Estreando a temporada porto-alegrense de seu mais novo espetáculo no dia em que o Theatro São Pedro completa 160 anos, Denise Fraga lamenta a ausência de Eva Sopher. Será a primeira vinda da atriz à Capital desde que a guardiã do histórico espaço cultural faleceu, em fevereiro.
– Queria muito que Dona Eva assistisse a essa peça – lamenta Denise em entrevista a Zero Hora por telefone. – Acho que ela ficaria orgulhosa de mim.
Com um elenco de 13 atores, A Visita da Velha Senhora chega para duas semanas de apresentações em Porto Alegre, temporada mais extensa do que o usual para atrações de fora do Estado. As sessões serão desta quarta (27/6) a domingo (1º/7) e de 5 a 7 de julho.
Denise faz um pedido que o repórter aceita prontamente: sugerir aos espectadores para irem logo nas primeiras sessões. Pela experiência nas outras cidades, ela constata que são muitos os que acabam voltando para ver de novo, levando algum familiar ou amigo querido. Aí acaba faltando ingresso na segunda semana.
Montagem traz final "brechtiano"
A Visita da Velha Senhora é uma "comédia trágica" escrita em 1956 pelo dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt (1921 – 1990), um clássico do teatro. Conta a chegada da ricaça Claire Zachanassian (Denise Fraga) em Güllen, uma cidade falida. Claire tem a intenção de doar um bilhão para a recuperação do lugar, mas impõe uma condição: alguém deve matar Alfred Krank (Tuca Andrada), o sujeito com quem teve um relacionamento na juventude e que a abandonou grávida para perseguir um casamento por interesse. À primeira vista absurda, a proposta parece cada vez mais aceitável aos cidadãos de Güllen conforme mentalizam a recompensa. No fundo, A Visita... é sobre a flexibilidade moral frente à tentação do dinheiro. Mas não apenas isso, acrescenta Denise:
– A peça traz discussões atuais, como a questão do tribunal público. Alguém pode desenvolver um discurso chamando de justiça algo que é completamente injustificável. E como vemos pessoas caindo nesses discursos compartilhados na internet, seduzidas pela retórica! Temos falado muito do que é justo e certo, com um monte de policiais de plantão entre nós, mas falamos pouco do que é generoso. Se tem algo que está em crise é o afeto.
O espetáculo compõe uma trilogia com duas peças de Bertolt Brecht que Denise já apresentou em Porto Alegre: A Alma Boa de Setsuan e Galileu Galilei. Embora tenha se encantado pelo novo texto, Denise admite que é uma brechtiana de carteirinha e "sofre" com o pessimismo de Dürrenmatt. A solução foi incluir, como se fosse uma gostosa travessura, um final “brechtiano” para o espetáculo, convidando o público a agir para mudar o estado de coisas na sociedade. Mais do que isso não cabe adiantar para não estragar a surpresa.
Sem propor qualquer tipo de interação constrangedora com o público, a direção de Luiz Villaça procura se dirigir aos espectadores como cidadãos que testemunham os acontecimentos ficcionais. Denise compara:
– Sinto que acontece com eles o mesmo que está acontecendo conosco nessa entrevista: saem da peça cheios de assunto. Uma das maiores funções do teatro hoje é dar palavra às nossas angústias. Às vezes sentimos algo, mas não sabemos expressar. Aí você vai ao teatro e pensa: “Claro, é isso!”. As pessoas passam o dia inteiro lendo textos picados no celular, mas o teatro propõe, pelo contrário, um mergulho.
O repórter ainda teria uma pergunta sobre a situação do Brasil hoje, mas conclui que esse era o assunto desde o início.
– Você vai ver como a peça reverbera o que estamos vivendo – garante Denise. – Estamos em um mato sem cachorro, mas tenho esperança.
A VISITA DA VELHA SENHORA
Desta quarta (27/6) a sábado (30/6), às 21h; domingo (1º/7), às 18h; e de 5 a 7 de julho, às 21h.
Classificação: 14 anos. Duração: 120 minutos.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone (51) 3227-5100, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 40 (galerias), R$ 50 (camarote lateral), R$ 60 (camarote central) e R$ 70 (plateia e cadeira extra). Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante.
À venda pelo site vendas.teatrosaopedro.com.br (com taxa) e na bilheteria do teatro, de segundas a sextas, das 13h às 18h30 (ou até o horário de início do espetáculo), e sábados e domingos, das 15h até o horário de início do espetáculo.