Por Geoffrey Morrison
Há poucas coisas que ajudam mais a reduzir o estresse de viagem do que saber montar uma mala enxuta. Já vi casais gritando, nervosos, tendo que carregar malas imensas pelas ruas de paralelepípedos da Sicília, viajantes minúsculos quase engolidos por mochilas gigantescas em estações ferroviárias, da mesma forma que me embasbaquei ao ver turistas correndo na rua, desesperados, tendo que catar as peças que escaparam das sacolas quebradas. A tragédia do excesso de bagagem não conhece limites.
Antes de pensar em reduzir o volume da mala, porém, é preciso saber o que não colocar dentro dela.
Conversor de voltagem
Conversor de voltagem é coisa do passado. O carregador, também conhecido como "verruga de parede" ("wall wart") que vem com praticamente todo aparelho eletrônico, seja telefone, tablet, leitor eletrônico, até mesmo a maioria dos laptops, já converte toda a voltagem de entrada de que necessita. Dê uma olhada na lateral da peça; a informação ali deve ser algo do tipo "AC 100-240V 50/60Hz", ou seja, aceita qualquer voltagem entre 100 e 240 volts a 50 ou 60 ciclos. Isso vale para o seu 120V/60Hz e também para o 100V/50Hz de Tóquio, o 230V/50Hz de Londres e até o 220V/60Hz de St. John.
O que você pode levar é um adaptador de tomada baratinho, para garantir que as duas hastes verticais chatas dos plugues norte-americanos se encaixem na versão de qualquer lugar onde se encontre – redondo na Europa, em ângulo na Austrália, retângulos enormes no Reino Unido, e por aí vai. Com US$ 10 dá para comprar vários de um estilo específico de região/país para caber em todos os adaptadores; pelo dobro, a versão "universal", um pouco mais bojuda, pode receber qualquer tipo de haste e geralmente funciona em qualquer lugar.
Só que há exceções: secador de cabelo, quase tudo que tem motor e laptops mais antigos, com carregadores que parecem verdadeiros tijolos. Se não tiver a variação de voltagem listada acima, ou tiver apenas um fio direto da parede para o aparelho (ou seja, não tem adaptador), aí talvez não funcione. Para esses equipamentos, talvez necessite de um conversor de voltagem, mas é bem provável que não funcione, ainda que consiga um.
Secadores de cabelo e a maioria de itens de banheiro
Mesmo se eu não fosse careca desde a adolescência, ainda assim o aconselharia a não andar com um secador. Como já falei ali em cima, as chances são bem grandes de seu aparelho nem sequer funcionar no Exterior. Deixe em casa. Praticamente todo hotel e albergue, e grande parte dos Airbnbs, terá um para lhe oferecer.
O mesmo vale para coisas como xampu e sabonete. Hotéis e Airbnbs com certeza oferecem esses itens, embora sejam menos comuns nos albergues. A menos que use produtos específicos de que não possa ficar sem (e tudo bem, eu também uso), você pode pular essa parte. Andar com esses itens também aumenta as chances de um deles vazar dentro da mala – e aí, além de tudo, vai ficar com a cueca cheia de espuma.
Também não precisa se preocupar com frascos de remédios que são facilmente encontrados em qualquer farmácia, como analgésicos. É provável que possa comprá-los a qualquer lugar que for – basta ter em mente o nome do remédio, e não da marca. "Advil" pode ser meio complicado de achar aqui e ali, mas o "ibuprofen" é universal. (O Google também ajuda um bocado quando se quer descobrir o nome de um remédio específico na língua local.)
Porém, alguns medicamentos, analgésicos de doses longas e praticamente tudo o que tiver receita, é melhor levar. Só não se esqueça de fazê-lo em segurança e de forma legalizada.
Um punhado de dinheiro
Você não precisa andar com dinheiro vivo. Há caixas eletrônicos por todo lado e geralmente são mais baratos em comparação aos dos EUA. Sim, talvez tenha que pagar uma taxa, mas é bem provável que seja menor do que a das casas de câmbio, principalmente as do aeroporto.
A menos que você esteja indo para um lugar totalmente rural, deve encontrar um caixa com facilidade. Além disso, dependendo do país, o comércio pode até preferir trabalhar só com cartão.
Ao usá-lo, alguns lugares lhe darão a opção de pagar na moeda local ou na do seu país de origem. Essa segunda provavelmente lhe custará mais, pois certamente terá um câmbio desvantajoso e terá que desembolsar uma taxa pelo "privilégio". A menos que seu cartão cobre taxas internacionais absurdas, pagar em moeda local sai mais em conta.
Opções móveis como o Apple Pay e o Google Pay, ou aplicativos como o Venmo e o Square, nos quais você pode usar o telefone para comprar, estão se tornando cada vez mais populares, nos EUA e no Exterior; apesar disso, não são ainda tão comuns a ponto de se poder contar com ele como principal forma de pagamento. A disponibilidade vai depender não só do país em que você está, mas da loja em que vai comprar.
A maioria das roupas em que está pensando em levar
Você não precisa de uma roupa diferente para cada dia da viagem. De fato, a menos que tenha que levar algo volumoso que seja específico para o destino – um casaco reforçado para ver a aurora boreal, nadadeiras para mergulhar na Grande Barreira de Coral –, dá para se virar bem em qualquer duração com uma mala de mão e uma bolsa/mochila grande. Minha viagem mais longa até hoje durou pouco menos de cinco meses, e eu levei uma mochila de 40 litros (mais ou menos como a mala de mão), e outra, de 15, para a câmera e outros eletrônicos.
Se vai ficar fora mais de uma semana, tire duas horas durante a viagem para lavar roupa. Praticamente todo hotel, albergue e Airbnb tem máquina, secadora e apetrechos, nas próprias instalações ou nas imediações. (Mas evite os custos exorbitantes da lavagem do hotel.) Na pior das hipóteses, dá para lavar na pia/banheira do quarto, mas isso eu tive que fazer pouquíssimas vezes.
O que levar? Eu geralmente ponho seis camisetas, cuecas e pares de meia, mais jeans e shorts. (Talvez valha a pena incluir uma calça mais "em ordem", caso saia à noite.) Conheço gente que leva menos que isso, mas, em média, esse parece ser o volume mais comum entre os viajantes com quem esbarro por aí.
Qualquer coisa que você "possa" usar
Talvez você saia à noite, e aí queira sapatos finos; ou, quem sabe, vá cavalgar, e aí tenha que levar a sela. Sino de mergulho, asa delta? O mais provável, porém, é que não precise nada disso. O pensamento mais arraigado e insidioso na hora de fazer a mala é: "Talvez eu vá usar isso". Essa ideia – e até eu encasqueto com ela antes de qualquer viagem – geralmente resulta em volume excessivo e peso morto.
Examine cuidadosamente sua mala. Vai mesmo querer carregar esse peso pelas vielas estreitas da Europa ou as ruelas lotadas da Ásia durante duas semanas só para garantir que – vai saber – vai poder aquilo durante uma hora, duas? Toda pessoa que conheci com excesso de bagagem acabou não usando nem metade do que levou. Se mudarem os planos e acabar precisando de alguma coisa especial, como uma caminhada inesperada em uma geleira, é mais que certo que haja opções próximas que o ajudem a se preparar.
Assim, deixe a comida (a não ser as guloseimas para o avião), travesseiros, aquele terceiro par de sapato, aquele segundo cinto, a bota para andar na cidade, oxfords ou escarpim para andar no mato e por aí vai. Capa de chuva, beleza, mas duas sombrinhas caso você perca uma é demais.
Um parâmetro bom é o seguinte: se ficar em dúvida, é porque não vai precisar. O pior que pode acontecer é você ter que comprar outro – mas aí vai ter uma peça nova com uma história para contar, quer coisa melhor?