(Fotos: Dave Yoder/The New York Times) Em Monterosso al Mare, as pedras podem servir para namorar em meio à bela vista
Há anos queria visitar aquela região do litoral, em parte por causa de um livro de memórias da época vitoriana escrito por uma viajante intrépida chamada Margaret Fountaine, Love Among the Butterflies, sobre sua busca pelas sublimes paisagens da Itália e seus belos homens. "Não é à toa que a natureza das pessoas do Sul é rápida, instintiva e apaixonada - todas as paisagens à sua volta são de uma beleza tão sensual!", exclama ela.
Turistas nadam em meio às rochas em Manarola
A verdade é que havia opções demais: das ruas de pedra, os toldos nos atraíam tanto à direita como à esquerda, e o aroma da lagosta e do "aglio e olio" pairava no ar à volta das mesas. Um festival do vinho na praça nos distraiu, mas depois de provarmos meia dúzia de copos do vermentino vigoroso produzido na região, seguimos uma luz amarelada que brilhava em uma travessinha da Via Roma, saída do Ristorante Al Carugio. Ali, em questão de minutos, estávamos sendo servidas pelo filho do dono. Não demorou a saborearmos um belo fettuccini com mexilhões suculentos, recolhidos nas águas de La Spezia, e um "trofie" macio - a massa típica da região - irresistível com pesto (aliás, uma invenção da Ligúria).
Esforço que vale a pena O pacato local de Riomaggiore, que encanta turistas
É tão bom, em terras estranhas, onde você tem medo de deixar de ver os lugares mais bonitos, ter um guia local que saiba tudo. O único problema é que, familiar com os atalhos íngremes desde menina, Miriam saiu em disparada na nossa frente, mais parecendo um cabrito montanhês, completamente à vontade, enquanto quase morríamos sem ar.
Veja a localização no mapa abaixo:
Foi um golpe de sorte minha a bagagem ter se perdido quando fui para a Itália, em julho, para visitar os vilarejos de Cinque Terre - na verdade, cinco aldeias pitorescas de tirar o fôlego, no litoral da Ligúria, cheias de casinhas em tons pastel em meio aos terraços escarpados sobre as águas límpidas do Mediterrâneo. Só o que eu tinha comigo eram os olhos e os pés e, nos dias seguintes, não precisaria de mais nada. Sem peso para carregar, poderia entrar e sair com facilidade dos trens e sentir até pena dos que carregavam peso à minha volta, por mais que sentisse falta da minha sandália de caminhada.
Enquanto planejávamos a viagem, minha amiga e eu nos atrapalhamos com o excesso de opções. Que vilarejo visitar primeiro? E depois? Como chegar lá, a pé, de barco ou trem? A mala desaparecida facilitou um pouco as coisas: a primeira noite passamos em Monterosso, esperando o telefonema da companhia aérea (que nunca aconteceu).
Por volta das 19h, descemos para o centro histórico para ver o que a boa sorte nos traria. O sol ainda brilhava, e as paredes de pedra ao longo da Via Corone irradiavam o calor de mais de 30ºC do dia. Fizemos uma pausa para um aperitivo no pátio do Bar Bagni Alga, que dava para o amontoado de guarda-sóis e espreguiçadeiras verdes e laranjas na praia lá embaixo, e aproveitamos para admirar os adolescentes intrépidos que se jogavam dos despenhadeiros para cair no mar com um estrondo e muita espuma.
Animadas, retomamos a caminhada pelo centro, passando por um campo de bocha onde os velhinhos jogavam sem pressa, e atravessamos a arcada rumo à Piazza Garibaldi e, depois, à Piazza Colombo, em busca da refeição perfeita.
Por acaso, uma mulher na mesa vizinha à nossa no restaurante, Miriam Rossignoli - que não só é natural de Monterosso como também fotógrafa -, ofereceu-se para nos guiar no dia seguinte na caminhada ao longo do Sentiero Azzurro, a trilha costeira entre os vilarejos (imaginem os degraus de uma pirâmide, só que ao encontro de uma montanha verdejante).
Miriam contou que o caminho entre Monterosso e Vernazza tinha sido completamente reconstruído depois de um deslizamento recente, mas o que geralmente liga todas as cinco aldeias acabava na cidadezinha seguinte, Corniglia, no alto da colina.
Ela garantiu que ainda era possível visitar todas as cidades de trem ou de barco (exceto Corniglia, que não tem porto) e, embora o Sentiero Azzurro tivesse sido interrompido pelo desmoronamento de rochas, os caminhantes mais teimosos ainda faziam o percurso entre Monterosso e Riomaggiore nas picadas no alto da montanha. E insistiu para que pelo menos visitássemos a minúscula Volastra, acessível a pé ou micro-ônibus a partir de Manarola, onde poderíamos admirar os pomares bem cuidados, olivais e vinhedos. O caminho começava bem ali ao lado do nosso hotel, ela disse. Será que poderia nos buscar na manhã seguinte e nos guiar até Vernazza? Felizes, aceitamos a sugestão.
O passeio, que supostamente deveria durar menos de duas horas, para nós levou três. Fiquei aliviada, mais tarde, conversando no trem com uma texana de 17 anos chamada Claudia, de saber que ela também tinha achado o percurso difícil: "Fiquei superfeliz de ter ido, mas no meio do caminho só pensava em me matar", disse ela. Exatamente.
Apesar disso, que vista! Toda hora que parávamos para recuperar o fôlego, bebíamos a paisagem com os olhos - cataratas enfeitando as encostas, limoeiros com os galhos pesados, cheios de frutos, galhos de oliveiras enfeitados com redes cor de laranja.
Famílias em meio aos turistas
No dia seguinte, a caminho do Ristorante Miky, na Via Fegina, vendo os casais passando de mãos dadas, fiquei imaginando por que alguns dos meus amigos mais viajados tinham me dito que eu poderia achar a nobre região de Cinque Terre "turística"? Isso, vejam só, vindo de gente que toda hora vai para Aspen e Las Vegas. Sim, havia turistas, mas a maioria espalhada nas ruazinhas, atrás de seus interesses pessoais.
Ao nos sentarmos à mesa do pátio do Miky, maravilhadas com o filé de peixe com berinjela e caviar de nozes, não nos sentimos nem um pouco incomodadas com famílias felizes à nossa volta, quebrando a crosta delicada da pizza sobre tigelas de risoto perfumado, ou pelos casais em lua-de-mel que se debruçavam sobre as mesas olhando apaixonadamente um para o outro. Não nos irritamos nem com as crianças que brincavam sob as palmeiras da Via Fegina, rindo enquanto tomavam sorvete. Nem um pouquinho.