Para muitos turistas em Paris, pedir um copo de vinho chega a ser intimidador, um verdadeiro choque embaraçoso com um cardápio longo e minucioso e o olhar arrogante de algum sommelier.
Há três anos, porém, vem surgindo um novo tipo de wine bar na cidade, principalmente na Margem Direita: casas despojadas que combinam rótulos cuidadosamente escolhidos, de preços acessíveis, com pequenos pratos.
Longe das armadilhas formais da gastronomia tradicional francesa, esses bars à vins comunais oferecem uma nova forma de saborear e aprender mais sobre vinhos - comendo e bebendo. Como a maioria não aceita reservas, também oferece a chance de se conhecer novos lugares sem um planejamento de semanas, às vezes até meses.
- A França está passando por uma mudança cultural. Antes as pessoas só saíam se fosse para jantar. Hoje, é perfeitamente aceitável se encontrar para dividir uma garrafa de vinho e um pratinho de alguma coisa - diz Joshua Adler, dono da Paris Wine Company, loja online de vinhos com sede na capital francesa.
Pois beliscar e bebericar é o que se faz no Vivant Cave (43, Rue des Petites Écuries, vivantparis.com), bem no coração da Margem Direita. Inaugurado em 2011, é um espaço elegante, com iluminação indireta, dominado por uma prateleira de vidro e um longo balcão de mármore onde os garçons servem exclusivamente vinho natural, com o mínimo de aditivos.
Ao contrário de seu "restaurante irmão", a casa do mercado gastronômico Vivant Table, também aberta em 2011, o cardápio é próprio para o compartilhamento, com itens como mussarela de búfala defumada, travessinhas de fatias finíssimas de morcela e beterraba (cada prato sai por 12 euros). Os mais famintos certamente apreciarão a pequena seleção de pratos principais, como o coelho refogado com polenta (16 euros).
- O público quer produtos excepcionais, um chef criativo que não seja cheio das invencionices, e um clima descontraído onde possam se divertir - afirma Pierre Jancou, dono do Vivant Cave, Vivant Table e um dos fundadores do movimento.
Vivant Cave
Foto: Corentin Fohlen/The New York Times
Já à Margem Esquerda, perto da Place de l'Odéon, o Ambassade de Bourgogne (6, Rue de l'Odéon, ambassadedebourgogne.com) é um bar minúsculo dedicado ao vinho e aos produtos da Borgonha. Inaugurado em 2011, tem mesas de tampo de mármore branco onde os clientes podem degustar os melhores exemplares de Burgundy, tintos e brancos, no copo (de 4 a 16 euros). O cardápio leve oferece comidinhas tradicionais da região, como almofadinhas de queijo gougère (4 euros), terrina de jambon persillé (9 euros) ou uma seleção de seus famosos queijos, como Époisses, Chaource e Cîteaux (9 euros).
Já o Verjus Bar à Vins (47, Rue de Montpensier, verjusparis.com) dá um toque norte-americano ao wine bar francês. No anexo de seu elegante restaurante, o Verjus, Braden Perkins, o norte-americano que é o chef e o dono, oferece interpretações modernas de clássicos como nuggets de frango (8 euros) enquanto Laura Adrian, a sommelier, serve as opções enxutas da lista escrita a giz na lousa do bar.
Opções variadas
Algumas casas se arriscam em outros gêneros. Confira
- Perto da margem do Canal Saint-Martin, o Le Verre Volé (67, rue de Lancry, leverrevole.fr) também faz as vezes de cave à manger, uma combinação de loja de vinhos e bistrô. É um dos poucos estabelecimentos do gênero que exige reserva, mas quem faz o planejamento prévio é recompensado com pratos como vieiras refogadas no alho (9,50 euros) ou linguiça grelhada com purê de batata e salada salpicada de mostarda (13 euros), que descem bem com os vinhos naturais que cobrem as paredes do salão minúsculo e são servidos a preço de varejo, mais uma taxa de sete euros.
Le Verre Volé
Foto: Corentin Fohlen/The New York Times
- Os fãs do movimento de vanguarda vão apreciar a estética impecável do Le Dauphin (131, Avenue de Parmentier, restaurantledauphin.net), também perto do canal, uma caixa de espelhos e mármore branco projetada por Rem Koolhaas e que lembra um banheiro sofisticado. "Descendente" do popular bistrô pós-moderno Chateaubriand, serve pratos pequenos preparados pelo chef basco Inaki Aizpitarte que refletem a decoração progressiva - um desfile de sabores ousados como o risoto de tinta de lula perfumado com casca de limão (11 euros) ou o tempurá de camarão apimentado (9 euros) servido com pasta de yuzu. Não aceita reservas para o segundo serviço, o que significa que os clientes começam a chegar lá pelas 21h30min e ficam bebericando no balcão até conseguirem uma mesa.
- O Au Passage (1, bis passage Saint-Sébastien), perto do Cirque d'Hiver, redefine o café parisiense clássico, combinando um balcão torto de madeira e um piso barulhento dos anos 50 com escolhas ecléticas de vinhos de produtores independentes e pratos pequenos e criativos.
- Nossa intenção era criar uma atmosfera festiva e aconchegante. Não oferecemos opções rígidas, mas um lugar tranquilo no qual servimos produtos de procedência garantida. Queremos manter a tradição com um toque de modernidade - conta Audrey Jarry, sommelier e uma das donas do restaurante.