Uma parceria entre a prefeitura de Santa Cruz do Sul e a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) vai permitir a execução de 5 mil testes de covid-19 na cidade do Vale do Rio Pardo. O município entrou com investimento de R$ 400 mil para a compra dos kits, e a instituição de ensino executará os testes dentro da sua estrutura. A expectativa é verificar entre 50 e 100 amostras por dia.
Importados, os kits devem chegar em 15 dias. Até lá, a Unisc vai reunir uma equipe de biólogos, farmacêuticos e biomédicos que executarão os testes. Santa Cruz do Sul tem 21 casos suspeitos de coronavírus. A união de esforços pretende acelerar os diagnósticos. Segundo o secretário de Saúde da cidade, Régis de Oliveira Junior, as amostras com resultado do Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen), em Porto Alegre, levam de quatro a sete dias para chegar.
Por enquanto, a cidade não tem nenhuma caso confirmado de covid-19. Porém, mais de 100 profissionais da área da saúde estão afastados por sintomas de gripe. Com os testes próprios e se forem negativados, poderiam ser liberados para fazer o atendimento a população. Além disso, outro ponto de atenção na cidade é que, segundo estimativas da prefeitura, Santa Cruz tem mais de 20 mil idosos. Destes, 680 estão em clínicas geriátricas e asilos municipais. Técnicos de saúde da cidade estão avaliando quais os melhores critérios para aplicar os testes.
— Hoje, estamos trabalhando com os critérios do Ministério da Saúde, de só fazer testes em pacientes internados e em profissionais de saúde. Mas precisamos aumentar a capacidade de testagem para que possa se retomar a normalidade o mais rápido possível. Precisamos de ações que sejam mais realistas e assertivas — considera o secretário.
Além de infraestrutura e corpo técnico, a universidade dispõe de um equipamento para executar as análises, que é o PCR. Outro aparelho necessário para os testes foi obtido com a empresa ProfiGen do Brasil, que emprestará um extrator de RNA, que é o material genético do vírus.
— A ciência tem de estar a serviço da saúde e da comunidade nessa rede de solidariedade em que temos pesquisadores, professores e estudantes dos últimos anos das áreas da saúde que estão somando esforços. Não tem como, neste momento, uma universidade comunitária não ser parceira no desenvolvimento de ações para o município — afirma a reitora da Unisc, Carmen Lúcia de Lima Helfer.
Além do diagnóstico molecular, a Unisc está à frente de outras ações de prevenção e combate à covid-19. Uma delas é de uma máscara protetora para profissionais de saúde, produzida em uma impressora 3D, que se estende da testa até a altura do peito. A matéria-prima é filamento e lâmina de acetado, e a produção acontece dentro do TecnoUnisc, o parque tecnológico da universidade.
— O que é mais difícil de conseguir é o acetado, mas estamos buscando parcerias com empresas — explica a diretora de inovação e empreendedorismo da Unisc, Andreia Rosane de Moura Valim.
Outro item desenvolvido pelo TecnoUnisc, em parceria com a Owntec, uma startup que nasceu no parque tecnológico e desenvolve equipamento para laboratórios, é uma máscara de mergulhador que se torna uma máscara de ventilação não invasiva com a incorporação de componentes de entrada e saída de ar. O material foi validado junto ao Hospital Santa Cruz em termos de funcionamento e esterilização.
— É um produto que pode ser adaptado para pacientes e profissionais, diferentemente do protetor facial, porque isola todo o rosto. Não corre nenhum risco do profissional de saúde ser contaminado. Estamos recebendo 50 máscaras para serem adaptadas em um primeiro momento — explica o CEO da Owntec, Luiz Barbieri.
Segundo Andréia, outro grupo do TecnoUnisc está focado em fabricar máscaras N95 e jalecos com o mesmo material, de uso recomendado para pessoas com suspeita de infecção pelo coronavírus e por profissionais de saúde que vão atendê-las. O item é capaz de garantir proteção em dois sentidos, porque tem um filtro de ar que bloqueia pelo menos 95% das partículas em suspensão e ajuda na proteção contra doenças por transmissão aérea, como o coronavírus.
— Nossa ideia é usar o mesmo tecido para fazer jalecos e máscaras. Temos estoque pequeno e corremos atrás de fornecedores — diz Andreia.
Outra possibilidade avaliada dentro da estrutura da universidade é utilizar a engenharia reversa para reativar respiradores estragados.
— Desmontam o equipamento e, a partir disso, começam a ver como é montado para produzir novamente. Criamos um grupo de trabalho entre a TecnoUnisc e engenheiros de duas empresas da cidade para tratar disso — explica a diretora.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, Santa Cruz dispõe de 38 respiradores aptos para uso adulto.