Conheça 13 vinícolas que recebem turistas para conhecer a história da região, provar vinhos e até se hospedar junto aos vinhedos. Saiba mais sobre a história e as atrações de Setúbal.
O Torna Viagem
Um dos vinhos portugueses mais populares no Brasil, o Periquita, é também produto da vinícola mais antiga de Portugal (à exceção dos produtores de vinho do Porto e Madeira). É a adega José Maria da Fonseca, fundada em 1834 e administrada hoje pela sétima geração da família.
Periquita (nome que vem da Cova da Periquita, propriedade onde ficavam os vinhedos) foi também a primeira marca vinho tinto engarrafada no país. A casa onde um dia viveram os Fonseca, no Azeitão, abriga hoje um museu, cuja visita antecede a degustação. Ali, se pode conhecer a história dos moscatéis Torna Viagem, um produto criado pelo próprio José Maria.
Ele pedia aos capitães dos navios que levassem alguns de seus barris a bordo em viagens transatlânticas, e mantinha um barril “testemunha” na adega, para fins de comparação entre os dois produtos. Segundo António Maria Soares Franco, co-CEO de Marketing e Vendas, os diferentes níveis de temperatura, pressão, umidade e salinidade experimentados pelo vinho viajante fazem com que ele evolua 30 anos em quatro meses. Melhor ainda se cruzar o Equador, diz ele.
Detalhe: José Maria vendia mais caro os vinhos de torna viagem. Hoje, a família preserva os últimos moscatéis enviados para além-mar, em 2000 e 2010 (quando deu a volta ao mundo), como herança para “as gerações futuras”.
A visitação é de segunda a domingo, o ano inteiro, com dois horários por dia. O tour pela casa, jardins e adegas finaliza com a prova de vinhos. Valores por pessoa:
- 2 vinhos premium: 9,50 euros
- 4 vinhos premium: 15 euros
- 6 vinhos premium: 23 euros
- 3 vinhos super premium: 26 euros
- 6 vinhos super premium: 48 euros
- 3 moscateus de Setúbal: 20 euros
- 3 tintos especiais: 30 euros
- 3 moscateis especiais: 100 euros
- Programa família: prova de dois vinhos, 2 sucos, queijos, embutidos, pães e azeite: 42 euros por família
Uma vila romana no Azeitão
O Palácio da Bacalhôa, na Vila Nogueira de Azeitão, é uma das sete propriedades desta que é uma das mais tradicionais vinícolas de Portugal. Já pertenceu a dom Carlos I, o último rei de Portugal, morto em 1908.
Fundada em 1922 como João Pires e Filhos, a quinta só produzia vinhos a granel, para ser engarrafado com outras marcas – como a maioria das vinícolas da região também começou. A primeira vinha no Palácio da Bacalhôa foi plantada em 1974. E em 1981 surgiu o vinho mais famoso da adega, o Catarina.
O cenário remete ao império romano. Nos jardins, além das vinhas, há um labirinto verde, estátuas e colunas e um lago artificial. A propriedade foi de uma família norte-americana desde os anos de 1930 até 2000. Hoje, pertence aos acionistas da vinícola, que passou a chamar-se Bacalhoa em 2005.
A visitação guiada dura cerca de 1,5 hora e acontece de segunda a sábado, em dois horários (10h e 15h). As visitas podem ou não ser agendadas e são gratuitas para crianças de até 12 anos, mas não há degustação de vinhos.
- Visita à exposição Bacalhôa Adega Museu - 6 euros
- Visita à exposição Palácio da Bacalhôa - 12 euros
- Visita à exposição Bacalhôa Adega Museu + Palácio da Bacalhôa - 15 euros
As vinhas dos pavões
Quem dá a largada na vindima na Herdade Espirra são os pavões. Anfitriãs de quem chega à propriedade, as aves vivem livres entre as vinhas, dormem empoleiradas nos eucaliptos e são um termômetro para o ponto das uvas: se começam a comê-las, está na hora de colher. São também os pavões que ilustram alguns dos rótulos dos tintos produzidos nesta adega centenária, onde as uvas ainda são pisadas e fermentam à moda antiga, em tanques de concreto.
Nesta propriedade de 1,7 mil hectares, os vinhedos são minoria: 37 hectares. O resto é dedicado à produção de eucaliptos, desde que a Navigator, produtora de pasta branqueada e papel, comprou a área nos anos de 1980. Impedida de ampliar a área de floresta, a companhia resolveu manter os vinhedos e a adega que hoje são um charmoso merchandising já que a produção é pequena – 80 mil garrafas ao ano.
Mas voltando aos pavões: diferentemente de outros pássaros, eles não bicam e estragam as uvas; comem os grãos inteiros, e por isso não prejudicam a safra.
As visitas, na época da vindima, incluem degustação, tour e até a pisa da uva. Para agendar, entrar diretamente em contato com a enóloga Ana Varandas pelo WhatsApp: +351 964 171 316.
Receptividade cooperativa
Com 59 anos de tradição na produção, mas há apenas dois inserida no circuito enoturístico, a Adega Cooperativa de Palmela é uma das opções mais em conta para quem quer provar vinhos e aprender sobre castas, história e qualidade.
A degustação acontece na cave, à meia luz, em meio a barris e garrafas, após uma visita guiada pela adega. O roteiro dura entre 1 hora e 1h45min, de terça-feira a sábado, sob reserva, com quatro opções de cardápio:
- Visita guiada com degustação de vinhos regionais: 7 euros por pessoa
- Visita guiada com degustação de vinhos premium: 9 euros por pessoa
- Visita guiada com degustação de vinhos e produtos regionais (pão, linguiça, queijos e manteiga de ovelha, compotas diversas): 12 euros por pessoa
- Visita guiada com degustação de vinhos premium e produtos regionais (pão, linguiça, queijos e manteiga de ovelha, compotas diversas): 14 euros por pessoa
Despojado e tradicional
Uma adega de área pequena, onde é possível conhecer todo o processo de produção bem de perto. A Fernão Pó fica na localidade de Fernando Pó, onde se plantam vinhas há 180 anos. Fundada em 1955 a adega ainda usa os tanques originais, e só armazena os vinhos em barris de carvalho francês.
A degustação de vinhos, precedida de uma visita à adega, é acompanhada por tabua de queijos, pães, doces. Valores por adulto:
- prova de três vinhos e um moscatel de Setúbal: 14 euros
- prova de quatro vinhos especiais e um moscatel de Setúbal: 25 euros
Como estar em casa
A Casa Agrícola Horácio Simões foi fundada em 1910, na região da Quinta do Anjo, em Palmela. A administração das vinhas de até 90 anos e da produção de cinco tipos de vinhos está com os bisnetos de Horácio, Luís e Pedro Camacho Simões.
Segundo Luís, foi seu avô o responsável por “ressuscitar” o moscatel roxo quando, décadas atrás, tentou plantar a variedade graúda e não pôde por uma questão legal (a ditadura de Antonio Salazar, entre 1933 e 1968, impôs uma série de regras para o plantio de uvas no país). Buscou, então, mudas do moscatel roxo em uma estação experimental da região, e daí vem um dos três vinhos com certificação de origem da adega.
A Horácio Simões promove visitas guiadas às vinhas e à adega e diferentes modalidades de degustação, sob consulta. Há um pátio para tomar um aperitivo e provar queijos e doces regionais, e o espaço interno para refeições é como uma casa de vó.
Tradição nos altos de Palmela
Filipe Cardoso apresenta a vinícola fundada pelo bisavô, Humberto, em 1912, garantindo: o sistema de produção artesanal na Quinta do Piloto é o mesmo desde o final dos anos 1930. A adega só começou a engarrafar a bebida em 2013 – cerca de 100 mil unidades por ano, enquanto a maior parte da produção ainda é vendida a granel.
O charme do moscatel de Setúbal daqui é que o enólogo lança mão de barricas antes usadas para armazenar rum, tequila, conhaque e uísque para envelhecer o vinho. Cada uma delas confere um sabor e aroma característicos à bebida. Uma garrafa do moscatel especial do Piloto chega a custar 4.500 euros.
A Quinta, alto de uma colina com vista para Palmela, dispõe de três apartamentos para hospedagem, que podem ser reservados pelo Booking ou AirBNB. As visitas guiadas com degustação vão de 12 a 50 euros por pessoa, sempre mediante agendamento.
Charme do enoturismo rural
Natureza, paz, vinho e história. Neste sítio na Serra de Grândola, é possível combinar enoturismo com turismo rural e até veraneio. A Serenada é uma quinta onde se produzem vinhos, mas que também conta com um hotel-butique de oito suítes e piscina. Fica a 15 minutos de carro da praia de Aberta Nova, e também oferece trilhas e passeios de bicicleta na natureza.
Os vinhos são obra da enóloga Jacinta Sobral, que se divide entre as rotinas de farmacêutica em Lisboa e produtora de vinhos na Grândola. Ela é filha do fundador da adega, Antonio Gomes Sobral, e tem a mesma idade das primeiras vinhas plantadas pelo pai em 1961.
É com orgulho e propriedade que ela explica cada uma de suas criações - verdadeiras raridades, já que não produz mais do que 1 mil garrafas de cada blend por ano.
Para se hospedar na quinta, os valores vão de 105 euros (suíte dupla, na baixa temporada) a 230 euros (suíte panorâmica, na altíssima temporada).
Herança na Quinta do Anjo
Venâncio da Costa Lima tinha 22 anos quando decidiu deixar o comércio de leite e cereais para dedicar-se apenas ao vinho. Um dos pioneiros da vinificação na Quinta do Anjo, fundou a adega em 1914 e morreu sem filhos, deixando o negócio para seis sobrinhos.
Toda esta história se pode conhecer ao visitar a vinícola, na zona urbana de Palmela. Sem, é claro, deixar de provar os moscatéis que são especialidade da casa. Dos 3 milhões de litros de vinhos produzidos ao ano, 300 mil são moscatel de Setúbal, que fica 18 meses no barril, sendo 50 mil do delicado moscatel roxo, que fica 3 anos – prazos que são os mínimos para que os vinhos tenham certificação de origem.
A vinha pedagógica
A sede da Casa Ermelinda Freitas, na localidade de Fernando Pó (Palmela) é uma verdadeira escola. Na “vinha pedagógica” anexa à adega (uma pequena parte da área total cultivada de 600 hectares), há exemplares de 30 castas de uvas, sendo a principal utilizada a castelão, casta mais importante da Península de Setúbal.
Na visita, se pode conhecer processos de vinificação antigos e modernos, um museu com a história da vinícola (fundada em 1920) e ainda testemunhar o engarrafamento da bebida.
A Casa é a quinta maior vinícola de Portugal, segundo o responsável pelas exportações da empresa, Márcio Freire. Hoje é administrada pela quinta geração de descendentes. As visitas com degustação incluem quatro ou cinco vinhos, com valor entre 10 e 25 euros por pessoa, dependendo das bebidas escolhidas. Precisam ser agendadas por email ou telefone: enoturismo@ermlindafreitas.pt ou +351 915 290 729.
Colônia agrícola com grife
A história da Adega de Pegões remonta ao século XIV, quando a rota que ligava o a capital portuguesa à Espanha, chamada Estrada Real, se tornou ponto de comércio importante para os viajantes. Ali, séculos depois, o Estado Novo estabeleceu a Colônia Agrícola de Santo Isidro de Pegões, que deu origem à cooperativa de mesmo nome, em 1958. Era uma estratégia do governo de Salazar para colonizar a região, e era preciso ser escolhido para viver ali. Hoje, são 100 sócios ativos que cultivam 1,1 mil hectares de vinhedos e exportam 40% da produção.
Pegões é uma boa parada para adquirir algumas garrafas. Os vinhos em garrafas de 750 ml vão de 1,50 a 15 euros.
A repórter viajou para Setúbal a convite da Comissão Vitivinícola Regional da Província de Setúbal (CVRPS)