
As diferentes informações sobre tratamento para a covid-19 que circulam em redes sociais se refletem nos balcões das cerca de 5 mil farmácias gaúchas. Levantamento indica que a venda de hidroxicloroquina sulfato, medicamento testado para parte dos pacientes com a doença, cresceu 62,67%.
Entre janeiro e março de 2019, o total de unidades vendidas chegou a 22.738 em todo o Estado. No mesmo período de 2020, o número subiu para 36.987. A análise de dados foi feita pela consultoria IQVIA a pedido dos conselhos regionais de Farmácia.
A hidroxicloroquina é um derivado da cloroquina usada para o tratamento de malária e lúpus — os medicamentos são defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro para o tratamento da covid-19, mesmo sem evidências científicas significativas. Antes, os pacientes de uso contínuo podiam apresentar a mesma receita por seis meses, mas, após o consumo desenfreado, houve restrição nas vendas.
— Acreditamos que as pessoas estavam comprando além do necessário para guardar e ter em casa, com medo de que alguém próximo viesse a ter algum problema. E aí as pessoas que realmente precisam ficaram desabastecidas pelo consumo inapropriado. É importante lembrar que o medicamento pode causar efeitos colaterais, como convulsão e arritmias cardíacas, podendo até levar a parada cardíaca — alerta a presidente do Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul, Silvana Furquim.
No sentido contrário, a venda de ibuprofeno caiu 9,42% (veja os números absolutos abaixo). Inicialmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que a substância poderia agravar a doença, mas a informação foi corrigida dias depois. No entanto, o medicamento ainda é visto com ressalvas por especialistas da área da saúde.
Com as vendas mais baixas de ibuprofeno, outras duas alternativas passaram a ser mais buscados pela população. A comercialização de paracetamol cresceu 56,33% e a de dipirona sódica, 59,56%. Segundo o conselho, os dois trazem reações adversas. Dependendo da dose, o paracetamol pode causar hepatite tóxica, e a dipirona gera risco de choque anafilático.
Vitaminas C e D
As vitaminas, que são conhecidas pelo benefício do aumento de imunidade, também entraram no radar de compras dos gaúchos. O maior índice dentre todas as substâncias pesquisadas é o do ácido ascórbico (vitamina C): o aumento chega a 170,55%. A venda de colecalciferol (vitamina D) também subiu, em um percentual de 37,85%.
— O baixo índice de vitamina D, que é adquirida pelo sol, pode enfraquecer algumas defesas. A vitamina C também ajuda na imunidade. Só que são necessários testes laboratoriais para saber se a pessoa tem falta no organismo. A vitamina D pode causar lesões nos rins, e a C, diarreia, cólica e dor abdominal — esclarece Silvana.
Uso consciente
Até o dia 11 de maio, o Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul promove a Semana do Uso Racional de Medicamentos — esta terça-feira (5) é o dia nacional que alerta para o tema. Em outros anos, as campanhas eram feitas em pontos de grande movimento de público. Devido à recomendação de distanciamento social, este ano a mobilização será online.
Para Silvana, é importante alertar para os riscos da automedicação:
— As pessoas têm uma tendência a se automedicarem porque não querem sentir dor, mas tudo isso pode interferir na saúde. Por isso, os medicamentos só devem ser usados com orientação. Contamos com nossos farmacêuticos, que seguem na linha de frente trabalhando e ajudando as pessoas.