a ex-presidente da Fundação Theatro São Pedro completaria 95 anos, será reaberto, no prédio histórico na Praça Marechal Deodoro, o Memorial que conta a história do teatro: de sua fundação, em meados do século 19, ao ainda inacabado Multipalco, incluindo uma nova galeria dedicada à sua fiel guardiã.
A inauguração, com cerimônia marcada para as 15h, põe fim a um período de três anos em que o espaço esteve inacessível para o público. Segundo o presidente da Fundação Theatro São Pedro, Antonio Hohlfeldt, os aniversários de Dona Eva e do teatro que ela comandou por mais de quatro décadas (comemorado em 27 de junho) formaram uma dobradinha oportuna para a reinauguração do espaço, que estava fechado desde 2015.
– A gente queria há tempos retomar esse espaço. Estávamos com dificuldade de pessoal, mas agora recompusemos o quadro – conta Hohlfeldt.
Salas são divididas em atos temáticos
As quatro salas repletas de fotografias, reproduções de jornais e outros materiais informativos sobre os 160 anos do teatro permanecem como estavam antes do fechamento. O aspecto mais importante da reinauguração, segundo o presidente, é a nova galeria, idealizada para preservar o vínculo de Dona Eva com a história do Theatro São Pedro.
– Inclusive haverá um grande banner em homenagem a ela – adianta.
A Galeria Eva Sopher contém objetos de Dona Eva e curiosidades sobre sua trajetória. As quatro salas que compõem o espaço do memorial, acessado pela lateral do teatro, percorrem em ordem cronológica os 160 anos que se passaram entre sua abertura, em 27 de junho de 1858, e o presente – incluindo o projeto do Multipalco Eva Sopher. Como em um espetáculo teatral, cada parte da história é chamada de ato.
No Primeiro Ato, estão os anos iniciais do teatro – e os grandes espetáculos que passaram por ali, como a Ospa regida pelo maestro Heitor Villa-Lobos, em 1953, e as apresentações, em 1929, da atriz argentina Berta Singerman, que declamou poemas em oito espetáculos no teatro.
O período em que as condições precárias da edificação levaram ao fechamento do teatro é recontado no Segundo Ato, que se encerra em 1975, com a chegada de Eva Sopher e o início da reconstrução e restauração do prédio. O Terceiro e o Quarto Atos recuperam os anos de retomada e consolidação do São Pedro como patrimônio cultural, até a apresentação do Projeto Multipalco e seus 18 mil metros quadrados de área. Pelas janelas, é possível espiar o espaço, que já teve inauguradas a Concha Acústica, a sede administrativa, a Sala da Música, o estacionamento, as salas para workshop e oficinas e o centro de formação que abriga a Escola de Música Sol Maior, onde são atendidas com ensino de música, dança e canto mais de 150 crianças e adolescentes.
O memorial estará aberto de terça-feira a sábado, das 15h às 18h30, com entrada franca. O agendamento para grupos maiores e escolas pode ser feito pelo telefone (51) 3227-5100.
Acervo com obras de arte será leiloado no dia 27 de junho
Um leilão do acervo de Eva Sopher será realizado na residência em que viveu a ex-presidente da Fundação Theatro São Pedro, que morreu em fevereiro passado, aos 94 anos. Marcado para o dia 27 de junho, dia em que o teatro completa 160 anos, o evento busca atrair colecionadores de arte e antiguidades.
– A data foi pura coincidência, por puro acaso da agenda do leiloeiro – conta Renata Rubim, filha de Dona Eva, como ficou conhecida a imigrante alemã consagrada como “guardiã do São Pedro” desde que capitaneou a reforma do teatro centenário entre os anos 1970 e 1980.
Segundo Renata, a família tomou a decisão de realizar o leilão porque não daria conta dos inúmeros objetos que ocupam os cômodos e paredes do apartamento na Rua Felicíssimo de Azevedo. Móveis, obras de arte e objetos como porcelanas, cristais, talheres e antiguidades serão leiloados no evento. Os itens mais preciosos, destaca Renata, são obras como pinturas, gravuras e desenhos da coleção de Wolfgang Klaus Sopher, marido e incentivador de Eva, morto em 1987:
– Tem, por exemplo, um estudo do Candido Portinari feito para painéis da ONU (o painel Guerra e Paz, encomendado pelo governo brasileiro para presentear a sede das Nações Unidas em Nova York). É um esboço. Também tem um óleo de Manabu Mabe (artista japonês pioneiro do abstracionismo no Brasil).
Renata lembra que o pai era um “colecionador impressionante de arte”:
– As pessoas que lembram dele vão saber que são objetos adquiridos com muito critério.
Daniel Chaieb, responsável pelo leilão, destaca outros itens:
– Há obras de Raimundo Oliveira, pintor cult hoje em dia no Rio e em São Paulo. Tem uma aquarela do Theatro São Pedro feita pelo Mancuso, um dos quatro artistas que pintaram o teto do teatro. E, na parte de objetos, tem alguma coisa de prataria alemã, já que Eva e Wolfgang eram alemães.
O leilão será realizado às 20h. Interessados podem contatar a agência de leilões de Chaieb pelo telefone (51) 3061-5017.