Esperança. É assim que Esther Gardelin define a vacina contra a covid-19. Moradora do bairro Bela Vista, em Caxias do Sul, a idosa recebeu a aplicação da primeira dose em 9 de fevereiro, e da segunda em 8 de março. Aos 89 anos, mãe de sete filhos, avó de 12 netos e bisavó de seis bisnetos, Dona Esther garante que a vacina é a alternativa para sair da pandemia:
— A vacinação é a nossa saída. Esse é o caminho para vencermos a pandemia. Não tive reação nenhuma a vacina. Fiquei muito bem depois da primeira e também da segunda dose. As pessoas têm que fazer a vacina. Os idosos não podem deixar de fazer.
Católica, Esther afirma que a fé a mantém forte.
— Sei que tudo vai passar. Sou forte, e rezo todos os dias para que termine esse pandemia. É preciso fé, ela nos mantém de pé, e a vacina é a esperança de dias melhores. Rezo o terço e sei que muitas outras pessoas oram comigo em suas casas para a pandemia acabar, e que todas as nações tenham paz .
Apesar de imunizada, dona Esther sabe que ainda é preciso manter os cuidados que se tornaram parte do novo normal.
— Agora que fiz a vacina me sinto mais segura, mas ainda assim evito sair de casa. Quando preciso ir em algum lugar sempre uso máscara e higienizo as mãos. Temos que nos cuidar bastante.
Ela conta os dias para poder abraçar quem ama.
— Estou esperando que logo, logo vou poder abraçar meus netos e bisnetos — se emociona a irmã do historiador Mário Gardelin, figura conhecida em Caxias, que morreu em 2019.
Ela se emociona:
— Precisamos acreditar na vacina. Se vacinar é importante. Tem aqueles que não acreditam no vírus, e infelizmente, sentem na pele a doença ou a perda de alguém. Peço que deixem essa atitude, que mudem de comportamento porque se ficarem doentes não tem leitos. São dias tristes, muitas vidas perdidas, mas vai passar.
"Ficamos feliz da vida quando ela foi vacinada", conta uma das filhas
Uma das filhas de dona Esther Gardelin, a aposentada Ivonilse de Lourdes Gardelin Rodrigues, 65, conta que a mãe sempre tem uma fé inabalável:
— Há dez anos ela teve câncer, e ficou entre a vida e a morte. Quando um dos meus irmão chorou no hospital ela disse: "não chora porque eu vou sair dessa, eu vou para casa". E ela melhorou. A mãe tem muita fé, e reza com convicção desde o dia que começou a pandemia. Ela fez uma promessa que enquanto tiver vida ela vai rezar o terço todos os dias.
Ivonilse não esconde a alegria depois da mãe ter sido vacinada.
— Ficamos felizes da vida quando ela foi vacinada. Na segunda dose foi rápida a aplicação porque tinha menos gente, e eu fiquei deslumbrada e feliz porque ela pelo menos estará imune.
A aposentada ressalta que agora os irmãos também começam a ser imunizados:
— Logo os mais velhos da família serão imunizados. Sem a vacina não temos segurança. A chegada da vacina reduzirá o número de pessoas infectadas pelo coronavírus e precisando de internação hospitalar — acredita ela.
Ansiedade entre os idosos
A vacinação dos idosos é fundamental para que esse grupo fique menos suscetível a hospitalização. De acordo com a presidente do Conselho Municipal do Idoso (CMI), Danielle Cristina Lucena Rech, ressalta que percebe ansiedade entre os idosos para que a faixa etária deles seja contemplada com a vacina.
— No Conselho do Idoso não recebemos nenhuma informação de pessoas que não queriam se vacinar. Os que ligam é para saber quando chegam as vacinas para sua idade.
Ela acredita ainda que há aqueles que não se vacinaram ainda por ter medo de sair na rua, mas não que não queiram se vacinar.
— A maioria já se vacinou ou está esperando data. Estão ansiosos. Acredito que os idosos não têm acesso a estas teorias contra a vacina. Elas não compartilham estas informações que não sabem se são verdadeiras. Há alguns familiares resistentes as vacinas, mas os idosos em si, não.
Internações
Até o momento, de acordo com os dados disponíveis no Sistema Informatizado de Vigilância Epidemiológica (Sivep), do Ministério da Saúde (MS), ainda não foi possível observar queda nem nas internações, nem no número de óbitos na faixa etária de 80 anos ou mais em Caxias do Sul, depois do início da vacinação, que ainda precisa avançar para podermos observar um impacto na hospitalização dessa faixa etária, em específico. Vale lembrar que os dados do Sivep têm um atraso de notificações de aproximadamente 15 dias, pelo menos, o que dificulta esse tipo de análise.
— As internações, de acordo com os dados Sivep apresenta um quadro de estabilidade. A vacinação de idosos na cidade, que começou no início de fevereiro na cidade, ainda é muito recente e não reflete ainda no quadro de internações na faixa etária de 80 anos ou mais — analisa o economista Rodrigo Costa da Silva, que integra a Rede Análise covid-19.
Ele avalia ainda que foram vacinados, segundo dados da Secretaria de Saúde de Caxias em torno de 70% da população dessa faixa etária com a primeira dose e em torno de 50% com a segunda dose. Para a biomédica e doutora em neurociências pela UFRGS, Mellanie Fontes-Dutra a análise mostra que é preciso vacinar ainda mais para observar os impactos:
— Nesse contexto que estamos, precisamos vacinar ainda mais para proteger mais pessoas e observar um impacto disso na hospitalização, que deve reduzir conforme aumentar o número de imunizados — analisa ela, que atua na Rede Análise covid-19, equipe Halo da ONU, grupo InfoVid, Todos Pelas Vacinas e União Pró-Vacina.
A biomédica alerta:
— Quem for vacinado deve seguir usando todas as medidas de enfrentamento, mesmo vacinada. Apenas quando tivermos uma alta porcentagem da população toda vacinada que poderemos pensar em flexibilizar as medidas de enfrentamento.
Ela lembra que, no momento, a transmissão segue acelerada.
— Outros locais observaram um impacto rápido quando faziam vacinação em massa e de forma acelerada aliada a lockdown ou tinham uma transmissão menos acelerada. Países que estão tendo sucesso, estão vacinando em massa e aplicando medidas restritivas intensas. Assim se ataca o problema em diferentes frentes: protegemos a população com vacinação em massa e reduzimos ao máximo a transmissão do vírus com as medidas restritivas, mantendo o sistema de saúde funcionando — avalia Mellanie.