
Compositora, musicista e cantora, Esperanza Spalding já ganhou quatro prêmios Grammy, é professora de composição musical em Harvard e está trabalhando em uma ópera com Wayne Shorter. A versão expandida de seu álbum "12 Little Spells", considerado um dos melhores de 2018 pelo "The New York Times", foi lançada em dez de maio.
Morando em Nova York, ela viaja com frequência por causa das apresentações – tanto que, há cerca de sete anos, foi forçada a repensar sua filosofia de locomoção.
"Quando estávamos fazendo 280 shows por ano, percebi que o tempo consumido pelas viagens era uma grande fatia da minha vida. Foi quando decidi aproveitá-lo da melhor maneira possível, como faria em qualquer outra situação."
"Claro que não é fácil e as coisas não são só flores. Não estou dizendo que vou sair pelo aeroporto vendo unicórnios e passarinhos cantando à minha volta. É uma situação estressante, as pessoas podem ser horrorosas, você talvez se atrase e perca coisas que são importantes... mas é preciso encará-la como parte da aventura."
Veja aqui o que não pode faltar em sua mala.
Oratório portátil: "Estudo o budismo de Nichiren Daishonin, por isso sempre levo um pequeno oratório dobrável. É um pergaminho minúsculo, com moldura de madeira, que abre feito uma cadeira dobrável, para ser lido verticalmente. Carrego também um sino e as contas para fazer os cânticos, além de um pedaço lindo de seda que estendo, cristais, incenso, tudo arrumadinho em uma sacola do tamanho de um iPhone X."
Tem alguma coisa no clima do avião que me passa a ideia de muita privacidade, mesmo sentando na poltrona do meio.
ESPERANZA SPALDING
cantora, musicista e compositora
Fone de ouvido com cancelamento de ruído: "Às vezes gosto de ouvir minha própria música. É um momento que tiro para refletir e repassar o que já fiz. Tem hora que acabo achando exagero e me sentindo meio narcisista fazendo isso, mas acho que é como repassar um diário, relembrando suas opiniões em determinada época, o que era importante. É um espaço privado, mesmo que você se veja cercada por centenas de pessoas. Tem alguma coisa no clima do avião que me passa a ideia de muita privacidade, mesmo sentando na poltrona do meio."
Neosporin: "Adoro aplicar Neosporin na parte interna das narinas antes de entrar no avião. Ouvi dizer que é uma boa opção para se proteger de qualquer coisa que por acaso esteja circulando ali dentro."
Livros: "Tenho a impressão de que, sob vários aspectos, sou meio que uma planta; o que sai de mim, o que floresce aqui dentro, ano após ano, é a expressão direta daquilo a que me dedico, daquilo em que estou mergulhada. Leio muito quando estou no avião e no trem. Faz parte do meu ofício; se estou lendo poesia ou estudos religiosos, mitologia, ficção, não ficção, ficção científica, não importa – a leitura se tornou meio que uma marca do que está por vir, do que estou por fazer. Dois livros que acabei faz pouco tempo e de que gostei muito foram 'Psychomagic: The Transformative Power of Shamanic Psychotherapy', de Alejandro Jodorowsky, e 'The Fire Next Time', de James Baldwin. É o tipo de leitura que vira referência, à qual sempre volto."
Baixo elétrico: "Tenho de despachar. Aquela coisa de não saber se teria espaço para ele no compartimento acima dos assentos não dava, me estressava muito. Mas aí está uma coisa na qual ainda não consigo achar graça nenhuma."
Esta entrevista foi resumida e editada para facilitar a clareza.
Por Nell McShane Wulfhart