
Durante uma viagem de dez dias pela Índia, Farryn Truen idealizou um ambicioso roteiro para Déli, Jaipur, o Parque Nacional Ranthambore, Alwar e Agra, que incluía um item de luxo: ela e seu agora marido, Jake, contrataram um motorista particular para a viagem. Arcar com essa despesa significou abrir mão de algumas coisas – não passearam de balão em Jaipur – e ficar em hotéis mais baratos em certos lugares.
Mas é a extravagância que Truen, consultora de marca e viajante costumaz de 33 anos e radicada em Nova York, faz questão de pagar em uma viagem: uma maneira de conhecer melhor o lugar que ela visita no seu próprio ritmo, fazer conexões locais e evitar todo o tempo perdido indo e voltando e nos aeroportos.
"Meu marido e eu costumamos dizer que nossas refeições preferidas foram feitas em postos de estrada, porque é onde conseguimos ver a vida real. Estar imersa em um lugar é meu luxo definitivo", declarou Truen.
Entre viajantes experientes, ter uma extravagância seletiva – escolher uma coisa na qual vão gastar bastante dinheiro, enquanto economizam em todo o resto – é uma estratégia comum para aproveitar uma viagem ao máximo. O gasto extra não precisa ser muito alto; podem ser alguns milhares de dólares em um bom quarto de hotel – ou centenas de dólares, ou menos, em uma experiência local. O propósito é escolher de forma consciente alocar uma quantia a mais em uma parte da viagem para torná-la mais fácil, memorável ou envolvente.
Os pequenos prazeres podem estar em qualquer parte da viagem: hotel, excursões, uma refeição especialmente inesquecível. Para alguns, melhorias práticas – como um voo sem escala, um carro alugado melhor – fazem toda a diferença. Chris Jackson, fotógrafo da Getty Images radicado em Londres, recomenda bons fones de ouvido antirruído. "Valem muito a pena", confirmou Jackson sobre o seu Bose Quietcomfort 35 II (349,95 dólares, ou 1.300 reais). Às vezes, ele nem os usa para escutar música, apenas para bloquear o barulho dos outros passageiros.
Elaine Welteroth, de 32 anos, escritora e antiga editora-chefe da revista "Teen Vogue", sempre busca por alguma lembrança vintage fabulosa. No armário, há alguns vestidos da década de 40 comprados em uma loja em Amsterdã por 60 dólares (230 reais) cada e uma coleção de casacos de pele falsa da Calvin Klein em que "gastou dinheiro demais" em Nova Orleans. "Cada item é absolutamente exclusivo daquele lugar e momento da minha vida", explicou.
Luxos estratégicos podem ser uma maneira de gastar muito e economizar ao mesmo tempo. A atriz, escritora e apresentadora Busy Philipps nem sempre viaja com dinheiro contado, mas, quando é o caso, o foco é encontrar o resort perfeito e economizar no quarto. "Pegamos o quarto mais barato no melhor hotel. Não me importo de dormir nas férias em um lugar pequeno", justificou.
Ano passado, ela e a família se hospedaram no Four Seasons Resort Punta Mita, no México. Os quatro se apertaram em um quarto standard (que pode variar de 450 a 2.200 dólares por noite – 1.700 a 8.500 reais –, dependendo da estação, segundo o hotel) e as duas filhas dormiram em um sofá-cama. Com o mesmo dinheiro, ela poderia ter alugado um quarto maior em um resort menos luxuoso, mas não teria acesso às mesmas praias preservadas e piscinas de borda infinita. E pagar por uma acomodação maior no Punta Mita teria lhe custado o dobro. (Ela também recomenda uma massagem na praia, assim você tem um momento de lazer sem sacrificar seu tempo de descanso.)
Nos Estados Unidos, estima-se que os gastos com viagens, incluindo transporte, hospedagem e atrações turísticas, cheguem a 580 bilhões de dólares (mais de dois trilhões de reais) em 2018, aumento de 23 por cento em relação a 2013, como relatado pela empresa de pesquisa de mercado Euromonitor International. Uma pesquisa que analisou os hábitos de viagem de famílias americanas em 2017 descobriu que mais de oito em dez entrevistados gastam de forma mais extravagante no local de destino. O estudo, conduzido pela Family Travel Association (Associação de Viagens em Família) e pelo Tisch Center for Hospitality (Centro Tisch de Hospitalidade) da Escola de Estudos Profissionais da Universidade de Nova York, entrevistou 1.599 pessoas, cada um representando uma família.
Gastar dinheiro para ganhar tempo pode trazer felicidade, mas é algo que muitas pessoas hesitam em fazer. Ashley Muir Bruhn, moradora de Davis, na Califórnia, recomenda pagar um pouco a mais por um voo direto. A mãe de duas crianças e autora do blog Hither & Thither argumenta que o dinheiro economizado em conexões não vale os riscos adicionais. Perder o próximo voo ou a bagagem é uma ótima maneira de arruinar a viagem.
Soma-se a isso o custo psicológico, especialmente com crianças (no caso dela, 5 e 7 anos). Ao comprar voos com escala, "você deixa a parte menos divertida do trajeto muito mais extensa", disse Muir Bruhn, de 40 anos. A família faz de duas a três grandes viagens por ano e se esforça muito para conseguir voos diretos. Em vez de pegar o avião em Sacramento, onde está o aeroporto mais próximo, viaja até Oakland ou mesmo San Francisco para um voo sem escalas.
Patrick Janelle, cuja página no Instagram sobre gastronomia e viagem, @aguynamedpatrick, conta com 439.000 seguidores, prefere gastar em um bom carro alugado. "Com um pouco mais, você pode deixar uma parte significativa da viagem muito mais confortável", ponderou. Janelle, um nova-iorquino de 37 anos, chegou a alugar uma SUV Volvo em Los Angeles pela Sixt Rent, empresa alemã que oferece carros luxuosos. Ele contou que desembolsou cerca de 360 dólares (1.300 reais) para quatro dias e planejava o dia em conferências telefônicas enquanto dirigia.
Na Europa, Janelle prefere scooters. A vespa original azul real que alugou em Cannes, ao custo de 280 dólares (pouco mais de mil reais), foi o objeto de cena perfeito para um de seus posts no Instagram. "Estou sempre pensando quais detalhes da minha vida em geral dariam uma bela foto ou o que posso fazer para que se tornem uma boa foto", confessou Janelle.
Quero acordar em um lugar que me traga alegria. Quanto a isso, sou inflexível.
UKONWA OJO
executiva de marketing
Normalmente, a hospedagem acarreta mais gastos com extravagâncias, seja em um AirBnb bem localizado (e decorado) ou num hotel quatro estrelas. "Quero acordar em um lugar que me traga alegria. Quanto a isso, sou inflexível", afirmou Ukonwa Ojo, executiva de marketing radicada em Nova York. Antes de reservar uma acomodação, pesquisa exaustivamente e lê críticas para garantir que vai receber um serviço personalizado. Suas estadas vão desde um quarto com vista para o mar no Sofitel Bahrain, que não deixa a conta no vermelho (custando até 320 dólares,1.200 reais, por noite, segundo o hotel), até uma experiência zen luxuosa no Grand Velas Riviera Maya no México, com tudo incluso, (a partir de 434 dólares, 1.600 reais, por pessoa em quarto duplo, conforme informado pelo hotel).
Ojo se lembra com carinho de uma estada no Taj Exotica nas Maldivas, um resort de luxo erguido sobre uma lagoa (entre 1.109 e 1.725 dólares por noite – 4.200 a 6.600 reais – em quarto duplo, informou o hotel): "Não dava nem vontade de sair do quarto, era simplesmente muito especial", descreveu Ojo.
O jornalista Dan Frommer, de 36 anos, fundador de um site e boletim on-line sobre programas de recompensas, Points Party, faz o impossível durante uma viagem de negócios para ganhar pontos suficientes que lhe garantam uma estada luxuosa na próxima viagem de férias. Quando foi a São Francisco a trabalho, no ano passado, hospedou-se em um Hyatt para conseguir os pontos, mesmo que este fosse em Emeryville, do outro lado da baía, que lhe custava uma longa viagem de ônibus todas as manhãs.
A recompensa? "Estou com essa vista de Tóquio", falou pelo telefone do 48º andar do hotel Andaz, cujos quartos mais simples custam entre 360 e 1.100 dólares por noite (1.300 a 4.200 reais) dependendo da época do ano, informou o hotel. A quantidade de pontos que precisou gastar também foi alta – cerca de 25.000 por noite –, mas valeu a pena, confirmou.
"Quando se está do outro lado do mundo, com a rotina de sono toda bagunçada, é ótimo voltar para um quarto com design e móveis de primeira e ainda uma linda vista", concluiu Frommer.
Por Elizabeth Holmes