O texto do jornalista Inácio Knapp sobre o antigo, e aparentemente em desuso, costume de assobiar melodias evocou em mim pelo menos duas recordações significativas. A primeira me remeteu a uma história que meu pai, Hamilton, contava. Se não estou enganado, dizia respeito ao irmão dele, meu tio, o poeta Ovídio Chaves. Como contei numa recente coluna, Ovídio, depois de ser preso e perseguido pelo regime instaurado pós-golpe de 1964, decidiu se refugiar, meio clandestinamente, na Ilha de Paquetá, no fundo da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Perguntado pelo irmão que o visitava sobre o porquê da escolha daquele lugar (com acesso somente por mar onde não há automóveis) para se “esconder”, o poeta teria respondido: “É que aqui as pessoas ainda assobiam pela rua. Se dentro de 30 minutos não passar alguém assobiando uma melodia, eu me mudo!”. Não deu outra. E nem precisou esperar todo esse tempo, confirmava meu velho pai.
Lembranças
A felicidade que um assobio desperta
Texto do jornalista Inácio Knapp trouxe à tona duas memórias de minha infância
Ricardo Chaves
Enviar email